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Novas pesquisas municiam os dois lados
da Reportagem Local
Duas pesquisas recentes que buscam detalhes inéditos sobre a violência e o uso de armas, realizadas
no Rio de Janeiro, fornecem argumentos pró e contra a proposta de
proibição elaborada pelo governo.
As duas pesquisas foram feitas
pelo Iser (Instituto de Estudos da
Religião), com apoio da Secretaria
da Segurança Pública do Rio.
Uma delas pesquisou boletins de
ocorrências de diversas modalidades de crime registrados nas 36 delegacias de polícia da capital no
mês de março de 98. Foram incluídos crimes cometidos com e sem
arma de fogo.
Foi ali que surgiu o primeiro argumento pró-proibição, na interpretação dos autores do estudo.
Das vítimas fatais registradas,
11,7% foram mortas em brigas, entre conhecidos ou desconhecidos.
Para Ignacio Cano, professor da
UFF (Universidade Federal Fluminense) e pesquisador do Iser, isso
derruba um tabu. "Isso mostra que
é falso o argumento de que há pessoas de bem e bandidos. Muitas
pessoas de bem perdem a cabeça e
entram em uma briga. Só que, se
houver uma arma no meio, é grande a chance de a briga, em vez de
acabar em tapas, acabar em tiroteio, geralmente com mortos."
Dos 15 casos de mortes resultantes de brigas registrados na pesquisa, 11 foram fruto de agressões a
bala (leia quadro nesta página).
A outra pesquisa fornece argumentos nos dois sentidos.
Foi feita sobre o universo de
19.626 armas apreendidas pela polícia, também na capital, nos últimos dois anos e meio, até março
último, devido ao uso em atos ilegais ou a flagrantes de porte ilegal.
A análise dos dados das armas
mostrou que 72,9% das armas
apreendidas foram produzidas no
Brasil. Ou seja, isso contradiz a tese
de que quem comete crime se
abastece com armas vindas do exterior por meio do contrabando.
Por essa hipótese, esse canal de
entrada continuaria oferecendo
armas aos bandidos, mesmo com a
vigência da nova lei, deixando os
cidadãos desarmados à sua mercê.
Mas há alguma verdade nisso,
também. Entre as armas apreendidas, diz Cano, muitas haviam sido
exportadas pela indústria nacional
para Paraguai e Argentina e depois
repatriadas, por meio de contrabando, para grupos criminosos.
O dado, afirma, revela a necessidade de haver um controle do tráfico de armas nas fronteiras. "Se
continuarem a falta de fiscalização
e as malandragens na exportação,
a situação não vai mudar muito."
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