São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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"Política da prefeitura é universalizante", diz secretária

DA REPORTAGEM LOCAL

A política da prefeitura é universalizante. É assim que a secretária municipal da Educação, Maria Aparecida Perez, rebate as críticas da falta de política pedagógica, desperdício de recurso com uniforme e de material inadequado. Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida por Perez.

 

Folha - Como a sra. encara as críticas sobre a falta de uma política pedagógica da secretaria que abranja todas as 31 coordenadorias de educação de São Paulo?
Maria Aparecida Perez -
Isso pode ter ocorrido no início da administração atual. Mas toda proposta pedagógica da secretaria, feita há dois anos, foi construída em conjunto com as coordenadorias e discutida com a rede.
Fizemos cadernos e seminários para discutir o currículo, o planejamento de cada escola, a gestão democrática e os conceitos de CEU. Política pedagógica não é algo que se coloca por decreto. É preciso ter adesão.

Folha - Como a sra. compara o investimento nos programas de educação inclusiva com aqueles feitos em formação e em capacitação de professores, por exemplo?
Perez -
Estamos investindo no aluno. Não adianta ter um professor com tudo e não ter nem o aluno na escola para ter aula. Para ter um ensino de qualidade, é preciso investir no aluno, nos prédios e na formação dos professores.
Cerca de 3.000 professores da rede que não tinham curso superior na área pedagógica agora estudam custeados pela prefeitura. Há também 3.600 auxiliares de desenvolvimento infantil fazendo curso para se tornarem professores de desenvolvimento infantil, uma carreira recém-criada que prevê um aumento de salário.
Criamos um programa em que faculdades oferecem bolsas em troca de isenção do ISS. Fora a formação da própria secretaria, que dá capacitação às equipes pedagógicas das 31 coordenadorias de educação.

Folha - Os programas de educação inclusiva são considerados por críticos como assistencialistas. Como a sra. os vê?
Perez -
A questão é a da gratuidade do ensino. Não adianta construir escola e falar que há vaga para todos sem dar garantias de acesso e de permanência. São Paulo tem 2,5 milhões de desempregados. Onde estão? Na periferia. Onde está a maioria dos alunos e das escolas? Na periferia.
É preciso pensar na oferta do serviço público para a conjuntura atual. Esses programas não são assistencialistas, mas compensatórios. Assistencialista é o que é dado sem oferecer capacidade de geração de renda no futuro.

Folha - Alguns professores da rede dizem que parte do material distribuído pela secretaria é inadequado, como brochuras para o ensino fundamental e canetas esferográficas para o ensino infantil.
Perez -
Estamos fazendo adaptações no material. E não é que ele é inadequado. Isso é uma questão de gosto. O material é básico. E, neste ano, a escola receberá um kit de apoio pedagógico, baseado em um levantamento feito com os professores, que terá papéis, pincéis, papel cartão, cartolina, argila e várias outras coisas que antes eram requisitadas aos alunos.

Folha - Alguns alunos com melhores condições não usam o uniforme da prefeitura. Como trabalhar com o conceito de universalidade numa rede com necessidades diferentes?
Perez -
Se você for atender ao gosto de todos, fica difícil estabelecer um critério. É preciso dar condições iguais a todos. É um direito e um dever do Estado oferecer o material, o transporte e o uniforme, ou seja, as condições para um aluno ir à escola. Se você der uniforme só para quem precisa, acaba criando condições vexatórias para o aluno. Estamos devolvendo em serviço o que a população pagou em impostos.

Folha - Não seria mais viável cada escola administrar essa verba de acordo com suas necessidades?
Perez -
A política da prefeitura é universalizante. Se são criados critérios locais de atendimento, você pode favorecer um sistema de clientelismo com um nível de pressão muito complicado.



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