São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2007

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Velório de Alana, 12, só ocorre graças à doação

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Sem recursos para pagar o enterro de Alana Ezequiel, 12 -morta anteontem por bala perdida no morro dos Macacos, zona norte do Rio-, a família velou o corpo graças à doação da Santa Casa de Misericórdia. Após enterrar a filha numa gaveta do cemitério São Francisco Xavier, a família teve novas dificuldades: dois taxistas se recusaram a levá-la para casa por causa da violência no morro.
"Gente que mora no morro não tem sonho", disse a mãe da menina, a doméstica Edna Ezequiel, 31, antes do enterro. "O sonho dela era o estudo".
Alana estudava na escola Assis Chateaubriand. Queria ser advogada. Morta durante operação da PM na favela quando acabara de deixar a irmã de 2 anos na creche, Alana já tinha instruções em caso de operação policial no morro. "Falava para ela ficar em algum lugar, para não subir. Quando ela subiu, o tiroteio tinha parado e depois começou", contou a mãe.
Segundo Edna, operações no morro não são constantes, mas "quando eles [policiais] sobem, é isso o que acontece: gente inocente morre". A menina faria 13 anos na próxima terça. Mãe de mais quatro filhos, duas meninas de 2 e 6 anos e dois meninos de 10 e 16, Edna mora numa casa de alvenaria no Morro dos Macacos com sala, quarto e banheiro, onde ficará.
Na saída do enterro, Edna teve que aguardar 45 minutos sob forte sol até conseguir um táxi. Enquanto esperava, pediu "justiça" para responsabilizar os culpados. "Eu quero justiça. E eu vou lutar para saber de onde veio essa bala que matou a minha filha inocente. É uma dor muito grande, nunca mais vai sair do meu peito. Não sei nem contra quem é a revolta."
A polícia informou à noite que o IML não achou a bala nem fragmentos do projétil que atingiram Alana. A falta do material dificulta a identificação da origem do disparo.


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