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Menina fica presa em cadeia para homens
A jovem, de 14 anos, ficou em uma cela com três mulheres adultas, o que contraria o Estatuto da Criança e do Adolescente
Na prisão, havia cerca de 110 homens, presos em uma cela separada apenas por um corredor de três metros entre as grades
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Uma menina de 14 anos passou 12 dias presa em uma cela
com outras três mulheres na
Cadeia Pública de Planaltina de
Goiás (GO), que abriga 110 homens e que tem capacidade para apenas 49 detentos. Em
frente à cela onde estava, havia
outra com cerca de 40 homens,
separados apenas por um corredor de três metros entre as
grades.
A jovem foi detida em 28 de
janeiro, após tentativa frustrada de assalto a uma farmácia
com o namorado, que fugiu.
Ontem, três funcionários da
Secretaria Especial dos Direitos Humanos, órgão ligado à
Presidência da República, foram até Planaltina apurar a situação, relatada em reportagem publicada anteontem pelo
jornal "Correio Braziliense".
Após uma audiência no fórum da cidade, ficou decidido
que ela deverá dormir na casa
de uma tia e aguardar uma decisão judicial em liberdade.
De acordo com Fábio Silvestre, assessor da secretaria que
viajou até o local, Conselho Tutelar, Justiça e Promotoria sabiam da situação da menina.
Ela não foi liberada porque,
segundo relato ouvido pelos
funcionários, familiares da
adolescente disseram não ter
"interesse" em ficar com ela.
Como na cidade não há abrigos para adolescentes, ela permaneceu detida em uma cela
com outras mulheres -o que
contraria o ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente). Segundo Silvestre, a jovem relatou não ter sofrido abusos.
Um agente prisional da cadeia, identificado como Antonio, afirmou à Folha que ela,
em 12 dias, não teve contato
com presos homens, pois, segundo ele, a menina se alimentava na cela e o banho de sol
ocorria em horários diferentes.
O conselheiro tutelar Valdimir Aquino Neto afirmou que,
como o município não tem estrutura para abrigar jovens infratores, a detenção da menina
foi a única alternativa. "Eu
acompanhei o caso e ela parecia bem. Pelo menos ela não ficou junto com outros homens."
A Folha telefonou para o governo de Goiás e foi informada
de que a único que falaria sobre
a situação era o superintendente de Segurança Prisional da
Secretaria da Justiça, major
Anésio Barbosa da Cruz Jr.
Ninguém atendeu ao telefone
em seu gabinete. Também ninguém foi localizado no Ministério Público e na Justiça para
comentar o caso.
Pará
Situação semelhante ocorreu
com uma jovem de 15 anos que
ficou presa com 20 homens, na
mesma cela, na cadeia de Abaetetuba, no Pará. O caso foi denunciado pelo Conselho Tutelar do Estado em novembro
passado.
Entidades brasileiras de defesa das mulheres elaboraram
um relatório sobre situações de
abuso e violência contra presas
em pelo menos cinco Estados
brasileiros. O documento foi
entregue à OEA (Organização
dos Estados Americanos) em
março do ano passado, conforme publicado em reportagem
da Folha publicada em 26 de
novembro de 2007.
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