São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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SAÚDE/NUTRIÇÃO

Carboidrato ajuda no raciocínio

Estudo mostra que consumidores regulares de carboidratos tiveram melhor desempenho em teste de rapidez de raciocínio do que pessoas que praticamente os excluíram da dieta

Os participantes que substituíram o componente por proteínas e gorduras por dois meses demoraram mais para raciocinar

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Evitados por pessoas com medo de engordar, os carboidratos são parte importante da alimentação, os principais responsáveis por fornecer energia para o cérebro e podem contribuir para uma melhor velocidade de raciocínio.
É o que mostra uma pesquisa publicada em setembro pelo "American Journal of Clinical Nutrition", em que pessoas que fizeram uma dieta considerada "mais" balanceada, com 46% de carboidratos e 30% de gorduras, tiveram melhor desempenho em testes de raciocínio rápido que aquelas que praticamente excluíram os carboidratos da alimentação, substituindo-os por proteínas e gorduras.
Os 93 participantes, todos com sobrepeso ou obesos, foram submetidos ao teste de rapidez de raciocínio ao início da pesquisa. Os "mais lentos" entraram em uma dieta que continha arroz, batata, massa e pão, entre outros ingredientes.
Dois meses depois, eles repetiram o teste e foram mais rápidos que o grupo da dieta com pouco carboidrato, baixando seu tempo cerca do dobro do valor reduzido pelos outros. A pesquisa foi feita na Austrália com participação de cientistas da Universidade de Adelaide.
Para o nutricionista da USP Daniel Bandoni o resultado ressalta a importância dos carboidratos nas refeições. "A glicose é um dos principais fornecedores de energia para o funcionamento do cérebro, é o seu combustível, e sua falta pode prejudicar o raciocínio e a concentração", diz.
Tamanha importância têm os carboidratos que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que eles correspondam de 55% a 75% da energia da alimentação, e mesmo o grupo que comeu carboidratos regulamente na pesquisa ficou um pouco abaixo dessa faixa.
Isso significa pelo menos um alimento rico em carboidrato por refeição, segundo Eliana Bistriche Giuntini, pós-doutoranda que estuda o aumento das taxas de glicose no sangue por alimentos fontes de carboidratos, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.
Ela diz que, no almoço e jantar, é saudável comer arroz ou pelo menos uma massa, ou ainda batatas ou mandioca. Já nos lanches, o recomendado é o consumo de pão ou até biscoito e bolo, evitando os cremes e recheios porque são ricos em gordura e açúcar refinado.
"As pessoas acham que todo carboidrato engorda. Na verdade, o que faz mal não é comer uma massa, mas sim a quantidade excessiva. Deve-se evitar, por exemplo, tomar vários copos de café com açúcar por dia, ou consumir muito refrigerante. Já as pizzas têm carboidrato, mas também têm gordura", diz.
A pesquisadora afirma ainda que, na ausência de carboidratos, o organismo obtém glicose a partir de proteína ou da gordura, mas que "são mecanismos mais desgastantes".

Mediterrâneo
A dieta do mediterrâneo, com predomínio de carboidratos e fibras, já demonstrou em outras pesquisas que influi positivamente no funcionamento cognitivo, de acordo com Paulo Caramelli, coordenador do Departamento de Neurologia Cognitiva da Academia Brasileira de Neurologia.
Entretanto, ele credita a diferença da rapidez de raciocínio detectada, principalmente, ao excesso de gordura consumido pelo grupo da dieta "sem" carboidrato. "Pesquisas mostraram que o excesso de gordura pode elevar os níveis de cortisol no sangue, o que pode afetar a memória. Além disso, a gordura pode causar uma intolerância a glicose, que tem importante papel na cognição."


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