São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2001

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SALVADOR

Celeste diz que houve coação policial; delegado nega

Ex-bancária é absolvida por morte de 2 filhos, após ficar 6 anos presa

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Desembargadores das duas Câmaras Criminais do Tribunal de Justiça da Bahia absolveram anteontem à noite a ex-bancária Celeste Maria Vargas de Mello, 48, acusada de matar por estrangulamento seus filhos Oayssa e Maurício Mello, em Salvador, em 1984.
Presa em São Paulo em 93, ela foi condenada pela Justiça baiana duas vezes, a 36 e a 24 anos de prisão. Seus advogados recorreram e a pena foi reduzida para 18 anos. Celeste cumpriu seis anos.
Na época do crime (março de 84), ela confessou os assassinatos em depoimento à polícia. Depois, fugiu para o Rio e São Paulo, onde constituiu outra família.
Ao ser presa, Celeste disse que confessou sob coação policial. Em 95, Adilson do Espírito Santo, que estava preso em Salvador, confessou ser o autor dos homicídios.
O julgamento feito pelos desembargadores baianos ocorreu dois anos após o advogado da ex-bancária ter enviado à Justiça um pedido de anulação da pena.
A decisão foi baseada no depoimento de Espírito Santo e nas declarações de Celeste antes de assumir a culpa pelos homicídios. Ela havia dito que o assassino tinha uma deformação física na mão direita, característica que se assemelha à mão de Espírito Santo.
Um dia após os crimes, Celeste disse que três homens invadiram sua casa para roubar um carro. Um dos homens teria estrangulado as crianças, que tinham 8 (Oayssa) e 9 anos (Maurício).
Um mês depois -a PM não havia identificado os criminosos-, a ex-bancária confessou ter matado os filhos. "Fui coagida pelo delegado Valdir Barbosa para confessar os crimes. Na época, ele me disse que, após a minha confissão, os verdadeiros criminosos apareceriam e seriam presos."
Celeste disse estar aliviada com a absolvição. "Agora, minha vida vai mudar. A justiça foi feita."
O advogado José Carlos Portela Santana disse que os desembargadores determinaram que Celeste tem direito a indenização. "Ainda não tenho a menor idéia do valor da indenização por danos e direitos morais. O Estado condenou injustamente minha cliente. Agora vamos exigir nossos direitos."
O delegado Barbosa negou que tenha havido coação policial. Segundo ele, a investigação demonstrou que Celeste matou os filhos por estrangulamento.


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