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Alto preço da mensalidade afugenta alunos
TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A HAMAMATSU
Após uma hora e 21 minutos
no Shinkansen, o trem-bala japonês, procedente de Tóquio, a
chegada à estação de Hamamatsu não deixa dúvidas de que
a cidade, 210 km a sudoeste da
capital, tem algo do Brasil. Nas
ruas, propagandas em português anunciam de carteira de
motorista a produtos típicos.
São mais de 20 mil brasileiros na cidade -no Japão todo,
estima-se que haja mais de 300
mil. Para melhor acolher o contingente, Hamamatsu teve de
se adaptar, e até escolas brasileiras já pipocam por lá. Hoje,
há ao menos cinco colégios
grandes, além dos que funcionam de maneira improvisada.
Mas nem a grande oferta
consegue fazer com que todos
os filhos de imigrantes estudem quando chegam ao Japão.
O alto preço dos colégios em
português, a vontade de juntar
dinheiro e a incerteza sobre a
data de retorno dos pais são
apontados como principais fatores para a evasão escolar.
"Cheguei do Brasil há três
anos e nunca estudei, preferi
trabalhar", afirma Thiago Otami, 17, cujo pai trabalha em
uma lavanderia, e a mãe, numa
peixaria em Hamamatsu. "A escola era cara e achei que era
melhor começar a trabalhar,
mas hoje me arrependo. Sinto
falta da escola, dos amigos.
Quero voltar para o Brasil e
agora não sei o que vou fazer."
A mensalidade de um colégio
brasileiro em Hamamatsu gira
em torno de 29 mil ienes (cerca
de R$ 450).
Joyce Mendes está no Japão
há 11 anos. Estudou em um colégio japonês, mas largou quando não passou de nível. "Foi aí
que meus pais falaram que a
gente ia voltar para o Brasil.
Mas aí eles ficaram enrolando,
enrolando, e eu acabei ficando
sem estudar", diz. "Agora arrumei emprego em uma fábrica",
conta Joyce, que recebe quase
US$ 3.000 mensais.
Assim como ela, Jimmy, 17, e
Rafael, 15, que não quiseram
dar os seus sobrenomes, vivem
o mesmo dilema. "Sinto falta de
estudar, mas além de meus pais
não terem condições de pagar o
colégio para mim, a gente ganha muito bem trabalhando
nas fábricas", fala Rafael.
Até o começo do ano, a prefeitura de Hamamatsu mantinha o Projeto Canarinho, que
dava aulas para as crianças que
estavam fora das escolas. "Percebemos que o número não era
tão grande como pensávamos.
Além disso houve uma mudança no sistema da prefeitura, e o
projeto acabou", diz Lika Gondo, do Comitê de Educação de
Hamamatsu. "Hoje estamos
tentando localizar essas crianças que não estudam através de
folhetos que distribuímos em
português e japonês, e mantemos uma classe de português
gratuita aos sábados."
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