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Presos concordam em ajudar na reforma
Detentos que estão isolados em presídio de Araraquara (SP) conversaram ontem com o senador Eduardo Suplicy (PT)
Os homens reunidos no pátio que está com as portas soldadas relataram a falta de condições para dormir e até para tratar dos doentes
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A ARARAQUARA (SP)
Foram três horas de silêncio
absoluto no Anexo de Detenção
Provisória da Penitenciária de
Araraquara, só quebrado pela
voz de um preso narrando como tem sido a vida desde que
1.443 detentos foram confinados em uma área de 600 metros
quadrados, no dia 16 de junho.
Todos os homens sentaram-se
no chão de asfalto do Anexo para receber o senador Eduardo
Suplicy (PT), que foi à cadeia
ontem à tarde, checar as condições da prisão.
Como a porta da detenção está lacrada a solda, Suplicy conversou com os presos do alto da
torre de controle, sem contato
físico com eles. "Foi a situação
mais dramática que já vi em
uma cadeia", relatou o senador.
Suplicy afirmou que os detentos têm de dormir encostados uns nos outros, porque não
há espaço para todos. O setor
tem 16 celas, cada uma com oito
camas. No chão de cada cela,
podem dormir mais dez presos.
A capacidade máxima total das
celas, portanto, é de 288 homens. Isso significa que 1.155
pessoas são obrigadas a dormir
ao relento, no pátio, sob temperaturas que nesta época do ano
chegam a 10C. Como proteção,
apenas cobertas leves.
Disciplinadamente, ontem à
tarde, 107 presos doentes levantaram-se um a um, em silêncio, para mostrar os ferimentos que têm nos corpos.
O médico Hosmany Ramos,
discípulo de Ivo Pitanguy, ex-cirurgião plástico de socialites,
ex-freqüentador de colunas sociais cariocas e condenado em
1981 por homicídio, roubo de
jóias e carros, tráfico de drogas
e contrabando, apresentou-se
no final da conversa para reivindicar iluminação, pelo menos na enfermaria que ele improvisou no anexo.
Todo o prédio é mantido às
escuras, segundo os agentes,
para evitar que os presos com
celular possam recarregá-los.
Ramos também pediu medicamentos, como coquetel antiviral para soropositivos, e a remoção imediata de 37 doentes
graves para hospitais.
Suplicy perguntou quem
aceitaria trabalhar na reforma
do prédio. Todos levantaram as
mãos, candidatando-se.
Habitabilidade
Do diretor da penitenciária,
Roberto Medina, o senador
conseguiu a promessa de que,
na próxima segunda, metade
dos presos será removida para
pavilhão de igual tamanho do
atual. Na sexta, um terceiro pavilhão deverá ter condições de
habitabilidade, desafogando a
superpopulação hoje existente.
Medina, segundo o senador,
também se comprometeu a enviar amanhã uma equipe de
médicos para avaliar o estado
clínico dos presos -até agora,
todo o atendimento vem sendo
feito por Hosmany, já que o
médico da penitenciária não
pode entrar no recinto lacrado.
Ameaça
Às 10h30, quando o helicóptero modelo Robson 22 com a
repórter-fotográfica Marlene
Bergamo a bordo aproximou-se da penitenciária para fazer
as fotos desta edição, guardas
da muralha do presídio usando
máscaras ninja apontaram suas
armas em direção à aeronave.
Às 10h, a direção da penitenciária foi avisada pela reportagem de que o vôo seria feito dali
a meia hora e que a bordo estaria uma fotógrafa da Folha.
Com o helicóptero já no ar,
um carro da Polícia Militar
aproximou-se da reportagem.
Um soldado avisou: "Se o helicóptero cruzar a área da penitenciária, a ordem é abater". As
fotos foram feitas com uma
lente teleobjetiva de 500 mm
com duplicador.
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