São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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Saída para Dia dos Pais gerou atentados

Presos temem não poder passar o domingo fora das prisões; há suspeitas de que novos ataques estejam programados

Sistema prisional também vive tensão porque Polícia Civil cogitou transferir homens do 2º escalão do PCC para presídio federal


ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A possibilidade de que cerca de 10 mil presos não recebam o benefício da saída temporária para poder passar o Dia dos Pais fora das prisões paulistas foi um dos principais motivos para a terceira onda de ataques atribuídos ao PCC (Primeiro Comando da Capital) contra o Estado e a ordem econômica.
A previsão é que a Justiça, por meio das varas de execuções criminais, comece a conceder o benefício já a partir de quinta, mas a liberação dos detentos ainda não foi confirmada. Informações oficiosas dão conta de que o PCC estaria programando para o domingo outra série de atentados.
Além da questão da saída provisória, o sistema prisional vive outra onda de tensão porque membros da cúpula da Polícia Civil voltaram a cogitar que líderes do PCC sejam levados ao presídio federal de Catanduvas (PR). A Folha apurou que só homens do 2º escalão do grupo deixariam o Estado.
Delegados que participaram da reunião afirmam que essa seria uma "saída política" do governo paulista para evitar um desgaste ainda maior por conta das afrontas promovidas pelo PCC. Levar a Catanduvas presos do 2º escalão da facção seria uma demonstração de que o governo não cedeu às imposições da quadrilha, que, em junho, fez ataques para supostamente evitar transferências.
Dessa maneira, a manutenção dos supostos líderes da facção em São Paulo serviria para evitar o que é chamado dentro da polícia de "atestado de incompetência na segurança pública" -ou seja, a gestão Cláudio Lembo (PFL) não quer dar ao governo federal a chance de dizer que foi "socorrida".
A situação de presídios totalmente destruídos em rebeliões e nos quais ainda são mantidos presos (Araraquara, Itirapina e Mirandópolis) também motivou os ataques de ontem. De manhã, o secretário da Segurança, Saulo Castro de Abreu Filho, disse suspeitar de que os ataques estivessem relacionados à prisão de um criminoso da Baixada Santista.

O "salve"
A ordem para a terceira onda de violência atribuída ao PCC chegou à região metropolitana no início da madrugada de ontem, quando os diversos ônibus com parentes dos detentos apontados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público como líderes do grupo chegaram à capital, vindos de visita às prisões do oeste paulista -que tem 35 presídios e 32 mil detentos.
A ordem, segundo agentes da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde estão 500 homens apontados como integrantes da facção, e promotores públicos e policiais civis da região de Presidente Prudente, foi retransmitida por parentes dos presos -isso evitou que a polícia a grampeasse.
Dois documentos apócrifos atribuídos ao PCC obtidos pela Folha relatam pedidos em nome da população carcerária e justificativas da cúpula da facção para os ataques de ontem no Estado. Num deles, elaborado as 17h30 de ontem, o grupo afirma que "os atentados nada mais são do que a luta dos presos contra o governo paulista para fazer valer o cumprimento da lei de execuções penais".

Gegê
Apontado como um dos três mais importantes líderes do PCC, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, deixou ontem, por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo, o Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, que funciona em sistema de Regime Disciplinar Diferenciado, onde estava desde 13 de maio. À época, o governo alegou que ele era uma "ameaça às autoridades".
Gegê foi absolvido da acusação por falta de provas. (AC)

Colaboraram KLEBER TOMAZ e JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, da Reportagem Local


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