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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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Mais rigor na idade reduz dano nos EUA

DA REPORTAGEM LOCAL

A fórmula parece perfeita e provou que dá resultados, pelo menos nos EUA: para reduzir o número de acidentes envolvendo jovens embriagados, os norte-americanos aumentaram de 18 para 21 anos a idade mínima exigida para a compra de bebida.
E estabeleceram punições pesadas para quem descumprir tal ordem: o jovem perde a carteira de habilitação, mesmo que não esteja dirigindo. O dono do bar ou restaurante paga multa e perde a licença para vender bebidas.
Desde que a idade mínima foi alterada, em 1978, o número de acidentes caiu em mais de 30% em todo o território norte-americano. Entre os defensores da "educação pela punição" estão Harold Holder, diretor do Prevention Research Center, da Califórnia, e Yifrah Kaminer, da Universidade de Connecticut (EUA). Os dois são especialistas em álcool e adolescência e estiveram presentes no 15º congresso da Abead, Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas.
"Só dizer para o jovem que ele corre perigo ao beber e dirigir não significa nada", diz Holder. "O jovem se sente à prova de bala."
São os princípios de Holder e Kaminer, partilhados por grande número de especialistas, que estão sendo experimentados em Paulínia. Eles não acreditam que só a educação mude comportamentos. Mesmo o "beber responsável", prática adotada na Austrália, eles consideram controversa e ainda sem respaldo de pesquisas.
Os dois defendem o que chamam de "redução de danos na comunidade", em que as atitudes são tomadas em nome da coletividade, e não somente do indivíduo. "Em lugar de focar as ações na pessoa, focamos na comunidade, combinando estratégias educativas com estratégias de controle", afirma o psiquiatra Marcos Romano, que participa do projeto de Paulínia.
A idéia, no início, é informar os proprietários dos bares e treinar seus responsáveis e funcionários. Numa segunda fase, eles serão advertidos e informados de que poderão ser fechados e multados. Numa terceira, finalmente, serão multados e poderão ser fechados.
Dentro do lado "educativo", os responsáveis pelo projeto de Paulínia vão colocar em prática uma idéia ousada e polêmica. Segundo Romano, dezenas de estudantes menores de 18 anos receberão uma certa quantia em dinheiro e tentarão comprar bebidas alcoólicas nos bares de sua região.
Depois, uma pirâmide com as garrafas será montada em praça pública. "A idéia é dizer aos pais: "Vejam o que vocês estão fazendo com seus filhos"."
Tanto Romano quanto os dois norte-americanos destacam a importância de as medidas serem tomadas em concordância com a comunidade. "Se não houver apoio da cidade, nenhuma política será adotada." Os americanos também defendem o fechamento de bares em algum momento da noite ou madrugada. (AB e CC)


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