São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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Fumante diz se sentir discriminado nas ruas

"Somos vistos como extraterrestres", afirma funcionário do TRF na Paulista

Em vários bares e boates da região da rua Augusta, clientes tiveram de pegar filas e pagar a comanda antes de sair para fumar

DA REPORTAGEM LOCAL

Na estreia da lei antifumo, fumantes, agora proibidos de praticar o vício dentro da empresa, reclamaram dos olhares tortos -mesmo quando vão à calçada para fumar.
"Procuro fumar no cantinho, porque as pessoas estão olhando feio para quem fuma andando na rua", diz Mario Toshio, 44, funcionário do Tribunal Regional Federal (TRF) na avenida Paulista.
A alguns quarteirões, em frente a uma agência de turismo, Mariana contava que seu chefe monitora com câmera de segurança funcionários que saem para fumar.
"Só saio de duas em duas horas, o que é bom, porque estou até fumando menos", diz ela, também no time dos que relatam olhares de crítica nas ruas. "O fumante agora é visto como extraterrestre."
O atendente de telemarketing Arthur Batiliere, de 22 anos, diz que fuma pouco durante o expediente -apenas um cigarro por dia. Mas afirma que a extinção dos fumódromos da empresa onde trabalha pode ter reflexo negativo na produtividade. "A empresa deve ter uns 8.000 funcionários. Acho que 20% são fumantes e precisam ficar descendo para fumar. Com certeza isso prejudica o rendimento", afirma.
Ontem à tarde, muitas pessoas não permitiam ser fotografadas fumando. Uma mulher, que não quis se identificar, explicou: "Parece que fumante agora virou criminoso". Outros fugiram do fotógrafo, afirmando que a empresa não aceitaria que um funcionário tivesse a imagem vinculada ao fumo.

Escondidos no banheiro
No bar Sonique -R$ 40 de consumação mínima-, na rua Bela Cintra, a descoberta de que havia gente fumando escondido no banheiro causou alvoroço na segurança do local, que confirmou ter sentido cheiro de fumaça e, em dois tempos, colocou um vigia de plantão no lavabo.
Com as batidas fortes na porta, o economista André Furtado sai e pergunta: "Algum problema"? "Tem alguém fumando aqui dentro, olha o cheiro", dizia o segurança, que depois disso ficou plantado e não saiu mais de lá.
Como em vários outros bares e boates da região da rua Augusta, por lá os clientes tinham de pagar a comanda antes de sair para fumar -e pegar uma fila no caixa e outra para entrar. Quem saía para dar as tragadas recebia uma pulseira que isentava a cobrança de consumação na volta.
"Se estivesse lá dentro, já teria fumado uns sete ou oito cigarros. Até agora, porque tenho de sair, só fumei dois. Dá muito trabalho", afirmava o administrador Daniel Junqueira.
Em boates como A Lôca e D-Edge, os maços foram confiscados na entrada, etiquetados e jogados numa caixa de papelão. Para fumar, os clientes tiveram de pegar a fila para entrar novamente.
No Sonique, um segurança da porta reclamava: "Está pior. Em vez de o pessoal do bar, o fumante passivo agora sou eu".


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