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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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AMBIENTE

Migração da população do centro para os extremos da cidade nos anos 90 responde pela destruição de ao menos 34,2 kmē

"Periferização" em SP desmata 2 Ibirapueras por ano

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Loteamentos clandestinos no Jardim Paraná (zona norte de São Paulo), que faz divisa com a mata do Parque Estadual da Cantareira


MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

A expulsão de população do centro para os extremos de São Paulo na última década, responsável pelo aumento do percentual de excluídos, trouxe também prejuízos ao ambiente, refletidos sobretudo no intenso desmatamento causado pela ocupação irregular e desordenada da periferia.
Mais de metade (60%) de todos os 53,45 km2 de vegetação significativa em volume, tamanho e proporção destruída na capital entre 1991 e 2000 estava localizada em dez distritos da periferia. Nesse intervalo de tempo, eles destruíram, em média, por ano, o equivalente a dois parques Ibirapuera -ou 3,2 kmē.
A comparação entre ricos e pobres ilustra a distribuição desigual do desmatamento: os dez distritos mais excluídos acabaram com 21,7 kmē de vegetação na década passada. Isso é 135 vezes a área verde derrubada pelos dez distritos menos excluídos, entre eles Moema e Vila Mariana (sul), Jardim Paulista e Perdizes (oeste).
Os números do desmatamento estão no Atlas Ambiental do Município de São Paulo, que está na internet (http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br) e deve ser publicado no próximo mês.
Iniciado em 1999 pelas secretarias municipais do Verde e do Meio Ambiente e do Planejamento, o estudo integra o projeto Biota da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Os indicadores socioeconômicos são do Mapa da Exclusão/Inclusão Social, da PUC-SP.

Causas e consequências
A "periferização" leva ao desmatamento por dois motivos: é nos bairros mais distantes do centro que ainda há verde para ser destruído e é lá onde as leis que coíbem a devastação causada pela mistura de aumento de população e falta de infra-estrutura não funcionam, dizem especialistas.
"Em áreas centrais você não tem mais vegetação significativa", diz Patricia Marra Sepe, uma das coordenadoras do atlas. Por outro lado, diz ela, até os anos 70 quase todos os loteamentos eram regularizados e, por isso, seguiam a lei de ocupação do solo, que obriga a manter 30% de espaço livre com vegetação. "Como a maioria dos parcelamentos hoje é clandestina, a lógica é construir o máximo para ganhar mais", completa.
A retirada da cobertura vegetal afeta diretamente a população que ocupou terrenos onde antes havia árvores. Ela aumenta riscos de deslizamentos de encostas, porque os solos descobertos ficam mais vulneráveis à erosão, e de enchentes, porque a terra carregada pela chuva diminui a vazão dos rios para onde a água acaba correndo mais rapidamente, já que é menos absorvida pela terra quando não há vegetação.
O desmatamento também incrementa a poluição do ar, principalmente por poeira que desprende de solos não-arborizados.
Um estudo do Depave (Departamento de Parques e Áreas Verdes) constatou que uma árvore na frente de casa diminui em dez vezes a quantidade de poeira dentro do imóvel, material que está ligado ao aumento de internações e mortes prematuras, segundo a Cetesb (agência ambiental).
No fim, todos os moradores sofrem na pele. A destruição das matas, principalmente nos extremos norte e sul, prejudica a capacidade dos três mais importantes mananciais da região metropolitana de produzirem água de qualidade para abastecimento público, diz Pedro Jacobi, coordenador de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo.
Além disso, as áreas desmatadas formam ilhas de calor -o que favorece as tempestades de verão e aumenta o desconforto de viver na capital. O fim da vegetação acaba prejudicando também a fauna que sobrevive em São Paulo, o que pode levar a desequilíbrios e à proliferação de pragas.

Distritos
A derrubada de árvores foi maior no Jardim Ângela (extremo sul), que também tem o maior índice de exclusão. Os 4,1 kmē devastados, nesse caso, estão quase todos nas regiões de mananciais das represas Guarapiranga e Billings, que abastecem 3,5 milhões de moradores de São Paulo.
Dos dez distritos com mais desmatamento, outros quatro -Grajaú e Parelheiros (sul), Cidade Tiradentes e Iguatemi (leste)- também estão entre os dez mais excluídos.
Anhanguera e Jaraguá, que ocupam, respectivamente, a sétima e a nona posição no ranking de desmatamento, foram, nessa ordem, as regiões onde a exclusão mais cresceu entre 1995 e 2002.
Ambos ficam na zona norte, onde está também o Parque Estadual da Cantareira, que, além de abrigar importantes remanescentes de mata atlântica, tem papel fundamental no fornecimento de água para mais de metade dos 17 milhões de moradores da região metropolitana de São Paulo.


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