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Autoridades batem boca após ataques
Para Thomaz Bastos, Exército teria efeito "dissuasório"; Saulo diz que a União "falta com a verdade" sobre liberação de verbas
Lembo disse que ministro deveria se preocupar com as fronteiras do país, por onde estariam entrando armas pesadas usadas pelo PCC
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A terceira onda de ataques do
PCC desencadeou um intenso
bate-boca entre autoridades do
governo de São Paulo e da
União sobre a crise de segurança no Estado, iniciada em maio.
Logo pela manhã, o ministro
da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, afirmou que, se o Estado tivesse aceitado o envio das
Forças Armadas, a situação estaria controlada. "Acredito que,
se a gente colocasse operações
do Exército aqui, teriam um
efeito dissuasório muito grande, como teriam tido em maio,
como teriam tido em julho, como teriam tido agora", afirmou
Thomaz Bastos.
Saulo de Castro Abreu Filho,
secretário paulista da Segurança Pública -e que participava
da cerimônia de entrega de novos veículos para a Polícia Militar-, reagiu duramente. Disse
que o ministro "faltou com a
verdade" quando anunciou a liberação imediata de recursos
para São Paulo (R$ 100 milhões) e fez um desafio: disse
que deixa o cargo se o dinheiro
for liberado neste ano. "Se o
que ele disse acontecer, me calo
e entrego o cargo. Agora, se não,
ele entrega o cargo antes do dia
31, porque depois que acabar o
governo não vale."
À tarde, o ministro respondeu que o dinheiro está disponível, mas que não foi liberado
porque o Estado não enviou os
documentos necessários para
isso. "A gente chega a pensar,
pela veemência com que algumas autoridades estaduais colocam a questão, que eles não
querem o dinheiro."
Saulo, ao comentar a questão
do Exército, disse que aceitaria
as tropas para vigiar muros de
penitenciária e para realizar
operações contra o tráfico em
favelas. Mas fez uma ressalva.
Disse que seriam necessários
pelo menos 4.500 homens. Para ele, sendo menos que isso
não há utilidade. O governo, segundo Saulo, teria oferecido
2.800, "sendo 800 oficiais". A
polícia paulista conta com um
efetivo de 140 mil homens.
Lembo minimiza ataques
Ao longo do dia, o governador
Cláudio Lembo (PFL) tentou
minimizar o impacto dos novos
ataques, que, segundo ele, foram ""situações muito simbólicas, mas sem efetividade".
Horas antes dos novos atentados -desencadeados por ordens de presidiários do PCC-,
o governador havia dito que a
situação nos presídios não estava tensa e que ele estava acompanhando diariamente.
Lembo, ontem, também ironizou a ajuda federal, em entrevista à Folha. Disse que, em de
vez ficar oferecendo ajuda das
tropas federais, o ministro deveria se preocupar com as fronteiras brasileiras, por onde estariam entrando armas pesadas, usadas pelo PCC. "Ele deveria ficar menos nos tapetes
de São Paulo", completou.
O comandante da PM, Elizeu
Eclair Borges, disse que o Exército só ajudaria se viesse com
mais de 2.000 homens. "Se é
para vir desfilar na Paulista, o
governo [estadual] está certo."
Ele insinuou que os ataques
têm cunho político. "Até as
eleições teremos novos surtos." Ao detalhar a afirmação
após ser questionado, o comandante disse: "Vocês mesmos já
publicaram isso, que eles querem atacar o partido A ou o B."
Pesquisa feita pelo Datafolha
em julho apontou que 88% dos
eleitores brasileiros e 82% dos
eleitores paulistas apóiam a
presença das tropas nas ruas. A
pesquisa ocorreu menos de
uma semana depois da segunda
onda de ataques do PCC.
Eleição
Além de ironizar a ajuda federal, o secretário Abreu Filho
afirmou que o ministro da Justiça explora eleitoralmente a
crise de segurança no Estado. E
levantou suspeitas de favorecimento a uma ONG que receberia repasses da União para realizar um mutirão para avaliar a
situação processual de presos.
O dinheiro, afirmou em discurso, ""virá para uma ONG
amiga [de pessoas ligadas ao
governo federal], aquela que
ataca o governo sem pensar
duas vezes". ""Não haverá concorrência, vai ser direcionado
para quem quiserem", disse.
O secretário afirmou também que essa promessa ""cria
falsa expectativa, vende algo
que não é real" aos presos, que
acreditariam que poderiam obter a liberdade logo. ""E que negócio é esse de ministro passar
recursos para terceiros?"
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, CLÁUDIA COLLUCCI, FÁBIO TAKAHASHI, PEDRO
DIAS LEITE E EDUARDO SCOLESE)
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