São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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Casa Modernista não reabre após obras

Estado gastou cerca de R$ 1 milhão no ano passado com reforma feita no imóvel histórico da zona sul de São Paulo

Antes do fim do restauro, administração da casa será transferida à prefeitura, que instalará no local um centro de estudos modernistas

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo do Estado de São Paulo gastou cerca de R$ 1 milhão no ano passado para reformar a histórica Casa Modernista da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, mas o local ainda está fechado ao público.
O restauro da casa, tombada pelo patrimônio histórico, não foi sequer concluído. Na fachada ainda há sinais da obra: tapumes cobrem a arquitetura projetada e construída entre 1927 e 1928 pelo arquiteto ucraniano modernista Gregori Warchavchik.
Agora, foi definida nova mudança de planos, mas sem prazo definido. A administração da casa será transferida para a prefeitura da capital paulista, que concluirá a reforma para instalar no local um centro de estudos do período modernista -que se iniciou no Brasil com a Semana de Arte Moderna, no ano de 1922.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura informou que o restauro foi iniciado porque a casa, de reconhecido valor histórico, estava em situação precária, mas não esclareceu por que a obra não foi concluída.
Não foi a primeira vez que o restauro do prédio começou e não terminou. Em 2001, o governo do Estado de São Paulo anunciou a obra. A casa transformou-se, depois, em oficina cultural, e sua administração foi transferida para uma ONG (organização não-governamental). O imóvel está fechado há pelo menos dois anos.
Em 2004, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) reabriu o jardim da casa, formado por 13 mil m2 de árvores e plantas tropicais, um verdadeiro parque encravado na Vila Mariana. Agora, a prefeitura anuncia que o jardim será reformado e reaberto, mas não há data para que isso aconteça.

Tombada
A casa foi tombada em 1984 pelo Condephaat, o conselho do patrimônio histórico estadual. Posteriormente, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) e o Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) reconheceram o tombamento.
O reconhecimento como patrimônio histórico se deu após uma queda de braço entre os herdeiros do casal Gregori Warchavchik e Mina Klabin -foi ela quem projetou o jardim- e moradores da região.
Os proprietários queriam transferir o terreno para uma construtora, que pretendia erguer quatro torres residenciais no local. Os moradores protestaram -chegou a ser criada uma Associação Pró-Parque Modernista- e conseguiram o tombamento. O negócio foi desfeito, e o Estado acabou assumindo a área.
A importância histórica da casa aponta para o arquiteto autor da "obra" e para o período de sua construção. O imóvel é considerado a primeira casa em estilo modernista do país.

Residência
O ucraniano Warchavchik migrou para o Brasil em 1923, aos 27 anos, após se formar em arquitetura na Itália. Em 1927, casou-se com Mina Klabin, que vinha de uma família integrante da elite paulista.
O arquiteto, então, projetou a casa na Vila Mariana para morar com a sua mulher. A casa foi inaugurada em julho de 1928, com destaque na imprensa da época e protestos de moradores, que repudiavam a arquitetura de linhas modernas, paredes lisas e janelas horizontais. Para garantir a sua privacidade, o casal construiu um muro alto em volta do terreno.
Warchavchik é autor dos projetos dos clubes Paulistano, Hebraica, Tietê e Pinheiros, em São Paulo, e do Iate Clube de Santos. Ele morreu em São Paulo em julho de 1972.
Suas concepções arquitetônicas foram colocadas em prática à custa, às vezes, de um "jeitinho brasileiro". A prefeitura não aprovava suas fachadas lisas. Para que os projetos fossem aprovados, ele fazia modificações, mas construía do jeito que havia pensado originalmente. Para obter as licenças para ocupação, o arquiteto dizia que a obra estava ainda inacabada por falta de recursos.


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