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RIO
Funcionários de Bangu 1 reagem à suspeita do governo de que tenham encomendado assassinato de diretora do presídio
Agentes entram em greve contra Garotinho
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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Enterro de Sidneya Santos de Jesus, que era diretora do presídio de segurança máxima Bangu 1 |
FERNANDA DA ESCÓSSIA
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A Secretaria da Segurança do
Rio de Janeiro investiga a possibilidade de o assassinato de Sidneya
Santos de Jesus, diretora do presídio de segurança máxima de Bangu 1, ter sido encomendado por
agentes penitenciários.
Indignados com a suspeita,
apontada em nota oficial assinada
pelo governador Anthony Garotinho (PDT), agentes penitenciários expulsaram ontem o secretário estadual de Justiça, João Luiz
Pinaud, do cemitério da Cacuia
(zona norte), onde acontecia o enterro de Sidneya.
À noite, os agentes fizeram assembléia e decidiram entrar em
greve a partir da 0h de hoje, para
exigir a demissão de Pinaud. Os
agentes vão manter apenas a alimentação, o socorro médico de
emergência aos presos e o cumprimento de alvarás de soltura.
Estão suspensas visitas, consultas com advogados e transferências. Há cerca de 1.200 agentes nos
presídios fluminenses.
Na mesma assembléia que decidiu a greve, 24 diretores do Desipe
(Departamento do Sistema Penitenciário) anunciaram que entregariam os cargos.
Apesar da investigação sobre os
agentes, que estariam insatisfeitos
com o trabalho de Sidneya, a secretaria não descarta a possibilidade de a morte ter sido determinada por presos de Bangu 1, como
os traficantes Ernaldo Pinto de
Medeiros, o Uê, e Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP.
A diretora de Bangu 1 foi assassinada na noite de anteontem,
quando chegava em casa, na Ilha
do Governador (zona norte). Foi
abordada por dois homens e levou três tiros. Tinha 46 anos.
Nota
De manhã, o governo estadual
divulgou nota em que Garotinho
fala da possibilidade de participação de agentes no crime.
"Hoje, a investigação tem duas
linhas: pode ter sido uma ordem
direta do tráfico ou de integrantes
da corporação, insatisfeitos com
sua gestão incorruptível", disse.
Os agentes penitenciários transformaram o enterro de Sidneya
em um protesto "por condições
mais seguras de trabalho".
No cemitério, Pinaud foi chamado de assassino e vaiado por
agentes e parentes da vítima. Ele
não conseguiu ficar mais de cinco
minutos no velório. Insultado, dirigiu-se para o carro oficial, que
foi cercado pelos agentes. Alguns
deles chegaram a chutar o carro.
Os agentes, que de manhã realizaram um cerco ao prédio da Secretaria de Justiça, em Botafogo
(zona sul), levaram cartazes para
o cemitério. "Enquanto Pinaud
dormia, a diretora morria", afirmava um cartaz.
O presidente do Sindicato dos
Servidores da Secretaria de Justiça, Francisco Rodrigues, disse que
Pinaud "só defende os direitos
humanos dos bandidos".
Havia cerca de 500 agentes, amigos e parentes de Sidneya no cemitério. Os agentes chegaram em
carreata, iniciada no complexo de
presídios de Bangu (zona oeste) e
que passou pela frente do palácio
Guanabara (sede do governo estadual, na zona sul).
A suspeita contra os agentes
surgiu a partir da constatação de
que Uê e Marcinho VP não ordenaram a morte da diretora por
meio de telefone celular.
Os celulares que eles usam em
Bangu 1 estão grampeados pela
polícia. Nenhuma gravação captou uma ordem dos traficantes
para o assassinato de Sidneya.
A polícia não descarta, porém,
que os traficantes tenham mandado matar a diretora. A ordem
poderia ter sido dada a pessoas
que os visitaram na prisão.
Para a polícia, os agentes penitenciários teriam um motivo para
matar Sidneya: a política rigorosa
instaurada por ela em Bangu 1 estaria prejudicando os "negócios"
entre agentes e traficantes.
De acordo com as investigações
da 37ª DP (Delegacia de Polícia),
na Ilha do Governador, os agentes
receberiam até R$ 5.000 dos presos para permitir regalias, como a
entrada de armas e celulares.
O delegado Zaqueu Teixeira, titular da 37ª DP, disse que estão
descartadas as hipóteses de assalto seguido de morte e crime passional. "Foi uma morte encomendada", disse ele, que pretende interrogar os principais presos.
Teixeira afirmou ainda que parentes disseram que há cerca de
dois meses Sidneya vinha recebendo ameaças. Ele disse não saber quem são as pessoas que a
ameaçavam.
As suspeitas contra os presos,
especialmente contra Uê e Marcinho VP, também têm origem na
política "linha-dura" implantada
por Sidneya em Bangu 1.
No mês passado, ela impediu a
transferência de Uê para um presídio de segurança intermediária,
já autorizada pela Justiça. Sidneya
alegou que ele era um preso de alta periculosidade e que poderia
fugir caso fosse para um presídio
com menos vigilância.
A diretora também passou a regular as visitas dos advogados,
por causa da suspeita de que poderiam estar servindo de "pombo-correio", levando mensagens
dos presos para cúmplices soltos.
O presidente do Sindicato dos
Servidores da Secretaria de Justiça
disse que os agentes já têm indícios de que Marcinho VP ordenou a morte, insatisfeito com o
controle sobre o entra-e-sai de advogados. "Estamos investigando
e vamos provar que foi ele."
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