São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Alto preço da mensalidade afugenta alunos

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A HAMAMATSU

Após uma hora e 21 minutos no Shinkansen, o trem-bala japonês, procedente de Tóquio, a chegada à estação de Hamamatsu não deixa dúvidas de que a cidade, 210 km a sudoeste da capital, tem algo do Brasil. Nas ruas, propagandas em português anunciam de carteira de motorista a produtos típicos.
São mais de 20 mil brasileiros na cidade -no Japão todo, estima-se que haja mais de 300 mil. Para melhor acolher o contingente, Hamamatsu teve de se adaptar, e até escolas brasileiras já pipocam por lá. Hoje, há ao menos cinco colégios grandes, além dos que funcionam de maneira improvisada.
Mas nem a grande oferta consegue fazer com que todos os filhos de imigrantes estudem quando chegam ao Japão.
O alto preço dos colégios em português, a vontade de juntar dinheiro e a incerteza sobre a data de retorno dos pais são apontados como principais fatores para a evasão escolar.
"Cheguei do Brasil há três anos e nunca estudei, preferi trabalhar", afirma Thiago Otami, 17, cujo pai trabalha em uma lavanderia, e a mãe, numa peixaria em Hamamatsu. "A escola era cara e achei que era melhor começar a trabalhar, mas hoje me arrependo. Sinto falta da escola, dos amigos. Quero voltar para o Brasil e agora não sei o que vou fazer."
A mensalidade de um colégio brasileiro em Hamamatsu gira em torno de 29 mil ienes (cerca de R$ 450).
Joyce Mendes está no Japão há 11 anos. Estudou em um colégio japonês, mas largou quando não passou de nível. "Foi aí que meus pais falaram que a gente ia voltar para o Brasil. Mas aí eles ficaram enrolando, enrolando, e eu acabei ficando sem estudar", diz. "Agora arrumei emprego em uma fábrica", conta Joyce, que recebe quase US$ 3.000 mensais.
Assim como ela, Jimmy, 17, e Rafael, 15, que não quiseram dar os seus sobrenomes, vivem o mesmo dilema. "Sinto falta de estudar, mas além de meus pais não terem condições de pagar o colégio para mim, a gente ganha muito bem trabalhando nas fábricas", fala Rafael.
Até o começo do ano, a prefeitura de Hamamatsu mantinha o Projeto Canarinho, que dava aulas para as crianças que estavam fora das escolas. "Percebemos que o número não era tão grande como pensávamos. Além disso houve uma mudança no sistema da prefeitura, e o projeto acabou", diz Lika Gondo, do Comitê de Educação de Hamamatsu. "Hoje estamos tentando localizar essas crianças que não estudam através de folhetos que distribuímos em português e japonês, e mantemos uma classe de português gratuita aos sábados."


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