São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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SAÚDE

A "contagem de carboidratos", feita sob orientação profissional, torna a escolha do cardápio mais flexível

Dieta adaptada auxilia jovem diabético

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Viver bem com o diabetes é um desafio para os jovens portadores do tipo 1, modalidade da doença que costuma dar os primeiros sinais na infância e início da adolescência. Para manter o diabetes controlado, esses jovens pacientes têm de tomar várias doses de insulina por dia, planejar a alimentação, avaliar com atenção os imprevistos-uma rotina difícil de ser adaptada ao "turbilhão" da adolescência.
Graça Maria de Carvalho Camara, psicóloga e diretora-executiva da ADJ (Associação de Diabetes Juvenil), diz que, apesar de difícil, é preciso incorporar os hábitos e buscar uma vida normal. "Eles não são diferentes de outras pessoas. Apenas têm outras rotinas." Algumas "estratégias" e condicionamentos ajudam a estruturar a rotina, dizem especialistas.
O diabetes melito é um distúrbio metabólico, causado pela ausência de insulina ou incapacidade desta de agir adequadamente.
A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que possibilita a entrada de açúcares, como a glicose, nas células. Sem a insulina, aumenta o nível de açúcar no sangue e, se não houver controle, começam a ocorrer várias alterações, principalmente nos olhos, coração e rins.
O diabético que sofre do tipo 1 da doença não produz insulina ou a produção é tão baixa que não faz diferença.
"Quando me formei, em 1987, a dieta básica [do diabético" era pautada por quantidades pequenas, fracionadas, e restrições. Nos últimos anos, começamos a aprender mais sobre os alimentos. Você não precisa necessariamente de uma alimentação toda diet, desde que saiba balancear", afirma a endocrinologista Denise Franco, do conselho médico consultivo da associação.
A "contagem de carboidratos" é uma estratégia que dá maleabilidade ao dia-a-dia do diabético e, por isso, tem uma boa aplicabilidade ao jovem portador.
Açúcares, como a glicose e a frutose, são tipos de carboidratos. Essas substâncias, encontradas em doces, frutas e massas, são contabilizadas nos alimentos para a aplicação da estratégia.
Introduzida pela Associação Americana de Diabetes em 1995, a contagem chegou há pouco tempo ao país e só deve ser aplicada sob orientação profissional, diz a a nutricionista Alessandra Souza, da ADJ. Ela dá um exemplo de aplicabilidade: um adolescente que, durante a correria do dia-a-dia, necessita substituir um almoço completo previsto em sua dieta, com arroz, feijão, peito de frango assado, salada, suco de limão e gelatina de sobremesa, por um lanche com cachorro-quente, batata frita e refrigerante diet.
A quantidade de carboidratos do lanche deve ser igual à do almoço, para que ele não tenha problemas com sua dosagem de insulina. Depois de aprender sobre as quantidades de carboidratos de cada alimento com o nutricionista, o adolescente pode balancear a quantidade dos "componentes" do lanche. Assim poderá consumir quantidade de açúcar igual à do almoço completo e não interferir no controle da doença.
Mas fazer trocas para alimentos não tão nutritivos com frequência pode aumentar o peso corporal e os níveis de gordura, o que também compromete o controle do diabetes, explica Alessandra. "A contagem não é uma fórmula mágica. Ela existe para abrir o leque de opções de alimentos para que pessoas com diabetes não precisem se privar de alguns deles."
Segundo Graça, a maior parte dos jovens relata dificuldades com os horários rígidos das doses de insulina e a necessidade de alimentação com horário. "Mas não dá para sair de casa com um café preto. Na medida em que ele administrou a insulina, tem que se alimentar." Se o jovem aplicar o hormônio e não comer, "sobra" insulina no organismo. O hormônio permite a absorção rápida do pouco de açúcar que ainda está no sangue. A falta de açúcar pode gerar tontura, sudorese, tremores, desmaios e até convulsões.
"O jovem deve carregar barras de cereal e bolachas, para nunca pular refeições", afirma a diretora. De acordo com ela, outro problema frequente é o consumo de bebidas alcóolicas, que geralmente começa na adolescência. O álcool, dependendo da quantidade, impede o fígado de liberar glicose. O jovem diabético não deve beber muito e nunca pode fazer isso sem se alimentar.


ADJ: www.adj.org.br ou 0800-100627

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