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EDUCAÇÃO
No Nordeste, há quase o dobro dos inscritos para as vagas disponíveis no projeto, uma das bandeiras do governo Lula
Valor de bolsa esvazia supletivo no Sudeste
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma bolsa de R$ 100 por mês
para jovens voltarem a estudar está causando realidades distintas
no país. Enquanto no Sul e no Sudeste apenas metade das vagas do
ProJovem - programa do governo federal para educação de jovens e adultos que se tornou uma
das bandeiras da gestão Lula-
foram preenchidas, no Nordeste a
corrida pelo programa é tanta que
há quase o dobro dos inscritos para as vagas disponíveis.
Criado pelo governo do PT em
2005, o ProJovem paga R$ 100 para quem tem entre 18 e 24 anos e
estudou até a 4ª série terminar o
ensino fundamental. Os candidatos não podem ter carteira assinada e precisam assistir a 75% das
aulas e entregar 75% dos trabalhos para ganhar a bolsa.
Como muitos jovens fazem "bicos" ou trabalham no mercado
informal, precisam abrir mão deles ou adequar horários para conseguir ir ao curso. No Sul e no Sudeste, onde o custo de vida é
maior, muitos acham que a troca
não vale à pena e não fazem a inscrição, esvaziando o programa.
As inscrições estavam previstas
para acabar ontem. Até o último
balanço parcial, de 26 de abril, o
Nordeste já contava com 44.432
inscritos para 24.460 vagas.
Todas as capitais, com exceção
de Recife que não está nesta fase
do ProJovem, têm inscrições a
mais. O contrário do que acontece
no Sul e no Sudeste. Das 60.449
vagas disponíveis, apenas 31.990
tinham sido preenchidas. Exceto
Belo Horizonte, onde a procura
está maior do que a oferta, as capitais estão com baixa demanda.
Em São Paulo, por exemplo, até o
dia 26 foram feitas 10.401 inscrições para 22.908 vagas.
A principal explicação para a diferença no número de participantes, segundo especialistas, está no
valor da bolsa. No Nordeste, R$
100 valem mais do que no Sudeste. Enquanto em Salvador, o quilo
da carne custa R$ 7,89, o da farinha, R$ 1,25, e a passagem de ônibus, R$ 1,70 (segundo o Dieese);
em São Paulo os preços respectivos são R$ 8,35, R$ 1,55 e R$ 2,00.
"O custo de vida no Sul e Sudeste é muito maior e a bolsa se torna
insuficiente", afirma Vera Masagão, coordenadora de programas
da ONG Ação Educativa. "Ela
acaba influenciando no número
de inscritos", avalia.
Coordenadora do Núcleo de
Trabalhos Comunitários da PUC-SP, Maria Stela Santos Graciani
concorda que os R$ 100 são mais
importantes no Norte e Nordeste.
Maria José Feres, coordenadora
do programa, conta que, para decidir o número de vagas em cada
capital, o governo levou em conta
dados do IBGE. "A porcentagem
de vagas foi igual para todos."
Até agora, fazem parte do projeto as capitais e o Distrito Federal.
Onde houver mais procura do
que vaga, serão feitos sorteios.
Feres também explica que até o
fim do ano, quando o programa
passará por uma análise, não será
possível remanejar vagas de um
Estado para outro. "R$ 100 no
Nordeste podem até ser um estímulo para deixar um bico, o que
não ocorre no Sudeste", diz Paulo
Renato Souza, ex-ministro da
Educação e consultor na área.
Além do valor da bolsa, há mais
duas explicações para a diferença
de procura entre as regiões. Paulo
Renato lembra que nas capitais
do Sul e Sudeste há mais programas destinados à formação de jovens e adultos.
Já o pesquisador do Núcleo de
Estudos de Políticas Públicas da
Unicamp, Rodrigo Pereyra de
Sousa Coelho, afirma que no Norte e Nordeste um diploma de ensino fundamental rende mais oportunidades de emprego do que no
Sul e no Sudeste.
O programa está no seu segundo ano de inscrições e é aplicado
em parceria com as prefeituras,
que entram com a infra-estrutura.
O governo federal paga professores, material e laboratórios de informática. Neste ano, o orçamento é de R$ 363,5 milhões.
As aulas de quem se inscreveu
no ProJovem em 2005 em São
Paulo só começaram na terça-feira passada. A dificuldade foi justamente conseguir montar turmas na cidade. Com 17.824 inscritos, apenas 7.150 se matricularam.
"Foi difícil mobilizar os jovens
porque muitos estão no trabalho
informal e precisam se organizar
para voltar à escola", diz o secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Floriano
Pesaro." A turma tem 973 alunos
em São Miguel Paulista, na zona
leste. Até o fim de maio, segundo
o secretário, mais 19 turmas estarão em aula.
(DANIELA TÓFOLI)
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