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URBANISMO
Empresários querem contribuição de moradores para melhorar ambiente, circulação e segurança da região
Vila Olímpia pode virar "bairro-condomínio"
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Você pagaria uma taxa para que
uma associação da sociedade civil
fizesse melhorias no seu bairro?
Essa é a idéia defendida por um
grupo de empresários da Vila
Olímpia (bairro nobre na zona
oeste de São Paulo) que quer implantar na região um esquema de
condomínio, a fim de resolver
problemas urbanísticos, ambientais e de segurança, sem ter de esperar pela ação da prefeitura.
Eles lançarão a Associação Colméia Vila Olímpia, parte do Movimento Colméia São Paulo, na
segunda-feira, quando também
começam a circular os primeiros
dois carros da empresa de segurança particular Impacto, contratada para patrulhar as ruas.
O grupo já fez um diagnóstico
das principais deficiências encontradas na região -falta de estacionamento, calçadas estreitas e
malcuidadas, poucas árvores, falta de áreas comuns, quarteirões
muito grandes sem interligações
locais, entre outros-, com base
no qual espera poder começar a
operar mudanças no bairro.
As empresas associadas, entre
elas a Philips do Brasil, o Unibanco, a Camargo Corrêa, agências
de publicidade, construtoras e
imobiliárias, devem arcar com
grande parte dos custos dos projetos a serem tocados, mas quem
mora ou trabalha na região também será convidado a colaborar.
A idéia é instituir valores diferenciados para uma "taxa de condomínio do bairro", que poderia
ser incluída no condomínio de
prédios residenciais ou comerciais ou paga à parte, no caso de
casas. A contribuição não seria
obrigatória, uma vez que isso é
proibido por lei, mas os entusiastas do movimento dizem acreditar que a adesão será grande.
"O risco de alguém não querer
colaborar sempre ocorre, mas, se
não quisermos correr esse risco,
não vamos fazer nada. Quando as
mudanças começarem a aparecer, as pessoas vão se convencer a
participar", afirma o arquiteto e
urbanista Roberto Aflalo Filho, da
Aflalo e Gasperini Arquitetura,
uma das empresas associadas à
Colméia Vila Olímpia.
"Nossa intenção não é fazer um
movimento elitista, mas que traga
benfeitorias para todo o bairro",
diz o publicitário Bob Eugênio,
que mora e trabalha na Vila Olímpia e cuja agência de propaganda
é responsável pela comunicação
da associação. Para informar os
moradores da região sobre os planos do movimento, serão distribuídos folhetos explicativos.
A idéia do "bairro-condomínio" dos empresários da Vila
Olímpia é vista com bons olhos
pela prefeitura e pela Polícia Militar do Estado, desde que seja posta em prática em parceria com os
órgãos oficiais e de acordo com
seus planos gerais para a cidade.
Limites
"Qualquer iniciativa que deixe a
população mais tranquila é válida, mas segurança pública é o Estado que tem de fazer. Uma empresa de segurança particular tem
limites de ação", sustenta o coronel João Leonardo Mele, chefe do
comando da PM na região oeste.
Ele explica que um guarda contratado não tem poder de polícia,
não pode invadir áreas públicas e,
se trabalhar armado, sua ação tem
de se limitar ao espaço particular.
"Espero que eles [os membros
da associação" me procurem para
que possamos discutir juntos a
melhor forma de trabalharmos
em conjunto", diz Mele.
"Um processo de engajamento
urbanístico de empresas particulares, tomando para si parte das
responsabilidades pelos rumos da
cidade, é um dado bastante positivo, mas não se trata de tomar o lugar da prefeitura", diz Maurício
Faria, presidente da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização).
Segundo ele, a comunidade pode, por exemplo, cuidar da manutenção das calçadas e das fachadas
dos imóveis, mas o cuidado com
as vias e a organização do trânsito
cabem ao poder municipal.
Na avaliação de Faria, o fato de
pessoas começarem a desviar sua
atenção do espaço particular para
o comum pode significar o início
da superação da degradação da
cidade. "É ganho também para as
próprias empresas que investem", completa.
Vida noturna e internet
Para Roberto Aflalo Júnior, a
história da Vila Olímpia e o crescimento do bairro nos últimos
anos explicam o surgimento do
movimento naquela região.
No início do século 20, a área era
dividida basicamente em chácaras na parte alta (próximo à avenida Santo Amaro) e terrenos alagados na parte baixa (próximo à
avenida Nações Unidas).
Na década de 30, algumas das
chácaras foram loteadas e surgiram as primeiras construções. Alguns anos depois, na parte baixa,
instalaram-se indústrias de médio e grande porte.
Em 1990, as ampliações das avenidas Faria Lima e Hélio Pellegrino facilitaram o acesso ao bairro,
e, a partir de 1993, em consequência de obras que diminuíram os
alagamentos na região baixa, começou o "boom" de ocupação.
Desde então, mais de 150 prédios comerciais de pequeno, médio e grande porte foram construídos ou reformados no bairro.
Dentro deles, trabalham mais de
70 mil pessoas. Pelas ruas, circulam mais de 120 mil pessoas por
dia, nas áreas comerciais, residenciais e culturais.
A Vila Olímpia tornou-se conhecida nos últimos dois anos
por ser o endereço preferido das
empresas de tecnologia da informação e de internet. Tem também uma agitada vida noturna,
com mais de 35 bares e danceterias e cerca de cem restaurantes,
além de duas das maiores casas de
shows da cidade de São Paulo, o
Tom Brasil e a Via Funchal.
"Todas as funções vão ser respeitadas, e é importante manter
as moradias", afirma Aflalo Filho.
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