São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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Autoridades batem boca após ataques

Para Thomaz Bastos, Exército teria efeito "dissuasório"; Saulo diz que a União "falta com a verdade" sobre liberação de verbas

Lembo disse que ministro deveria se preocupar com as fronteiras do país, por onde estariam entrando armas pesadas usadas pelo PCC


DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A terceira onda de ataques do PCC desencadeou um intenso bate-boca entre autoridades do governo de São Paulo e da União sobre a crise de segurança no Estado, iniciada em maio.
Logo pela manhã, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou que, se o Estado tivesse aceitado o envio das Forças Armadas, a situação estaria controlada. "Acredito que, se a gente colocasse operações do Exército aqui, teriam um efeito dissuasório muito grande, como teriam tido em maio, como teriam tido em julho, como teriam tido agora", afirmou Thomaz Bastos.
Saulo de Castro Abreu Filho, secretário paulista da Segurança Pública -e que participava da cerimônia de entrega de novos veículos para a Polícia Militar-, reagiu duramente. Disse que o ministro "faltou com a verdade" quando anunciou a liberação imediata de recursos para São Paulo (R$ 100 milhões) e fez um desafio: disse que deixa o cargo se o dinheiro for liberado neste ano. "Se o que ele disse acontecer, me calo e entrego o cargo. Agora, se não, ele entrega o cargo antes do dia 31, porque depois que acabar o governo não vale."
À tarde, o ministro respondeu que o dinheiro está disponível, mas que não foi liberado porque o Estado não enviou os documentos necessários para isso. "A gente chega a pensar, pela veemência com que algumas autoridades estaduais colocam a questão, que eles não querem o dinheiro."
Saulo, ao comentar a questão do Exército, disse que aceitaria as tropas para vigiar muros de penitenciária e para realizar operações contra o tráfico em favelas. Mas fez uma ressalva. Disse que seriam necessários pelo menos 4.500 homens. Para ele, sendo menos que isso não há utilidade. O governo, segundo Saulo, teria oferecido 2.800, "sendo 800 oficiais". A polícia paulista conta com um efetivo de 140 mil homens.

Lembo minimiza ataques
Ao longo do dia, o governador Cláudio Lembo (PFL) tentou minimizar o impacto dos novos ataques, que, segundo ele, foram ""situações muito simbólicas, mas sem efetividade".
Horas antes dos novos atentados -desencadeados por ordens de presidiários do PCC-, o governador havia dito que a situação nos presídios não estava tensa e que ele estava acompanhando diariamente.
Lembo, ontem, também ironizou a ajuda federal, em entrevista à Folha. Disse que, em de vez ficar oferecendo ajuda das tropas federais, o ministro deveria se preocupar com as fronteiras brasileiras, por onde estariam entrando armas pesadas, usadas pelo PCC. "Ele deveria ficar menos nos tapetes de São Paulo", completou.
O comandante da PM, Elizeu Eclair Borges, disse que o Exército só ajudaria se viesse com mais de 2.000 homens. "Se é para vir desfilar na Paulista, o governo [estadual] está certo."
Ele insinuou que os ataques têm cunho político. "Até as eleições teremos novos surtos." Ao detalhar a afirmação após ser questionado, o comandante disse: "Vocês mesmos já publicaram isso, que eles querem atacar o partido A ou o B."
Pesquisa feita pelo Datafolha em julho apontou que 88% dos eleitores brasileiros e 82% dos eleitores paulistas apóiam a presença das tropas nas ruas. A pesquisa ocorreu menos de uma semana depois da segunda onda de ataques do PCC.

Eleição
Além de ironizar a ajuda federal, o secretário Abreu Filho afirmou que o ministro da Justiça explora eleitoralmente a crise de segurança no Estado. E levantou suspeitas de favorecimento a uma ONG que receberia repasses da União para realizar um mutirão para avaliar a situação processual de presos.
O dinheiro, afirmou em discurso, ""virá para uma ONG amiga [de pessoas ligadas ao governo federal], aquela que ataca o governo sem pensar duas vezes". ""Não haverá concorrência, vai ser direcionado para quem quiserem", disse.
O secretário afirmou também que essa promessa ""cria falsa expectativa, vende algo que não é real" aos presos, que acreditariam que poderiam obter a liberdade logo. ""E que negócio é esse de ministro passar recursos para terceiros?"
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, CLÁUDIA COLLUCCI, FÁBIO TAKAHASHI, PEDRO DIAS LEITE E EDUARDO SCOLESE)

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