|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AMBIENTE
Foram demolidas 16 construções em reserva no Estado do Rio; suspeita é de que terrenos sejam vendidos por traficantes
Ibama derruba casas em favela sobre dunas
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A ARRAIAL DO CABO
O Ibama realizou ontem uma
operação para tentar conter o
crescimento de uma favela que se
expande para a área das dunas da
restinga de Massambaba, uma
área de proteção ambiental que fica entre o oceano Atlântico e a lagoa de Araruama (região dos lagos fluminense).
Foram destruídas 16 casas em
construção e derrubadas cercas
de proteção localizadas no município de Arraial do Cabo.
A operação teve a participação
da Comissão de Defesa do Meio
Ambiente da Alerj (Assembléia
Legislativa do Rio de Janeiro) e
das polícias Militar e Civil. O Ibama e as polícias também tentam
levantar provas contra uma quadrilha que estaria atuando no local invadindo as áreas de preservação ambiental e negociando os
terrenos a preços que variam de
R$ 1.000 a R$ 3.000.
A Folha conversou ontem com
moradores que confirmaram a
compra do terreno de outras pessoas. O pedreiro Inácio Tavares,
38, está construindo uma casa na
areia da praia, a menos de 20 metros do mar, e disse que negociou
a compra do terreno na capital do
Estado: "Fui a Jacarepaguá [bairro da zona oeste do Rio] e paguei
R$ 2.500 por este terreno".
Um morador que não quis se
identificar afirmou que os terrenos são vendidos por traficantes.
O Ibama confirma que há essa
suspeita e informa que já enviou
para a polícia os nomes de quatro
suspeitos de liderarem a máfia
que venderia terrenos no local.
Ontem, fiscais e policiais que
participaram da operação optaram por não destruir casas em
que houvesse pessoas morando.
Mesmo assim, alguns moradores
se desesperaram ao ver a derrubada das casas em construção. Foi o
caso de Cilênia da Silva, 56, que
afirmou que morava de favor numa casa cedida por amigos e que
estava construindo sua residência
no terreno ao lado.
"Estava juntando dinheiro com
dificuldade para fazer essa casa. Já
estava sonhando que iria morar lá
em outubro. Tem gente aqui que
tem duas ou três casas. Por que foram derrubar logo a que eu estava
construindo?", disse.
Apesar de a maioria das residências da favela pertencer a pessoas pobres, em algumas casas
(que não foram derrubadas porque havia gente morando) o padrão de vida era melhor e havia
carros na garagem.
A favelização da restinga de
Massambaba, que tem 25 km de
comprimento, está destruindo a
vegetação de uma das poucas
áreas do litoral fluminense que
ainda não haviam sido ocupadas
pela expansão imobiliária. A fauna local inclui corujas e lagartos.
A vegetação, típica de restinga,
tem uma reserva de orquídeas.
Segundo o deputado estadual
Carlos Minc (PT), presidente da
Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Alerj, o objetivo é repetir a operação e prender os responsáveis pela venda dos terrenos: "A ocupação desordenada
acaba prejudicando a população
pobre porque atrapalha a pesca e
a atividade turística. Se fizermos
apenas operações pontuais, estaremos enxugando gelo. Nosso objetivo é prender os responsáveis
pela exploração do terreno e impedir novas construções".
O assessor-técnico da Gerência
Executiva do Ibama no Rio, Walter Plácido, afirmou que a prefeitura de Arraial do Cabo e a Cerj
(Companhia de Eletricidade do
Rio de Janeiro), que construiu rede elétrica no local, serão autuadas por omissão e por terem supostamente contribuído para a
ocupação ilegal.
O prefeito de Arraial do Cabo,
Henrique Melman (PDT), classificou como "demagógica" a operação e disse que a responsabilidade pela fiscalização é do próprio Ibama e da Polícia Militar.
A Cerj informou, por meio de
nota, que construiu a rede elétrica
no local "somente após a ocorrência da invasão, visando preservar
a vida dos moradores dos riscos
de choque elétrico".
Texto Anterior: Exploração sexual: Relatório propõe indiciamento de políticos investigados por CPI Próximo Texto: Habitação: Famílias de sem-teto invadem 12 áreas no oeste de Ribeirão Preto Índice
|