|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Livro escolar sobe mais que o dobro da inflação em 5 anos
Segundo o Dieese, alta foi de 70,63%, contra 31,15% de inflação entre 2003 e 2007
Nos principais colégios particulares de São Paulo, gasto com livros didáticos em 2008 para um único filho pode chegar a R$ 1.100
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O preço dos livros escolares
na cidade de São Paulo aumentou mais que o dobro da inflação em cinco anos. De 2003 a
2007, os livros ficaram 70,63%
mais caros. No período, a inflação medida pelo ICV (Índice de
Custo de Vida) foi de 31,15%.
Os dois índices são do Dieese
(Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que acompanhou os catálogos das editoras
de livros didáticos e dicionários
na capital paulista.
O aumento dos livros foi
maior que o da inflação em todos os anos. Em 2007, o material subiu 4,67%. O ICV apontou uma inflação de 3,67%.
A Folha procurou alguns dos
principais colégios particulares
de São Paulo e constatou que,
no início do ano letivo 2008, os
desembolsos dos pais com os
livros escolares de um único filho pode beirar os R$ 1.100.
"Os livros didáticos sofreram
aumentos estúpidos", diz a
coordenadora do ICV-Dieese,
Cornélia Nogueira Porto. Ela,
porém, não soube dizer a razão
dos reajustes acima da inflação.
Jorge Yunes, presidente da
Abrelivros (Associação Brasileira de Editores de Livros), argumenta que o investimento
na produção é alto. "Os livros
demoram de três a quatro anos
para serem desenvolvidos, da
criação à impressão." Ele cita
os gastos com autores, ilustradores, diagramadores, gráficos
e produtores de papel, além
dos divulgadores que visitam
escola por escola.
"O livro didático é vendido
durante apenas três meses do
ano, em janeiro, fevereiro e
março. Depois disso, acabou",
acrescenta. "O preço dos livros
não é caro. É razoável."
O coordenador pedagógico
do Colégio Bandeirantes, Onofre Rosa, discorda. "O material
é, sem dúvida, caro."
Segundo ele, contribui para
os altos preços o fato de os livros sofrerem constantes atualizações -o que impede que o
mesmo livro seja reutilizado no
ano seguinte- e terem atrativos visuais cada vez maiores,
para conquistar as crianças e os
adolescentes.
Para o educador Fernando
José de Almeida, os colégios
particulares podem se organizar para pedir aos alunos livros
mais baratos.
"O material utilizado pela rede pública é de excelente qualidade, já que passa por uma rigorosa seleção de especialistas.
Esse material é mais barato
porque as editoras vendem em
grandes quantidades para os
governos", diz Almeida, que é
professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo) e foi secretário municipal de Educação de São
Paulo em 2001 e 2002, na gestão Marta Suplicy (PT). "Uma
boa educação não exige necessariamente livro caro."
Os livros mais caros são os do
ensino médio. Na escola Móbile, os 21 livros exigidos para a
primeira série do ensino médio
custam R$ 1.095,70 na livraria
sugerida pelo colégio. Os livros
do sexto ano (antiga quinta série) do ensino fundamental somam R$ 734,60.
Há escolas, como o Colégio
Bandeirantes, que pedem,
além dos livros didáticos, uma
taxa extra para apostilas e materiais que serão fornecidos pela própria instituição ao longo
do ano. Na primeira série do
ensino médio, a taxa é de R$
1.571. A mensalidade dessa série no colégio é de R$ 1.597.
No final de 2004, os livros didáticos receberam do governo
federal isenção de certos impostos, como PIS e Cofins.
Colaboraram RICARDO SANGIOVANNI e FILIPE MARCEL
Texto Anterior: Sob Cabral, nº de mortos pela polícia do Rio bate recorde Próximo Texto: Mães fazem brechós de livros e uniformes para reduzir custos Índice
|