São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2010

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OPINIÃO

Moradores devem cobrar e não apenas recusar ampliação do transporte público

RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO

Moradores de Higienópolis admitiram à Folha que a abertura de uma estação de metrô na avenida Angélica traria "gente diferenciada" ao bairro. Não é difícil imaginar que alguns vizinhos do Morumbi compartilhem esse medo e prefiram o isolamento garantido com a inexistência de transporte público de massa por ali.
Mas à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas e se refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o poder público não fez a sua parte em desmentir que a chegada do transporte de massas não degrade a paisagem urbana.
Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, e grande especialista em transporte coletivo, diz que não basta criar corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas.
Abrigos confortáveis, boa iluminação, calçamento, limpeza e paisagismo que circundam estações de metrô ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o transporte público tem em uma determinada cidade.
Se no entorno do ponto de ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e a escuridão afugenta pessoas à noite, é normal que moradores não queiram a chegada do transporte de massa.
A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área, não destruí-la.
Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, a avenida ficou menos tétrica, quase bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos muito modestos, que acumulam diversos ônibus sem dar vazão a desembarques, a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de relações públicas.
Em Istambul, monotrilhos foram instalados no nível da rua, como os "trams"" das cidades alemãs e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país emergente como o Brasil, houve um cuidado com os abrigos feitos de vidro, com os bancos caprichados-em formato de livro- e com a iluminação.
Restou menos espaço para os carros porque a ideia ali era tentar convencer na marra os motoristas a deixarem mais seus carros em casa e usarem o transporte público.
Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, se parecerem com um Minhocão, o Godzilla do centro de São Paulo, os moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no projeto, detalhamento dos materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. Se forem como os antigos bondes, ótimo.
Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte público, que beneficiará diretamente os milhares de prestadores de serviço que precisam trabalhar na região do Morumbi, vai ser difícil acreditar que o problema deles não seja a gente diferenciada que precisa circular por São Paulo.

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