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Cadeirante ainda tem dificuldade em andar na calçada da av. Paulista
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
BRUNA SANIELE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O piso é novinho em folha,
mas esconde uma encruzilhada. Se a calçada da Paulista,
no centro de São Paulo, ficou
mais confortável para os pedestres depois da reforma da
prefeitura de R$ 8,1 milhões,
cruzar a avenida num ponto
próximo à esquina com a rua
Pamplona, ao lado da estação
Trianon/Masp do metrô,
continua sendo um grande
desafio para os usuários de
cadeiras de rodas.
Foi o que comprovou Ida
Célia Palermo, 49, que, a convite da Folha, foi verificar como um cadeirante pode atravessar o trecho. Logo na saída
do metrô, não há rampa para
deficientes físicos.
Para contornar o problema, Ida, que partiu da calçada
do sentido bairro em direção
ao sentido centro, encontrou
duas alternativas: a rampa de
um estacionamento ou a de
uma farmácia, ambas fora da
faixa de pedestres.
Em qualquer uma das situações, precisaria disputar
espaço com os carros que entram e saem constantemente
dos estabelecimentos. Desta
forma, acabou optando pela
rampa da farmácia, mais próxima da esquina.
Ao descer, verificou o primeiro problema. A rampa,
projetada para carros, possuía um desnível, que quase
provocou a sua queda.
Passado o primeiro susto,
veio o segundo obstáculo: um
carro bloqueava a passagem.
Ressalta-se: não havia nada
de errado com o carro, que
estava no lugar certo, fora da
faixa de pedestres, parado no
sinal. Quem estava no local
errado era Ida, que tentava
alcançar a faixa por vias "alternativas".
"Eles acham que aqui na
Paulista não tem cadeira de
rodas", ironizou o aposentado Alberto Louzada, 76, que
presenciava a cena.
E a aventura não acabou
por aí. Do outro lado da avenida, mais problemas. No
sentido centro da Paulista, só
existe uma rampa - a de um
edifício. Lá, a reportagem
constatou mais uma irregularidade: há piso tátil na rampa
e na calçada, mas não há uma
ligação tátil entre os dois
pontos. Ao cego que pretender atravessar a rua caberá
andar cerca de meio quarteirão até a próxima faixa.
"Faltou sensibilidade de
quem projetou a reforma da
avenida. Todo mundo prefere
usar a rampa, mesmo quem
não é cadeirante. Nós queremos autonomia e isso depende diretamente de ambientes
acessíveis", diz Ida.
Para a advogada Elza Teixeira, 70, a prefeitura deve
refazer o local. "É super necessário, com a rampa é mais
fácil para todo mundo".
Procurada, a Prefeitura de
São Paulo, por meio de sua
assessoria de imprensa, alega
que, por interferência de uma
laje da estação Trianon/
Masp que passa por debaixo
do local e que sustenta o elevador para deficientes que dá
acesso à via, não foi possível
construir uma rampa durante a reforma, que durou de julho do ano passado ao final de
junho deste ano.
"Não podemos construir
apenas de um lado. Se a pessoa atravessa a rua de uma
calçada, não tem como subir
na outra. Elas precisam ser
simétricas", diz a assessoria
de imprensa do órgão.
A prefeitura informou, entretanto, que já encaminhou
um ofício e se reuniu com o
Metrô para estudar possíveis
modificações na área.
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