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CAMINHO DA FÉ
Rota referendada pela Igreja Católica como versão brasileira do Caminho de Santiago terá inauguração oficial na 3ª
Nova trilha atrai pagador de promessa
MAÉRCIO SANTAMARINA
ENVIADO ESPECIAL AO CAMINHO DA FÉ
A fuga de um pônei levou Netinho, 10, a andar quase 200 quilômetros a pé, durante uma semana, na esperança de reencontrar o
animal. Com a caminhada, o garoto antecipou o pagamento de
uma promessa a Nossa Senhora
Aparecida, sua santa de devoção.
O pequeno peregrino Antonio
Bilarva Neto se transformou, dessa forma, num dos desbravadores
do Caminho da Fé -a versão
brasileira do Caminho de Santiago de Compostela apoiada pela
Igreja Católica-, que será inaugurado oficialmente na próxima
terça-feira, numa solenidade em
Águas da Prata (estância turística
a 235 km ao norte de São Paulo).
Na volta da peregrinação, que
acabou virando uma divertida
aventura para Netinho em seus
últimos dias de férias, Tigrinho, o
pônei que havia fugido em agosto
de 2002, estava no pasto à espera
do dono. A promessa havia sido
atendida após o animal ter passado cinco meses no mato.
Netinho percorreu a trilha,
orientado por setas amarelas,
com outras sete pessoas, incluindo sua mãe, Geny Barros Peres Bilarva, 43. ""O caminho é tão bonito, com cachoeiras onde a gente
pode se refrescar e brincar de escorregador, que eu nem me senti
cansado", conta o menino.
Com mochila nas costas e cajado na mão, o grupo partiu de
Águas da Prata rumo a Aparecida
(167 km a nordeste de SP), um dos
principais centros de romaria do
país, no Vale do Paraíba, que recebe anualmente cerca de 7 milhões
de devotos da padroeira do Brasil.
Geny não fez promessa, mas resolveu acompanhar o filho na caminhada para combater a síndrome do pânico (um distúrbio da
ansiedade causado por problema
emocional ou estresse).
"Na volta da caminhada, não
senti mais a necessidade de tomar
os remédios que eu vinha tomando havia dois anos. Agora estou
pensando em fazer o caminho novamente para parar de fumar.
Quero fazer a rota completa desta
vez", diz ela, que em sua primeira
empreitada foi com o filho até Paraisópolis (MG).
O primeiro trecho do Caminho
da Fé que está sendo inaugurado
tem 343 km. Acompanha quase
toda a serra da Mantiqueira, passando pelo sul de Minas Gerais.
Em Águas da Prata, o peregrino
poderá obter a partir de terça uma
credencial, a ser carimbada nas
paróquias ou em cada uma das 24
Pousadas do Peregrino que estão
sendo criadas a cada 30 quilômetros, para a emissão da Mariana
no final, em Aparecida.
O certificado da igreja equivale à
Compostelana, emitida na Espanha àqueles que comprovam ter
percorrido a maior parte da rota
de peregrinação mais famosa do
mundo ocidental, com cerca de
800 km, percorrida por cerca de
150 mil pessoas a cada ano.
O idealizador do caminho brasileiro, Almiro Grings, 62 -que já
fez duas vezes a rota espanhola,
além da dos incas, no Peru-,
prepara a extensão da trilha até
Tambaú (257 km ao norte), outro
ponto tradicional de romaria, onde viveu o padre Donizetti Tavares de Lima, a quem são atribuídos mais de 700 milagres.
O segundo trecho, que completará a versão caipira do Caminho
de Santiago, com um total de 415
quilômetros, deverá ser inaugurado em 16 de junho, data da morte
do padre, ocorrida em 1961.
"Mesmo antes da oficialização
da rota, muitos peregrinos, de várias partes do país e de diferentes
religiões, têm nos procurado. Há
um potencial incrível a ser explorado aliando o turismo ecológico
a roteiros místicos", diz Grings.
Outro integrante do grupo desbravador da trilha, o paulistano
Marcelo Cunha Bueno, 25, que se
descobriu peregrino quase com a
mesma idade de Netinho e já fez o
Caminho de Santiago e a rota dos
incas, no Peru, diz achar as belezas naturais dessa versão brasileira, que atravessa fazendas do século 19, ainda mais atrativas que
as das outras trilhas místicas.
"As igrejas antigas e os bucólicos vilarejos não ficam nada a dever aos castelos medievais da Espanha. As montanhas são tão lindas quanto às dos incas", diz.
"Nos moldes de Santiago de
Compostela, no Caminho da Fé
não se cobra nenhuma taxa de
inscrição dos peregrinos e as saídas são diárias", diz a peregrina
Iracema Tamashiro, 51.
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