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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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ÁLCOOL EM XEQUE

Em agosto, todas as vítimas de acidente, queda ou briga atendidas em Paulínia nos fins de semana estavam alcoolizadas

Projeto estuda elo entre bebida e violência

DA REPORTAGEM LOCAL

No último mês, 126 pessoas deram entrada no pronto-socorro de Paulínia nos finais de semana após se envolverem em acidentes de trânsito, quedas ou brigas. Para a surpresa dos médicos e dos pesquisadores, 100% delas estavam alcoolizadas.
A segunda etapa do projeto desenvolvido na "cidade-laboratório" é pesquisar a relação do álcool com a violência. Um grupo de estudantes universitários, que recebe bolsa de estudo da Prefeitura de Paulínia, se reveza em plantão no PS das 18h de sexta-feira às 18h de domingo.
Todas as pessoas que chegam ao serviço de emergência são submetidas ao bafômetro e respondem a um questionário. Segundo a estudante de psicologia Miriam Rabelo, 22, que participa do projeto, o menor nível de álcool no sangue encontrado foi de 0,13% e o maior, de 0,37% - acima de 0,06% a pessoa é considerada alcoolizada e é proibida de dirigir.
O índice indica a concentração de álcool presente no sangue da pessoa. Um nível de 0,37%, por exemplo, leva à perda de consciência, paralisia e risco de morte. "Às vezes, o motorista que traz a pessoa alcoolizada está tão bêbado quanto ela. Imagine o risco que isso representa à sociedade", afirma a psicóloga Solange Maria Trainotti, 41, coordenadora comunitária do projeto.
Segundo ela, além dos bares que não restringem a venda de bebidas alcoólicas a menores, outro grande problema da cidade são as festas realizadas em chácaras alugadas nos arredores, que reúnem muitos adolescentes. "Eles pagam de R$ 10 a R$ 15 para entrar e podem beber cerveja e capirinha à vontade", afirma.
Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, os dados iniciais da pesquisa realizada no pronto-socorro são "surpreendentes" e revelam o custo social do álcool.
"É uma situação estarrecedora. Surpreendeu a todos", afirma o pesquisador Marcos Romano. Segundo ele, a maioria das pessoas que chegaram alcoolizadas são jovens que trabalham durante o dia e que se embriagam à noite.
Romano afirma que a pesquisa realizada nos bares revelou que os donos dos estabelecimentos não impõem nenhum limite à quantidade que um cliente pode comprar e consumir no local. A maioria também não se sente responsável pela pessoa que se embriaga no seu bar, além de permanecer vendendo bebida alcoólica a um cliente já alcoolizado.
Estima-se que cerca de 31 mil pessoas morram por ano no trânsito no Brasil. De acordo com vários estudos em diferentes capitais, entre 50% e 70% das vítimas estavam alcoolizadas ou foram vítimas de alguém alcoolizados. Na Dinamarca, são apenas 8%.
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) do ano passado, mostrou que 13,4% dos acidentados que entravam no pronto-socorro do Hospital São Paulo estavam embriagados ou foram vítimas de alguém que tinha bebido demais. A maioria tinha tomado o equivalente a seis latas de cerveja ou 250 ml de destilado nas últimas seis horas.
A associação álcool-direção é tão nefasta no país que a própria indústria de bebida está se empenhando em participar de campanhas de redução de danos. A Ambev, uma das maiores fabricantes de cerveja, já investiu em anúncios incentivando o uso do táxi e a escolha do "amigo da vez", alguém do grupo que se candidata a não beber e dirigir. O próximo passo é a doação de bafômetros para as Polícias Militares, que já começou com 2.000 para o Distrito Federal. (CLAUDIA COLLUCCI E AURELIANO BIANCARELLI)


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