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TERCEIRO SETOR
Escola de boxe do morro do Cantagalo era utilizada para atrair contribuições em dinheiro pela internet
ONG francesa usa entidade para obter doação
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
A ONG francesa Sport Sans
Frontières usou, até anteontem, o
trabalho da escola de boxe Nobre
Arte, do morro do Cantagalo (zona sul do Rio), como forma de arrecadar doações em dinheiro na
internet, apesar de o acordo entre
as duas instituições ter sido rompido em maio do ano passado.
O acordo foi rompido pela Nobre Arte, sob a alegação de que a
ONG francesa não havia repassado doações feitas em seu favor.
Em seu site, a ONG pede doações para diferentes projetos sócio-esportivos que teriam seu
apoio. Anteontem, um dia após
ser procurada pela Folha, a ONG
tirou do ar as imagens do projeto
Meninos do Boxe, da Nobre Arte.
A escola de boxe oferece aulas
gratuitas a crianças e adolescentes
dos morros do Cantagalo e dos vizinhos Pavão e Pavãozinho. O objetivo é evitar que os jovens sejam
atraídos pelo tráfico de drogas e
incentivá-los a terminar os estudos -o único pré-requisito para
ter as aulas é estar estudando.
Em setembro de 99, a escola recebeu proposta de representantes
da Sport Sans Frontières no Brasil
para que firmassem uma parceria
para arrecadar doações. O projeto
foi exposto por Alexandre Guilluy, irmão de um dos fundadores
da ONG e que se apresentou como representante da instituição
francesa, e por Eric Sampers, voluntário da organização no Rio.
Como o acordo determinava
que a forma de aplicação do dinheiro deveria ser previamente
aprovada pela Sports Sans Frontières, as doações tinham que ser
feitas diretamente à ONG, para
depois serem repassadas à escola.
Passado quase um ano de parceria, a Nobre Arte ainda não havia recebido nenhuma doação, e
seus coordenadores, Ricardo de
Carvalho e Cláudio Coelho, decidiram procurar os representantes
da Sport Sans Frontières.
Foram informados, então, de
que a companhia automobilística
Peugeot doara cerca de R$ 3 mil
para o projeto batizado de Meninos do Boxe. A instituição francesa, porém, condicionou a liberação do dinheiro à prestação de
contas de como ele seria utilizado.
Apesar de o orçamento ter sido
apresentado na semana seguinte,
o dinheiro não foi liberado. Os
professores da Nobre Arte, então,
foram à Peugeot para que a empresa pudesse ajudá-los na liberação da verba. Pelo setor de projetos sociais da concessionária, souberam, então, que o valor da doação era superior ao que lhes havia
sido informado: 19.250 francos, o
equivalente, na época, a R$ 5.500.
Mais duas semanas de negociação se passaram até que os R$
5.500 fossem entregues à escola.
Na ocasião, os coordenadores
da academia de boxe descobriram
que o MAE (Ministério de Negócios Exteriores da França) e a
ONG Cible Préparation haviam
doado um total de 25 mil francos
(o equivalente a R$ 7.142). A doação não fora informada e nem o
valor repassado à Nobre Arte.
Em virtude desses acontecimentos, a escola rompeu, em
maio de 2001, o acordo com a
Sport Sans Frontières. Só aí seus
coordenadores foram notificados
que o Meninos do Boxe estava
sendo veiculado no site da ONG
francesa como um dos projetos
ajudados por ela no exterior, havia mais de um ano.
Carvalho afirma que a Nobre
Arte não havia autorizado a veiculação do trabalho da academia
no site nem fora informada de
que isso vinha ocorrendo. A exposição na internet, porém, teria
sido apresentada como uma das
razões pela qual o acordo não poderia ser imediatamente desfeito.
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