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Velório de Alana, 12, só ocorre graças à doação
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Sem recursos para pagar o
enterro de Alana Ezequiel, 12
-morta anteontem por bala
perdida no morro dos Macacos,
zona norte do Rio-, a família
velou o corpo graças à doação
da Santa Casa de Misericórdia.
Após enterrar a filha numa gaveta do cemitério São Francisco Xavier, a família teve novas
dificuldades: dois taxistas se recusaram a levá-la para casa por
causa da violência no morro.
"Gente que mora no morro
não tem sonho", disse a mãe da
menina, a doméstica Edna Ezequiel, 31, antes do enterro. "O
sonho dela era o estudo".
Alana estudava na escola Assis Chateaubriand. Queria ser
advogada. Morta durante operação da PM na favela quando
acabara de deixar a irmã de 2
anos na creche, Alana já tinha
instruções em caso de operação
policial no morro. "Falava para
ela ficar em algum lugar, para
não subir. Quando ela subiu, o
tiroteio tinha parado e depois
começou", contou a mãe.
Segundo Edna, operações no
morro não são constantes, mas
"quando eles [policiais] sobem,
é isso o que acontece: gente
inocente morre". A menina faria 13 anos na próxima terça.
Mãe de mais quatro filhos, duas
meninas de 2 e 6 anos e dois
meninos de 10 e 16, Edna mora
numa casa de alvenaria no
Morro dos Macacos com sala,
quarto e banheiro, onde ficará.
Na saída do enterro, Edna teve que aguardar 45 minutos sob
forte sol até conseguir um táxi.
Enquanto esperava, pediu "justiça" para responsabilizar os
culpados. "Eu quero justiça. E
eu vou lutar para saber de onde
veio essa bala que matou a minha filha inocente. É uma dor
muito grande, nunca mais vai
sair do meu peito. Não sei nem
contra quem é a revolta."
A polícia informou à noite
que o IML não achou a bala
nem fragmentos do projétil que
atingiram Alana. A falta do material dificulta a identificação
da origem do disparo.
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