São Paulo, Domingo, 06 de Junho de 1999
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VISÃO POLICIAL
Coronel afirma que nem segurança privada, como de bancos ou empresas, deveria poder portar armas
Chefe da PM quer proibição mais rígida

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, coronel Rui César Melo, apóia a iniciativa do governo federal de proibir a venda de armas de fogo e vai mais longe: acha que a limitação deveria atingir também vigilantes particulares, como os de bancos e os de empresas.
Pela proposta encaminhada pelo Ministério da Justiça ao Congresso, é consentida a venda de armas e de munição para empresas de segurança privada.
O coronel Melo afirma que a lei, caso seja aprovada, só será eficaz se houver uma ação conjunta das Forças Armadas, da Polícia Federal e das polícias estaduais no combate ao contrabando de armas.
Mas ele acha que o projeto pecou ao não prever exceção para os praticantes de tiro. A seguir, os principais trechos da entrevista com o coronel Rui César Melo.

Folha - O senhor é favorável à proposta de proibição de venda de armas de fogo no Brasil?
Coronel Rui César Melo -
Como polícia, a gente entende que qualquer iniciativa no sentido de coibir o uso de armas é positiva. O projeto é bom. É mais um estímulo para diminuir esse grau exacerbado de violência na nossa sociedade.
Folha - A lei poderia ser mais ou menos abrangente?
Melo -
A lei, na verdade, não deveria permitir (a venda de armas de fogo) a guardas particulares. O guarda bancário, por exemplo, não precisa ter uma arma. Até porque hoje todos os guardas bancários são instruídos a não atirar dentro do banco. Seria mais inteligente que ele estivesse à paisana e que, em vez de estar armado com revólver, estivesse armado com celular. Ele poderia acionar a polícia.
Folha - O senhor acredita que a lei poderá estimular o contrabando de armas?
Melo -
Se você proibir a venda de armas de fogo, você fecha uma torneira, que é a da venda de arma regular no mercado interno. Aí vem a outra parte, o contrabando, que é uma coisa que tem de ser combatida a todo tempo. No entanto, a maior parte das armas apanhadas com bandidos é furtada ou roubada, não contrabandeada.
Folha - E como fazer isso?
Melo -
Deverá haver um esforço maior das autoridades responsáveis pelas fronteiras e pela segurança nos portos e aeroportos. No caso, a Polícia Federal e até mesmo as Forças Armadas. As Forças Armadas estão disponíveis para auxiliar a PF, que tem pouco efetivo. Tem de haver esforços coordenados, até para que não se tenha perda de energia no sistema.
Folha - Que ponto da proposta poderia ser aperfeiçoado?
Melo -
Ela deveria fazer uma ressalva para as pessoas que se dedicam ao esporte olímpico de tiro ao alvo. A lei deveria prever essa exceção.
Folha - Para complementar a renda, muitos policiais militares fazem bico de segurança utilizando uma arma particular. O senhor acha que a proibição da venda de armas implicará a redução dos bicos, uma vez que os PMs não poderão mais adquirir armas próprias?
Melo -
Não acredito que a lei possa diminuir a prática do bico. Ela (prática do bico) será encurtada substancialmente a partir do momento em que o policial tiver um salário melhor para poder se sustentar e sustentar sua família. No momento em que tiver salário, o bico deixará de ser relevante, não digo que ele acabará totalmente. Mas quero deixar bem claro que o bico continua sendo uma atividade proibida.


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