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Fumante diz se sentir discriminado nas ruas
"Somos vistos como extraterrestres",
afirma funcionário do TRF na Paulista
Em vários bares e boates da
região da rua Augusta,
clientes tiveram de pegar
filas e pagar a comanda
antes de sair para fumar
DA REPORTAGEM LOCAL
Na estreia da lei antifumo,
fumantes, agora proibidos de
praticar o vício dentro da empresa, reclamaram dos olhares
tortos -mesmo quando vão à
calçada para fumar.
"Procuro fumar no cantinho,
porque as pessoas estão olhando feio para quem fuma andando na rua", diz Mario Toshio,
44, funcionário do Tribunal
Regional Federal (TRF) na avenida Paulista.
A alguns quarteirões, em
frente a uma agência de turismo, Mariana contava que seu
chefe monitora com câmera de
segurança funcionários que
saem para fumar.
"Só saio de duas em duas horas, o que é bom, porque estou
até fumando menos", diz ela,
também no time dos que relatam olhares de crítica nas ruas.
"O fumante agora é visto como
extraterrestre."
O atendente de telemarketing Arthur Batiliere, de 22
anos, diz que fuma pouco durante o expediente -apenas
um cigarro por dia. Mas afirma
que a extinção dos fumódromos da empresa onde trabalha
pode ter reflexo negativo na
produtividade. "A empresa deve ter uns 8.000 funcionários.
Acho que 20% são fumantes e
precisam ficar descendo para
fumar. Com certeza isso prejudica o rendimento", afirma.
Ontem à tarde, muitas pessoas não permitiam ser fotografadas fumando. Uma mulher, que não quis se identificar,
explicou: "Parece que fumante
agora virou criminoso". Outros
fugiram do fotógrafo, afirmando que a empresa não aceitaria
que um funcionário tivesse a
imagem vinculada ao fumo.
Escondidos no banheiro
No bar Sonique -R$ 40 de
consumação mínima-, na rua
Bela Cintra, a descoberta de
que havia gente fumando escondido no banheiro causou alvoroço na segurança do local,
que confirmou ter sentido
cheiro de fumaça e, em dois
tempos, colocou um vigia de
plantão no lavabo.
Com as batidas fortes na porta, o economista André Furtado sai e pergunta: "Algum problema"? "Tem alguém fumando aqui dentro, olha o cheiro",
dizia o segurança, que depois
disso ficou plantado e não saiu
mais de lá.
Como em vários outros bares
e boates da região da rua Augusta, por lá os clientes tinham
de pagar a comanda antes de
sair para fumar -e pegar uma
fila no caixa e outra para entrar. Quem saía para dar as tragadas recebia uma pulseira que
isentava a cobrança de consumação na volta.
"Se estivesse lá dentro, já teria fumado uns sete ou oito cigarros. Até agora, porque tenho
de sair, só fumei dois. Dá muito
trabalho", afirmava o administrador Daniel Junqueira.
Em boates como A Lôca e
D-Edge, os maços foram confiscados na entrada, etiquetados e jogados numa caixa de
papelão. Para fumar, os clientes tiveram de pegar a fila para
entrar novamente.
No Sonique, um segurança
da porta reclamava: "Está pior.
Em vez de o pessoal do bar, o
fumante passivo agora sou eu".
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