São Paulo, Quarta-feira, 07 de Julho de 1999
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ANGRA 1
Segundo documento, o número de panes ocorridas no reator no 1º trimestre deste ano é preocupante
Relatório aponta falha em usina nuclear

RONALDO SOARES
da Sucursal do Rio

Falhas no sistema de segurança da Usina Nuclear Angra 1 (litoral sul do Rio) causaram 11 interrupções no funcionamento do reator em menos de um ano.
Seis delas aconteceram no primeiro trimestre deste ano. Índices internacionais de segurança de reatores consideram aceitável uma interrupção por trimestre.
A denúncia consta de relatório feito pelo físico Luiz Pinguelli Rosa, 57, vice-diretor da Coope/ UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). O documento foi encaminhado ao procurador-geral da República no Rio, Daniel Sarmento.
Segundo Pinguelli, o que mais o preocupa é o número de panes ocorridas no reator nuclear nos primeiros três meses do ano -o levantamento engloba o funcionamento da usina de junho de 98 a março deste ano.
De acordo com o relatório, as principais causas das panes no reator são a falta de manutenção do sistema -os componentes já gastos não estariam sendo substituídos- e o que Pinguelli definiu como "evento externo", ou seja, falhas no abastecimento de energia elétrica da usina. Cada um desses fatores corresponde a 36% das panes.
Pinguelli afirma que um dos problemas relacionados à suposta falta de manutenção é a corrosão na tubulação dos geradores de vapor. Segundo ele, 9% da tubulação já teria sido afetada. A corrosão, de acordo com o físico, acarreta perda de potência.
"Nesse caso, o índice tolerável é de 15%. A partir daí, o reator não pode mais funcionar."
Outros problemas apontados pelo relatório são a redução no número de funcionários qualificados nos quadros da Eletronuclear (operadora da usina) e a intranquilidade dos empregados depois da cisão da antiga operadora (Furnas Centrais Elétricas).
O físico defendeu a interrupção das atividades de Angra 1 para apuração dos fatos expostos no relatório.
Segundo Pinguelli, o relatório foi elaborado a partir de dados fornecidos a ele por técnicos e professores universitários da área de energia nuclear.
O físico afirma que as informações constam também de relatório de rotina que a Eletronuclear (empresa que opera a usina) enviou à CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), órgão fiscalizador no Brasil, e à WANO (Associação Mundial de Operação Nuclear), entidade que controla o funcionamento dos geradores nucleares no mundo.
O procurador Daniel Sarmento disse que enviou ofício à Eletronuclear e à CNEN solicitando explicações sobre a denúncia, com prazo para que as respostas sejam encaminhadas à Procuradoria até o final desta semana.
O diretor de relações institucionais da Eletronuclear, Luís Soares, afirmou que as informações do relatório estão em uma carta que a empresa enviou à CNEN em abril, sugerindo melhorias no desempenho de Angra 1. Ele disse que os dados apresentados no relatório "não são alarmantes".


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