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INFÂNCIA PERDIDA
Menores que supostamente foram vítimas de aliciamento não recebem nenhum apoio do poder
público
Porto Ferreira abandona as suas meninas
DIOGO PINHEIRO
DA FOLHA CAMPINAS
Seis meses após a divulgação do
escândalo envolvendo vereadores, empresários, funcionários
públicos e comerciantes de Porto
Ferreira (228 km de São Paulo), as
11 adolescentes supostamente
corrompidas pelos acusados seguem desassistidas, sem nenhum
acompanhamento terapêutico.
Por cerca de dois anos, segundo
a Polícia Civil, as adolescentes foram aliciadas pelo então suplente
de vereador do PTB e garçom
Valter de Oliveira Mafra.
Elas eram levadas a festas em
chácaras e ranchos para participar de jogos sexuais com os acusados e recebiam quantias que variavam de R$ 30 a R$ 50, conforme o Ministério Público Estadual.
Mafra foi condenado pela Justiça a 33 anos e seis meses de prisão.
As demais sentenças contra os
acusados devem ser expedidas
pela Justiça no fim deste mês.
Hoje, duas adolescentes estão
grávidas, e uma outra está envolvida com drogas, segundo o centro psicológico do Poder Judiciário. O Conselho Tutelar de Porto
Ferreira suspeita que algumas estejam se prostituindo.
Das 11 meninas, apenas uma
completou 18 anos. As demais
têm idades entre 14 anos e 16 anos.
Nenhuma concluiu o ensino fundamental. Neste ano, todas se matricularam no supletivo de uma
escola estadual, já que em 2003
perderam o ano letivo.
Desde que deixaram um abrigo
municipal, em outubro passado,
as jovens estão nas casas dos pais.
Segundo a Justiça, todas as famílias são de baixa renda e passam necessidades. Alguns pais
têm problemas de alcoolismo.
O Conselho Tutelar agendou
uma sessão para as garotas com
uma psicóloga em fevereiro. Como não apareceram, terão de
aguardar uma nova data, que pode demorar três meses.
Na última quinta-feira, a Folha
localizou 5 das 11 adolescentes em
Porto Ferreira. Apenas uma falou
com a reportagem. As outras afirmaram que "querem sossego" e
que "sofrem discriminação".
"Minha vida ficou a pior possível, porque todo mundo recrimina a gente e ninguém ajuda", afirmou uma das jovens, que tem 16
anos e está grávida de oito meses.
Ela mora com o pai, alcoólatra,
com a mãe, desempregada, e com
mais dois irmãos e um sobrinho.
A Justiça ainda pode solicitar
que seja feito exame de DNA,
após o nascimento do bebê, uma
menina, para saber se o pai é um
dos acusados de aliciamento.
"O caso das meninas de Porto
Ferreira é emblemático, complexo e cruel. Para o imaginário da
sociedade, as vítimas se transformaram em réus. As políticas públicas têm o mesmo paradigma
da sociedade", disse Neide Castanha, do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual
contra a Criança e o Adolescente.
A Secretaria Especial dos Direitos Humanos, ligada ao Ministério da Justiça, informou, por meio
de assessoria de imprensa, que
iria tomar conhecimento do caso.
Porto Ferreira não integra o programa Sentinela do governo federal, criado para combater e prevenir o abuso e a exploração sexual.
A Secretaria do Estado de Assistência e Desenvolvimento Social,
que gerencia o programa informou que a prefeitura nunca solicitou que um convênio fosse firmado para aderir ao Sentinela.
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