|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
OPINIÃO
Moradores devem cobrar e não apenas recusar ampliação do transporte público
RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO
Moradores de Higienópolis admitiram à Folha que a
abertura de uma estação de
metrô na avenida Angélica
traria "gente diferenciada"
ao bairro. Não é difícil imaginar que alguns vizinhos do
Morumbi compartilhem esse
medo e prefiram o isolamento garantido com a inexistência de transporte público de
massa por ali.
Mas à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas e se refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o
poder público não fez a sua
parte em desmentir que a
chegada do transporte de
massas não degrade a paisagem urbana.
Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia,
e grande especialista em
transporte coletivo, diz que
não basta criar corredores de
ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas.
Abrigos confortáveis, boa
iluminação, calçamento,
limpeza e paisagismo que
circundam estações de metrô
ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o
transporte público tem em
uma determinada cidade.
Se no entorno do ponto de
ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e a escuridão afugenta pessoas à noite, é normal que moradores
não queiram a chegada do
transporte de massa.
A instalação de linhas de
monotrilho ou de corredores
de ônibus precisa vitaminar
uma área, não destruí-la.
Quando as grades da Nove de
Julho foram retiradas, a avenida ficou menos tétrica,
quase bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos
muito modestos, que acumulam diversos ônibus sem dar
vazão a desembarques, a
imagem do engarrafamento
e da bagunça vira um desastre de relações públicas.
Em Istambul, monotrilhos
foram instalados no nível da
rua, como os "trams"" das cidades alemãs e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país emergente como o
Brasil, houve um cuidado
com os abrigos feitos de vidro, com os bancos caprichados-em formato de livro- e
com a iluminação.
Restou menos espaço para
os carros porque a ideia ali
era tentar convencer na marra os motoristas a deixarem
mais seus carros em casa e
usarem o transporte público.
Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, se parecerem
com um Minhocão, o Godzilla do centro de São Paulo, os
moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no
projeto, detalhamento dos
materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. Se forem como
os antigos bondes, ótimo.
Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte público, que beneficiará
diretamente os milhares de
prestadores de serviço que
precisam trabalhar na região
do Morumbi, vai ser difícil
acreditar que o problema deles não seja a gente diferenciada que precisa circular por
São Paulo.
Texto Anterior: Promotoria vai investigar monotrilho do Morumbi Próximo Texto: Empresária fecha acordo para reduzir Calçada da Fama Índice | Comunicar Erros
|