|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Inclinação em imóvel chega a causar enjôo
Portão de casa em rua perto da obra do metrô entortou e o piso está inclinado para frente, como se o imóvel fosse cair
"Meu chão, o fundo da minha casa, está tudo afundando. Minhas paredes parecem fatias de bolo", diz a dona-de-casa Nadir Brasil
Rafael Hupsel/Folha Imagem
|
|
Muro escorado por estacas, na rua Dráusio, zona oeste de São Paulo; residências correm o risco de desabar por causa de obra do metrô
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Do lado de fora, a residência
da dona-de-casa Nadir Brasil,
38, parece um brinquedo de
parque de diversões: o portão
está torto, e o piso, inclinado
para a frente, como se a parte
superior da casa fosse tombar.
Andar no interior do imóvel
causa uma sensação bastante
parecida com a de um barco
que navega em dia de mar calmo. O imóvel não se move, mas
a inclinação chega a causar enjôo em estômagos sensíveis.
Para demonstrar o problema,
a dona-de-casa pega uma bolinha de tênis e coloca em uma
das extremidades da sala de estar. O objeto desliza e ganha velocidade em direção à outra
ponta da sala, perto da rua.
A casa de Nadir é uma das
três da rua Alvarenga, no Butantã (zona oeste), que deverá
ser interditada. Mas ela ainda
não sabe que dia deverá sair.
Um apartamento foi alugado
pelo Consórcio Via Amarela
para a família.
"Meu chão, o fundo da minha
casa, está tudo afundando. Minhas paredes parecem fatias de
bolo", diz, referindo-se às rachaduras que cortam do teto ao
chão. O muro que faz divisa
com a casa da direita desabou e
quase caiu sobre o carro da vizinha, diz Nadir. Na divisão entre
as casas há agora um tapume.
A laje da frente, que dava cobertura ao automóvel da família, foi demolida. "Todo dia que
você olha é uma trinca nova. A
gente não sabe até quando isso
vai permanecer", lamenta.
As rachaduras apareceram
no fim de 2007. Em agosto, a família se mudou para um hotel
por 20 dias, durante as reformas no piso e na laje. Um mês
depois, as rachaduras voltaram,
e o chão começou a ceder.
Alguns metros à frente, na
rua Alvarenga com a Esperanto, a casa da esquina tem um
buraco no chão do quintal. O
muro está escorado por madeiras e a piscina apresenta rachaduras de uma ponta a outra. O
box do chuveiro estourou, enquanto a dona tomava banho.
Na casa ao lado, da designer
Suzana Coroneos, 43, o muro
do quintal tem uma rachadura
de um dedo de largura. O mesmo problema é visto no quarto,
no escritório e no closet. O chão
também apresenta fissuras. Ela
se mudou para lá há apenas um
ano, quando terminou uma reforma que custou R$ 220 mil.
"Você vai fazendo um "scanner" pela casa e acha a cada dia
uma nova rachadura", reclama.
O consórcio, segundo ela,
tem feito todas as reformas necessárias. Mas o problema é
que, meses depois do reparo, a
mesma rachadura aparece novamente. "Você liga, vem um
engenheiro, tira foto, analisa.
Se for necessário, um reparo
urgente ele faz. Mas não há nenhum papel que afirme que o
Metrô vai deixar a casa como
era antes".
Especialista em túneis, o engenheiro Roberto Kochen, ligado ao Instituto de Engenharia,
diz que o problema está relacionado ao tipo de solo da região,
cuja superfície é formada por
uma camada de areia, argila e
água, com espessura entre cinco e oito metros.
Esse tipo de solo, diz ele, é comum em áreas próximas às
margens dos rios Pinheiros e
Tietê e está sujeito a instabilidade em qualquer tipo de construção. Segundo ele, a tendência é que o terreno se estabilize
em um prazo que costuma variar de três a cinco meses após a
impermeabilização do túnel
com uma camada de concreto.
Nem o Metrô nem o consórcio,
porém, informaram se o procedimento já foi concluído.
Texto Anterior: Obra do metrô danifica e até afunda casas no Butantã Próximo Texto: Solo frágil causou trincas, diz engenheiro Índice
|