São Paulo, Domingo, 06 de Junho de 1999
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Novas pesquisas municiam os dois lados

da Reportagem Local

Duas pesquisas recentes que buscam detalhes inéditos sobre a violência e o uso de armas, realizadas no Rio de Janeiro, fornecem argumentos pró e contra a proposta de proibição elaborada pelo governo.
As duas pesquisas foram feitas pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião), com apoio da Secretaria da Segurança Pública do Rio.
Uma delas pesquisou boletins de ocorrências de diversas modalidades de crime registrados nas 36 delegacias de polícia da capital no mês de março de 98. Foram incluídos crimes cometidos com e sem arma de fogo.
Foi ali que surgiu o primeiro argumento pró-proibição, na interpretação dos autores do estudo.
Das vítimas fatais registradas, 11,7% foram mortas em brigas, entre conhecidos ou desconhecidos.
Para Ignacio Cano, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e pesquisador do Iser, isso derruba um tabu. "Isso mostra que é falso o argumento de que há pessoas de bem e bandidos. Muitas pessoas de bem perdem a cabeça e entram em uma briga. Só que, se houver uma arma no meio, é grande a chance de a briga, em vez de acabar em tapas, acabar em tiroteio, geralmente com mortos."
Dos 15 casos de mortes resultantes de brigas registrados na pesquisa, 11 foram fruto de agressões a bala (leia quadro nesta página).
A outra pesquisa fornece argumentos nos dois sentidos.
Foi feita sobre o universo de 19.626 armas apreendidas pela polícia, também na capital, nos últimos dois anos e meio, até março último, devido ao uso em atos ilegais ou a flagrantes de porte ilegal.
A análise dos dados das armas mostrou que 72,9% das armas apreendidas foram produzidas no Brasil. Ou seja, isso contradiz a tese de que quem comete crime se abastece com armas vindas do exterior por meio do contrabando.
Por essa hipótese, esse canal de entrada continuaria oferecendo armas aos bandidos, mesmo com a vigência da nova lei, deixando os cidadãos desarmados à sua mercê.
Mas há alguma verdade nisso, também. Entre as armas apreendidas, diz Cano, muitas haviam sido exportadas pela indústria nacional para Paraguai e Argentina e depois repatriadas, por meio de contrabando, para grupos criminosos.
O dado, afirma, revela a necessidade de haver um controle do tráfico de armas nas fronteiras. "Se continuarem a falta de fiscalização e as malandragens na exportação, a situação não vai mudar muito."


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