São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2008

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Cadeirante ainda tem dificuldade em andar na calçada da av. Paulista

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

BRUNA SANIELE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O piso é novinho em folha, mas esconde uma encruzilhada. Se a calçada da Paulista, no centro de São Paulo, ficou mais confortável para os pedestres depois da reforma da prefeitura de R$ 8,1 milhões, cruzar a avenida num ponto próximo à esquina com a rua Pamplona, ao lado da estação Trianon/Masp do metrô, continua sendo um grande desafio para os usuários de cadeiras de rodas.
Foi o que comprovou Ida Célia Palermo, 49, que, a convite da Folha, foi verificar como um cadeirante pode atravessar o trecho. Logo na saída do metrô, não há rampa para deficientes físicos.
Para contornar o problema, Ida, que partiu da calçada do sentido bairro em direção ao sentido centro, encontrou duas alternativas: a rampa de um estacionamento ou a de uma farmácia, ambas fora da faixa de pedestres.
Em qualquer uma das situações, precisaria disputar espaço com os carros que entram e saem constantemente dos estabelecimentos. Desta forma, acabou optando pela rampa da farmácia, mais próxima da esquina.
Ao descer, verificou o primeiro problema. A rampa, projetada para carros, possuía um desnível, que quase provocou a sua queda.
Passado o primeiro susto, veio o segundo obstáculo: um carro bloqueava a passagem. Ressalta-se: não havia nada de errado com o carro, que estava no lugar certo, fora da faixa de pedestres, parado no sinal. Quem estava no local errado era Ida, que tentava alcançar a faixa por vias "alternativas".
"Eles acham que aqui na Paulista não tem cadeira de rodas", ironizou o aposentado Alberto Louzada, 76, que presenciava a cena.
E a aventura não acabou por aí. Do outro lado da avenida, mais problemas. No sentido centro da Paulista, só existe uma rampa - a de um edifício. Lá, a reportagem constatou mais uma irregularidade: há piso tátil na rampa e na calçada, mas não há uma ligação tátil entre os dois pontos. Ao cego que pretender atravessar a rua caberá andar cerca de meio quarteirão até a próxima faixa.
"Faltou sensibilidade de quem projetou a reforma da avenida. Todo mundo prefere usar a rampa, mesmo quem não é cadeirante. Nós queremos autonomia e isso depende diretamente de ambientes acessíveis", diz Ida.
Para a advogada Elza Teixeira, 70, a prefeitura deve refazer o local. "É super necessário, com a rampa é mais fácil para todo mundo".
Procurada, a Prefeitura de São Paulo, por meio de sua assessoria de imprensa, alega que, por interferência de uma laje da estação Trianon/ Masp que passa por debaixo do local e que sustenta o elevador para deficientes que dá acesso à via, não foi possível construir uma rampa durante a reforma, que durou de julho do ano passado ao final de junho deste ano.
"Não podemos construir apenas de um lado. Se a pessoa atravessa a rua de uma calçada, não tem como subir na outra. Elas precisam ser simétricas", diz a assessoria de imprensa do órgão.
A prefeitura informou, entretanto, que já encaminhou um ofício e se reuniu com o Metrô para estudar possíveis modificações na área.


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