São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

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Livro escolar sobe mais que o dobro da inflação em 5 anos

Segundo o Dieese, alta foi de 70,63%, contra 31,15% de inflação entre 2003 e 2007

Nos principais colégios particulares de São Paulo, gasto com livros didáticos em 2008 para um único filho pode chegar a R$ 1.100

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O preço dos livros escolares na cidade de São Paulo aumentou mais que o dobro da inflação em cinco anos. De 2003 a 2007, os livros ficaram 70,63% mais caros. No período, a inflação medida pelo ICV (Índice de Custo de Vida) foi de 31,15%.
Os dois índices são do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que acompanhou os catálogos das editoras de livros didáticos e dicionários na capital paulista.
O aumento dos livros foi maior que o da inflação em todos os anos. Em 2007, o material subiu 4,67%. O ICV apontou uma inflação de 3,67%.
A Folha procurou alguns dos principais colégios particulares de São Paulo e constatou que, no início do ano letivo 2008, os desembolsos dos pais com os livros escolares de um único filho pode beirar os R$ 1.100.
"Os livros didáticos sofreram aumentos estúpidos", diz a coordenadora do ICV-Dieese, Cornélia Nogueira Porto. Ela, porém, não soube dizer a razão dos reajustes acima da inflação.
Jorge Yunes, presidente da Abrelivros (Associação Brasileira de Editores de Livros), argumenta que o investimento na produção é alto. "Os livros demoram de três a quatro anos para serem desenvolvidos, da criação à impressão." Ele cita os gastos com autores, ilustradores, diagramadores, gráficos e produtores de papel, além dos divulgadores que visitam escola por escola.
"O livro didático é vendido durante apenas três meses do ano, em janeiro, fevereiro e março. Depois disso, acabou", acrescenta. "O preço dos livros não é caro. É razoável."
O coordenador pedagógico do Colégio Bandeirantes, Onofre Rosa, discorda. "O material é, sem dúvida, caro."
Segundo ele, contribui para os altos preços o fato de os livros sofrerem constantes atualizações -o que impede que o mesmo livro seja reutilizado no ano seguinte- e terem atrativos visuais cada vez maiores, para conquistar as crianças e os adolescentes.
Para o educador Fernando José de Almeida, os colégios particulares podem se organizar para pedir aos alunos livros mais baratos.
"O material utilizado pela rede pública é de excelente qualidade, já que passa por uma rigorosa seleção de especialistas. Esse material é mais barato porque as editoras vendem em grandes quantidades para os governos", diz Almeida, que é professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e foi secretário municipal de Educação de São Paulo em 2001 e 2002, na gestão Marta Suplicy (PT). "Uma boa educação não exige necessariamente livro caro."
Os livros mais caros são os do ensino médio. Na escola Móbile, os 21 livros exigidos para a primeira série do ensino médio custam R$ 1.095,70 na livraria sugerida pelo colégio. Os livros do sexto ano (antiga quinta série) do ensino fundamental somam R$ 734,60.
Há escolas, como o Colégio Bandeirantes, que pedem, além dos livros didáticos, uma taxa extra para apostilas e materiais que serão fornecidos pela própria instituição ao longo do ano. Na primeira série do ensino médio, a taxa é de R$ 1.571. A mensalidade dessa série no colégio é de R$ 1.597.
No final de 2004, os livros didáticos receberam do governo federal isenção de certos impostos, como PIS e Cofins.


Colaboraram RICARDO SANGIOVANNI e FILIPE MARCEL


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