São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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TERCEIRO SETOR

Escola de boxe do morro do Cantagalo era utilizada para atrair contribuições em dinheiro pela internet

ONG francesa usa entidade para obter doação

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

A ONG francesa Sport Sans Frontières usou, até anteontem, o trabalho da escola de boxe Nobre Arte, do morro do Cantagalo (zona sul do Rio), como forma de arrecadar doações em dinheiro na internet, apesar de o acordo entre as duas instituições ter sido rompido em maio do ano passado.
O acordo foi rompido pela Nobre Arte, sob a alegação de que a ONG francesa não havia repassado doações feitas em seu favor.
Em seu site, a ONG pede doações para diferentes projetos sócio-esportivos que teriam seu apoio. Anteontem, um dia após ser procurada pela Folha, a ONG tirou do ar as imagens do projeto Meninos do Boxe, da Nobre Arte.
A escola de boxe oferece aulas gratuitas a crianças e adolescentes dos morros do Cantagalo e dos vizinhos Pavão e Pavãozinho. O objetivo é evitar que os jovens sejam atraídos pelo tráfico de drogas e incentivá-los a terminar os estudos -o único pré-requisito para ter as aulas é estar estudando.
Em setembro de 99, a escola recebeu proposta de representantes da Sport Sans Frontières no Brasil para que firmassem uma parceria para arrecadar doações. O projeto foi exposto por Alexandre Guilluy, irmão de um dos fundadores da ONG e que se apresentou como representante da instituição francesa, e por Eric Sampers, voluntário da organização no Rio.
Como o acordo determinava que a forma de aplicação do dinheiro deveria ser previamente aprovada pela Sports Sans Frontières, as doações tinham que ser feitas diretamente à ONG, para depois serem repassadas à escola.
Passado quase um ano de parceria, a Nobre Arte ainda não havia recebido nenhuma doação, e seus coordenadores, Ricardo de Carvalho e Cláudio Coelho, decidiram procurar os representantes da Sport Sans Frontières.
Foram informados, então, de que a companhia automobilística Peugeot doara cerca de R$ 3 mil para o projeto batizado de Meninos do Boxe. A instituição francesa, porém, condicionou a liberação do dinheiro à prestação de contas de como ele seria utilizado.
Apesar de o orçamento ter sido apresentado na semana seguinte, o dinheiro não foi liberado. Os professores da Nobre Arte, então, foram à Peugeot para que a empresa pudesse ajudá-los na liberação da verba. Pelo setor de projetos sociais da concessionária, souberam, então, que o valor da doação era superior ao que lhes havia sido informado: 19.250 francos, o equivalente, na época, a R$ 5.500.
Mais duas semanas de negociação se passaram até que os R$ 5.500 fossem entregues à escola.
Na ocasião, os coordenadores da academia de boxe descobriram que o MAE (Ministério de Negócios Exteriores da França) e a ONG Cible Préparation haviam doado um total de 25 mil francos (o equivalente a R$ 7.142). A doação não fora informada e nem o valor repassado à Nobre Arte.
Em virtude desses acontecimentos, a escola rompeu, em maio de 2001, o acordo com a Sport Sans Frontières. Só aí seus coordenadores foram notificados que o Meninos do Boxe estava sendo veiculado no site da ONG francesa como um dos projetos ajudados por ela no exterior, havia mais de um ano.
Carvalho afirma que a Nobre Arte não havia autorizado a veiculação do trabalho da academia no site nem fora informada de que isso vinha ocorrendo. A exposição na internet, porém, teria sido apresentada como uma das razões pela qual o acordo não poderia ser imediatamente desfeito.


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