São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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Ato é "terrorismo criminal", diz analista

Para especialista em segurança, objetivo do PCC é deixar sociedade inquieta e fazê-la pressionar Estado a ceder a suas exigências

Héctor Luis Saint-Pierre afirma que, se ataques virarem rotina, perderão o seu efeito, pois o terror precisa ser surpreendente


FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

A terceira onda de ataques em São Paulo é o marco de fundação do "terrorismo criminal" no Brasil, na avaliação de Héctor Luis Saint-Pierre, coordenador da pós-graduação em Paz, Defesa e Segurança Internacional do grupo que reúne três das principais universidades do país -Unesp, PUC-SP e Unicamp. Autor do livro "A Política Armada", esse argentino que vive há 24 anos no Brasil diz que os cidadãos com medo pressionam o Estado a negociar com o crime. Leia entrevista.

 

FOLHA - A terceira onda de ataques do crime organizado colocou São Paulo na rota do terror?
HÉCTOR LUIS SAINT-PIERRE -
Ficou claro que estão empregando um tipo de ação tipicamente terrorista, na qual não se procura o lucro, como em delitos comuns, mas disseminar o terror psicológico na sociedade. No campo físico de combate, acontecem tiros e mortes, em que aparecem as vítimas táticas. Mas a vítima estratégica, a preferencial do PCC, somos todos nós, os que ficaram vivos e têm a consciência de que podem ser a próxima vítima.

FOLHA - E de que forma a pressão psicológica beneficia o crime?
SAINT-PIERRE -
Quando o cidadão comum percebe que aquele Estado para o qual paga pesadas cargas tributárias demonstra não ter condições de fornecer segurança. Assim, a inquietação da sociedade civil pressiona o Estado a ceder à exigência dos bandidos. Se fosse uma organização política, o PCC estaria procurando desarticular o tecido social para se apropriar do poder político. Mas, nesse caso, não há um objetivo político. Eles querem ajoelhar a autoridade e obrigá-la a negociar sob suas condições. O cidadão fica desamparado, e o Estado cai em descrédito.

FOLHA - Os ataques terroristas vão se tornar uma rotina no Brasil?
SAINT-PIERRE -
É difícil avaliar. Mas, se virar rotina, o terror perde o efeito. O terror sempre tem de ser surpreendente.

FOLHA - Mas qual o risco de ocorrerem novos ataques?
SAINT-PIERRE -
Acho que se abriu um novo capítulo que deve ser estudado: o terrorismo criminal. E temos de encontrar qual é a melhor resposta. No combate ao terrorismo político, emprega-se a inteligência, seja por infiltrações de pessoas nos grupos criminosos ou por interceptação de informações. Nas vezes em que o mundo empregou Forças Armadas, o terror se multiplicou. Veja o Iraque, onde agora ficou difícil conter a força insurrecional.

FOLHA - O senhor acredita que há negociações nos bastidores dessa guerra em São Paulo?
SAINT-PIERRE -
Não saberia dizer, mas não vejo outro objetivo. Por que um grupo criminoso agiria com táticas terroristas se isso acaba trazendo mais polícia à rua, enquanto o interesse de bandidos comuns seria ter menos policiais nas ruas?


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