São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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Abadía e Beira-Mar voltam a prisão federal

Os dois traficantes, que cumprem pena em Campo Grande (MS), prestaram depoimento à Polícia Federal

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Após passar a madrugada prestando depoimento na sede da Polícia Federal em Campo Grande (MS) sobre a acusação de formação de quadrilha para supostamente tramar seqüestros de autoridades, emboscadas durante transferências de presos e ataques a unidades prisionais, o traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar e o colombiano Juan Carlos Abadía voltaram ontem no início da manhã para a Penitenciária Federal de Campo Grande, considerada pelo governo a mais segura do país.
Em operação deflagrada anteontem, a PF deteve oito pessoas, das quais quatro cumprem pena na penitenciária federal -os dois traficantes e mais os detentos José Reinaldo Girotti, considerado o mentor do assalto ao Banco Central em Fortaleza (CE), e João Paulo Barbosa, acusado de integrar a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Também foram presos na operação e ouvidos ontem o advogado de Girotti, Vladimir Búlgaro, a ex-mulher de Beira-Mar, Ivana Pereira de Sá, e Leandro Oliveira dos Santos e Leonice de Oliveira, que são parentes de Barbosa.
Segundo a Polícia Federal, os oito detidos serão indiciados sob a acusação de extorsão de dinheiro, formação de quadrilha e seqüestro.

Informante
O senador Magno Malta (PR-ES) convocou ontem uma entrevista e apresentou, no Senado, um homem encapuzado que disse aos jornalistas que o plano da suposta quadrilha formada por Abadía e Beira-Mar seria seqüestrar familiares de "seis a sete autoridades" para obter, em troca, a libertação de membros de seu grupo.
Malta disse ter sido procurado pelo homem, a quem chamou de "senhor X", após a operação da Polícia Federal. O senador disse ter conhecido o informante, que foi ligado ao crime organizado, quando este testemunhou nas CPIs do Roubo de Cargas (2000) e do Narcotráfico (2006).
O encapuzado declarou aos jornalistas ter sido informado sobre o suposto plano de seqüestro ao procurar a irmã de Beira-Mar, Alessandra -para buscar notícias sobre uma integrante da quadrilha.
Segundo o encapuzado, a irmã de Beira-Mar teria lhe contado sobre o plano de seqüestro, que incluiria o filho de Magno Malta e outras autoridades. O informante disse achar que a irmã de Beira-Mar queria mandar um recado para o senador Malta ou teria ficado nervosa e falado demais.
A Folha apurou que a Polícia Federal trabalhou com a informação de que os criminosos diziam planejar o seqüestro de um filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie e de uma das filhas do ministro Tarso Genro (Justiça).
A PF informou ao presidente Lula, na virada de 2007 para 2008, que Abadía teria um plano para seqüestrar um de seus filhos. Desde então, houve reforço na segurança dos cinco filhos do presidente. Oficialmente, a Presidência, a Polícia Federal e o Ministério da Justiça não fizeram comentários.
Segundo o Palácio do Planalto, não foi dada publicidade à suspeita para não atrapalhar a investigação da PF, conduzida pela Diretoria de Inteligência.
Depois disso, teria chegado ao Planalto a informação de que uma das duas filhas de Tarso e a filha de Ellen Gracie poderiam ser alvos dos criminosos também.
A Folha apurou que a ministra Ellen Gracie teria recebido, há dois meses, um alerta sobre o suposto plano criminoso e teria passado a andar com segurança reforçada. Gracie não quis comentar o caso ontem.
A juíza federal Raquel Corniglion, de Mato Grosso do Sul, decretou o sigilo do caso.
O diretor do sistema penitenciário federal, Wilson Damázio, descartou a possibilidade de ter havido contato direto entre Beira-Mar e Abadía na penitenciária de Campo Grande. "Não tenho dúvida de que o contato era por meio de advogados e visitas."
O advogado Luis Gustavo Bataglin, único defensor de Abadía no país e que representa Beira-Mar em dois processos, negou que tenha intermediado contatos entre os dois.


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