São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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EDUCAÇÃO

Institutos de São Paulo desenvolvem projeto piloto na zona sul; objetivo é que policial amplie diálogo com alunos

ONGs testam alternativas de segurança

DA REPORTAGEM LOCAL

Organizações não-governamentais ligadas à educação e segurança pública têm uma visão diferente da apresentada pelo governo sobre a questão da violência nas escolas.
Para os institutos Sou da Paz e Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente), blitze e detectores de metal não resolvem o problema: a solução é saber quando aplicar o Código Penal e quando recorrer ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Em outras palavras, o policial deve ter em mente que às vezes é melhor conversar com o aluno do que levá-lo à delegacia cada vez que uma infração for cometida.
Com essa filosofia, os dois institutos criaram o projeto "Polícia e Escola", que reuniu 38 policiais, entre soldados e cabos da PM, para debater as especificidades do policiamento escolar. O projeto, inédito no país, foi financiado pelo programa "Paz nas Escolas", do Ministério da Justiça.
A primeira etapa do "Polícia e Escola" foi concluída no último dia 26. PMs distribuídos em duas turmas diferentes tiveram aulas durante uma semana. Segundo a coordenadora do curso, Mariana Thorstensen Possas, o objetivo era mostrar aos policiais alternativas de ação fora do Código Penal.
Os policiais foram selecionados entre as três companhias do 1º BPM, escolhido por pertencer a uma região considerada de risco, no Jardim São Luís (zona sul), onde existem 74 escolas estaduais.
A proposta foi aprovada pelo major Souza Lima, do 1º BPM. "O curso foi excelente, os policiais gostaram e aprenderam coisas novas sobre a escola."
O major nega que o novo modelo aumente o papel social da polícia -uma das críticas que vêm sendo feitas pelo secretário da Segurança de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, para quem "polícia tem que fazer trabalho de polícia" e não ser requisitada para atender partos, remover mendigos ou prestar assistência social.
"Antes, tudo era assunto de polícia", diz Souza Lima. Agora, segundo ele, a PM dividirá responsabilidades com professores, diretores e pais de alunos.

Aprendizado
Os policiais Joaquim Soares Neto, 33, e Celso Kitadani, 43, participaram do curso piloto de policiamento escolar. Ambos se disseram satisfeitos com a experiência e só fazem uma sugestão: além de PMs, o curso deveria reunir diretores e professores.
Segundo eles, o curso deveria ser incorporado definitivamente ao currículo da PM.
Kitadani e Neto fazem parte da 3ª Companhia do 1º BPM e são veteranos na área de ensino. Neto trabalha há três anos na mesma escola, a Afiz Gebara, no Jardim São Luís (zona sul). Já chama as secretárias e professoras pelo nome e conhece boa parte dos 1.600 alunos (do ensino fundamental ao médio) do prédio.
O cabo Kitadani está há mais tempo na área. Há 20 anos atua no policiamento escolar e hoje é responsável pela coordenação da equipe que cuida da segurança em estabelecimentos de ensino na área da 3ª Companhia.
A diretora da Afiz Gebara, Maria Aparecida da Rocha, reforça o papel de "educadores" desses policiais. "Mas policial e professor têm papéis diferentes", ressalva.
A diretora se diz satisfeita com o trabalho da PM na região. "Se tentarem tirar o Neto daqui, eu chamo de volta", afirma ela. (RENATO ESSENFELDER)


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