São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Lula atribui crise de deportação à eleição espanhola deste domingo

LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem à disputa eleitoral na Espanha parte da "culpa" pela recente deportação de brasileiros do país.
Ao chegar no começo da noite ao Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro, ele afirmou que o tema da imigração "é muito forte na Europa" e criticou os "conservadores" que desejam barrar a entrada de imigrantes pobres.
"Obviamente que eu acho que muito está ligado com a questão eleitoral, porque o tema da imigração na Europa é muito forte, e normalmente os partidos mais conservadores têm quase que uma vontade de proibir, sabe, que os pobres de outros países adentrem os seus países, sem lembrar que um dia nós recebemos os pobres dos países deles", afirmou.
Neste domingo, os espanhóis escolherão o próximo presidente do país.
Lula cobrou ontem reciprocidade da Espanha e disse que pretende conversar já na próxima semana com o presidente eleito. "Não é possível que depois de tantos anos de relação a gente tenha brasileiros sendo proibidos de entrar na Espanha", disse o presidente.
O presidente afirmou que há um clima "tenso" na Europa porque, segundo ele, "normalmente as pessoas que vão para a Europa são pessoas mais pobres, sobretudo de países da América latina e africanos".
"E nós sabemos que no mundo, quando uma pessoa vai ficando bem de vida, ela começa a se afastar dos parentes para que eles não lhe peçam nenhum favor... isso na vida política é assim", disse, em aparente crítica ao tratamento dado pelos espanhóis aos brasileiros que tentavam entrar em Madri.
"A única coisa que eu peço é que todos os países do mundo tratem os brasileiros dos seus países como nós tratamos eles aqui. Tratamos os portugueses com muita deferência, tratamos os espanhóis com muita deferência, tratamos japoneses com muita deferência (...)", afirmou.
Sobre um eventual regime de imigração comum na Europa, Lula disse que isso não deveria ser colocado em prática entre Portugal e Brasil, já que os dois países têm relação muito antiga, "quase de pai para filho".

Polêmica
A polêmica com a Espanha aumentou depois que, nesta semana, o país não admitiu a entrada dos estudantes de mestrado Patrícia Rangel e Pedro Luiz Lima, que chegaram a Madri. Os espanhóis têm ampliado o número de recusas - a média diária, de seis em 2006, saltou para 15 no mês passado.
Mais cedo, o petista participou de abertura de exposição comemorativa dos 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil, ao lado do presidente português, Aníbal Cavaco Silva.
Lula exaltou a chegada dos portugueses ao Brasil, mas depois acabou reconhecendo que atualmente, apesar de os dois países terem relações "fortes", elas ainda estão "aquém daquilo que a história obriga que tenhamos".
Ele defendeu que Portugal seja a porta para o fomento das relações do Brasil com a Europa. Lula e Cavaco Silva jantaram no Palácio das Laranjeiras.


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