|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ato é "terrorismo criminal", diz analista
Para especialista em segurança, objetivo do PCC é deixar sociedade inquieta e fazê-la pressionar Estado a ceder a suas exigências
Héctor Luis Saint-Pierre
afirma que, se ataques
virarem rotina, perderão o
seu efeito, pois o terror
precisa ser surpreendente
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
A terceira onda de ataques
em São Paulo é o marco de fundação do "terrorismo criminal"
no Brasil, na avaliação de Héctor Luis Saint-Pierre, coordenador da pós-graduação em
Paz, Defesa e Segurança Internacional do grupo que reúne
três das principais universidades do país -Unesp, PUC-SP e
Unicamp. Autor do livro "A Política Armada", esse argentino
que vive há 24 anos no Brasil
diz que os cidadãos com medo
pressionam o Estado a negociar
com o crime. Leia entrevista.
FOLHA - A terceira onda de ataques
do crime organizado colocou São
Paulo na rota do terror?
HÉCTOR LUIS SAINT-PIERRE - Ficou
claro que estão empregando
um tipo de ação tipicamente
terrorista, na qual não se procura o lucro, como em delitos
comuns, mas disseminar o terror psicológico na sociedade.
No campo físico de combate,
acontecem tiros e mortes, em
que aparecem as vítimas táticas. Mas a vítima estratégica, a
preferencial do PCC, somos todos nós, os que ficaram vivos e
têm a consciência de que podem ser a próxima vítima.
FOLHA - E de que forma a pressão
psicológica beneficia o crime?
SAINT-PIERRE - Quando o cidadão comum percebe que aquele
Estado para o qual paga pesadas cargas tributárias demonstra não ter condições de fornecer segurança. Assim, a inquietação da sociedade civil pressiona o Estado a ceder à exigência dos bandidos. Se fosse uma
organização política, o PCC estaria procurando desarticular o
tecido social para se apropriar
do poder político. Mas, nesse
caso, não há um objetivo político. Eles querem ajoelhar a autoridade e obrigá-la a negociar
sob suas condições. O cidadão
fica desamparado, e o Estado
cai em descrédito.
FOLHA - Os ataques terroristas vão
se tornar uma rotina no Brasil?
SAINT-PIERRE - É difícil avaliar.
Mas, se virar rotina, o terror
perde o efeito. O terror sempre
tem de ser surpreendente.
FOLHA - Mas qual o risco de ocorrerem novos ataques?
SAINT-PIERRE - Acho que se abriu
um novo capítulo que deve ser
estudado: o terrorismo criminal. E temos de encontrar qual
é a melhor resposta. No combate ao terrorismo político, emprega-se a inteligência, seja por
infiltrações de pessoas nos grupos criminosos ou por interceptação de informações. Nas
vezes em que o mundo empregou Forças Armadas, o terror
se multiplicou. Veja o Iraque,
onde agora ficou difícil conter a
força insurrecional.
FOLHA - O senhor acredita que há
negociações nos bastidores dessa
guerra em São Paulo?
SAINT-PIERRE - Não saberia dizer, mas não vejo outro objetivo. Por que um grupo criminoso agiria com táticas terroristas
se isso acaba trazendo mais polícia à rua, enquanto o interesse
de bandidos comuns seria ter
menos policiais nas ruas?
Texto Anterior: Moradores de Higienópolis cobram mais policiamento Próximo Texto: Violência doméstica terá punição maior Índice
|