São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2001

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URBANISMO

Empresários querem contribuição de moradores para melhorar ambiente, circulação e segurança da região

Vila Olímpia pode virar "bairro-condomínio"

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Você pagaria uma taxa para que uma associação da sociedade civil fizesse melhorias no seu bairro?
Essa é a idéia defendida por um grupo de empresários da Vila Olímpia (bairro nobre na zona oeste de São Paulo) que quer implantar na região um esquema de condomínio, a fim de resolver problemas urbanísticos, ambientais e de segurança, sem ter de esperar pela ação da prefeitura.
Eles lançarão a Associação Colméia Vila Olímpia, parte do Movimento Colméia São Paulo, na segunda-feira, quando também começam a circular os primeiros dois carros da empresa de segurança particular Impacto, contratada para patrulhar as ruas.
O grupo já fez um diagnóstico das principais deficiências encontradas na região -falta de estacionamento, calçadas estreitas e malcuidadas, poucas árvores, falta de áreas comuns, quarteirões muito grandes sem interligações locais, entre outros-, com base no qual espera poder começar a operar mudanças no bairro.
As empresas associadas, entre elas a Philips do Brasil, o Unibanco, a Camargo Corrêa, agências de publicidade, construtoras e imobiliárias, devem arcar com grande parte dos custos dos projetos a serem tocados, mas quem mora ou trabalha na região também será convidado a colaborar.
A idéia é instituir valores diferenciados para uma "taxa de condomínio do bairro", que poderia ser incluída no condomínio de prédios residenciais ou comerciais ou paga à parte, no caso de casas. A contribuição não seria obrigatória, uma vez que isso é proibido por lei, mas os entusiastas do movimento dizem acreditar que a adesão será grande.
"O risco de alguém não querer colaborar sempre ocorre, mas, se não quisermos correr esse risco, não vamos fazer nada. Quando as mudanças começarem a aparecer, as pessoas vão se convencer a participar", afirma o arquiteto e urbanista Roberto Aflalo Filho, da Aflalo e Gasperini Arquitetura, uma das empresas associadas à Colméia Vila Olímpia.
"Nossa intenção não é fazer um movimento elitista, mas que traga benfeitorias para todo o bairro", diz o publicitário Bob Eugênio, que mora e trabalha na Vila Olímpia e cuja agência de propaganda é responsável pela comunicação da associação. Para informar os moradores da região sobre os planos do movimento, serão distribuídos folhetos explicativos.
A idéia do "bairro-condomínio" dos empresários da Vila Olímpia é vista com bons olhos pela prefeitura e pela Polícia Militar do Estado, desde que seja posta em prática em parceria com os órgãos oficiais e de acordo com seus planos gerais para a cidade.

Limites
"Qualquer iniciativa que deixe a população mais tranquila é válida, mas segurança pública é o Estado que tem de fazer. Uma empresa de segurança particular tem limites de ação", sustenta o coronel João Leonardo Mele, chefe do comando da PM na região oeste.
Ele explica que um guarda contratado não tem poder de polícia, não pode invadir áreas públicas e, se trabalhar armado, sua ação tem de se limitar ao espaço particular.
"Espero que eles [os membros da associação" me procurem para que possamos discutir juntos a melhor forma de trabalharmos em conjunto", diz Mele.
"Um processo de engajamento urbanístico de empresas particulares, tomando para si parte das responsabilidades pelos rumos da cidade, é um dado bastante positivo, mas não se trata de tomar o lugar da prefeitura", diz Maurício Faria, presidente da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização).
Segundo ele, a comunidade pode, por exemplo, cuidar da manutenção das calçadas e das fachadas dos imóveis, mas o cuidado com as vias e a organização do trânsito cabem ao poder municipal.
Na avaliação de Faria, o fato de pessoas começarem a desviar sua atenção do espaço particular para o comum pode significar o início da superação da degradação da cidade. "É ganho também para as próprias empresas que investem", completa.

Vida noturna e internet
Para Roberto Aflalo Júnior, a história da Vila Olímpia e o crescimento do bairro nos últimos anos explicam o surgimento do movimento naquela região.
No início do século 20, a área era dividida basicamente em chácaras na parte alta (próximo à avenida Santo Amaro) e terrenos alagados na parte baixa (próximo à avenida Nações Unidas).
Na década de 30, algumas das chácaras foram loteadas e surgiram as primeiras construções. Alguns anos depois, na parte baixa, instalaram-se indústrias de médio e grande porte.
Em 1990, as ampliações das avenidas Faria Lima e Hélio Pellegrino facilitaram o acesso ao bairro, e, a partir de 1993, em consequência de obras que diminuíram os alagamentos na região baixa, começou o "boom" de ocupação.
Desde então, mais de 150 prédios comerciais de pequeno, médio e grande porte foram construídos ou reformados no bairro. Dentro deles, trabalham mais de 70 mil pessoas. Pelas ruas, circulam mais de 120 mil pessoas por dia, nas áreas comerciais, residenciais e culturais.
A Vila Olímpia tornou-se conhecida nos últimos dois anos por ser o endereço preferido das empresas de tecnologia da informação e de internet. Tem também uma agitada vida noturna, com mais de 35 bares e danceterias e cerca de cem restaurantes, além de duas das maiores casas de shows da cidade de São Paulo, o Tom Brasil e a Via Funchal.
"Todas as funções vão ser respeitadas, e é importante manter as moradias", afirma Aflalo Filho.


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