São Paulo, terça-feira, 07 de agosto de 2001

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Ex-parque "do medo" mantém-se como ponto gay

DA REPORTAGEM LOCAL

O Trianon já foi o parque do medo na década de 80, imagem que, dizem frequentadores e admiradores, não corresponde mais à realidade. Hoje, o abandono é a marca mais apropriada, principalmente por parte da população.
"É um fantasma, as pessoas ficaram com medo de entrar no Trianon", considera a arquiteta Maria Cecília Barbieri Gorski, autora do estudo de revitalização do espaço, sob encomenda da Abap (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas).
O mesmo pensa a gerente do Conjunto Nacional, Vilma Peramezza, que coordenou a Comissão Permanente de Revitalização do Trianon. "Antes de qualquer obra gigantesca, era preciso trabalhar essa questão da imagem. Eu vejo um empenho muito grande da atual administradora, mas era preciso mais", afirma.
A frequência do parque é um reflexo do problema. Segundo a prefeitura, cerca de mil pessoas circulam por suas alamedas sinuosas de segunda a sexta-feira. Nos fins de semana, são 3.000.
Se comparado a outros parques, não é baixa. O Burle Marx, no Campo Limpo (zona sul), tem frequência semanal de 60 pessoas. No entanto a região onde está o Trianon é uma das de maior circulação da cidade. Segundo a SPTrans, 224.989 pessoas pegam ônibus na avenida Paulista diariamente, por exemplo.
O abandono do Trianon pela população se deu pelo medo da violência e também por ser um dos espaços mais procurados por homossexuais e garotos de programa. No passado, um fato esteve ligado ao outro.
Em 1989, um acontecimento serviu para selar essa combinação. Naquele ano, foi preso Fortunato Bottom Filho, o maníaco do Trianon. Ele confessou ter assassinado 12 homossexuais que o procuravam no local, para fazer programas.
As ocorrências policiais caíram nos últimos anos, mas a paquera homossexual não. Policiais que trabalham no local narram cenas de sexo explícito, homens que se masturbam no playground que fica no bloco de trás do parque, michês que atacam clientes.
Dois guardas-civis fazem a ronda permanentemente, auxiliados por policiais militares. Mas a estrutura fechada do Trianon dificulta a patrulha.
Por outro lado, os homossexuais só podem ser autuados caso contrariem a lei, precisamente em atitudes que caracterizem atentado violento ao pudor. Se utilizarem o parque para paquerar, não podem ser punidos por isso.
A parte dos fundos do parque, diz um policial que não quis se identificar, é a mais procurada por eles. A Guarda Civil afirma que são poucos os que promovem cenas constrangedoras e, quando o fazem, são reprovados pelos outros homossexuais que usam o Trianon para paquerar. Pelo menos um por semana é detido.



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