São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2005

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TRÂNSITO

Em 30 dias, serão proibidas as operações de carga e descarga em grandes estabelecimentos comerciais durante o dia

Decreto de Serra atinge 3% dos caminhões

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), assinou ontem um decreto que proíbe as operações de carga e descarga de caminhões em grandes estabelecimentos comerciais durante o dia. O objetivo principal é diminuir o trânsito, levando esses deslocamentos para o período de 22h às 6h da manhã nos dias de semana, quando o tráfego é menos intenso.
O decreto, que só valerá daqui a 30 dias, após ser regulamentado, afeta shoppings centers, supermercados, hospitais, concessionárias, postos de combustível e entrepostos e terminais atacadistas com área construída superior a 20.000 m2.
A medida, no entanto, terá pouco efeito prático na redução dos congestionamentos, pois atinge apenas 3% da frota de 200 mil caminhões que circulam diariamente na cidade. Não afeta, por exemplo, os veículos que "trancam" ruas e avenidas ao abastecer bares, padarias, restaurantes e lojas de pequeno e médio porte.
A expectativa da prefeitura em relação a melhorias no trânsito também não leva em conta que a maioria dos estabelecimentos tem docas internas para os caminhões aguardarem sua vez de descarregar -logo são veículos que hoje não causam tanto impacto.
"Regulamentar horários é uma idéia antiga e que não basta por si só. É essencial reduzir a presença de caminhões estacionados nas vias públicas para abastecer o comércio, inclusive os de menor porte", diz o consultor em transportes Sérgio Sola, que foi gerente de planejamento da CET nos anos 80. Para ele, mais importante do que restringir horários é padronizar o tamanho dos caminhões na região mais movimentada da cidade, optando pelos pequenos.
O decreto de Serra estabelece ainda horários diferentes para carga e descarga no sábado -das 14h às 0h. Aos domingos e feriados, não há restrições. Hoje, o horário para essas operações é livre na maior parte da cidade.
A CET estima que 5.800 caminhões deixarão de circular durante o dia na cidade -3% do total. "Não é a solução, mas é uma medida", afirmou o prefeito.
Segundo o secretário municipal dos Transportes, Frederico Bussinger, as empresas terão de abrir "entre 3.000 e 5.000 novos postos de trabalho" para efetuar a carga e descarga de noite. "A idéia é utilizar melhor a infra-estrutura viária que temos instalada", afirmou.
O secretário insinuou que haverá multa para os estabelecimentos que desrespeitarem o decreto. Mas disse que os detalhes só serão conhecidos daqui a 30 dias.
Já Serra defendeu a instituição de penalidade para quem desrespeitar o decreto. "[Os shoppings] são altissimamente lucrativos. Não vejo problema para fazer essa absorção [mão-de-obra extra para o período noturno] em função dos interesses da coletividade."
O prefeito defendeu o fato de o decreto não incluir os pequenos estabelecimentos comerciais. "Muitos não têm estrutura para receber mercadorias de noite."
O Setcesp (sindicato das empresas de transporte de carga de São Paulo) elogiou a medida. "Os caminhões terão maior produtividade ao circular de noite, sem trânsito", afirmou o presidente da entidade, Urubatan Helou.
Já na opinião do superintendente da Apas (Associação Paulista de Supermercados), Carlos Corrêa, o efeito no trânsito "será pequeno se não incluir os pequenos estabelecimentos". A associação de shoppings e a de hospitais reclamam da falta de diálogo da prefeitura.


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