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São Francisco faz 180 anos com mudança no currículo
Faculdade de Direito da USP decide priorizar formação profissional de alunos
Castro Alves, Fagundes Varella e Álvares de Azevedo passaram pela faculdade, mas nem sequer terminaram o curso
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem só de Castro Alves e Rui
Barbosa viverão as Arcadas que
restaram na Faculdade de Direito da USP, no Largo São
Francisco. O epíteto, sim, é o
mesmo. Mas após 180 anos da
primeira aula, comemorados
no último 1º de março, ela tem
mudado de perfil -quer formar
advogados.
"A maioria dos nossos alunos, hoje, se profissionaliza",
diz João Grandino Rodas, diretor da faculdade. Só a São Francisco oferecia um curso de formação humanística, com seu título de bacharel em ciências jurídicas e sociais.
"O mercado está mais sofisticado, o peso da tradição não é
mais suficiente", diz Rodas.
Quando ele era aluno, nos anos
1960, havia só um "bloco único
de saberes".
O objetivo é "formar profissionais de direito úteis para a
sociedade" e não só humanistas. Daí as mudanças no currículo, que começaram a vigorar
neste ano, garantindo que 40%
das disciplinas -as novas, como bioética- sejam escolhidas
pelos alunos.
"Não vai ser um curso só para
o mercado", diz o professor de
filosofia do direito Celso Lafer.
"A São Francisco está um
pouco perdida ainda, mas já caminha para se adaptar ao mercado", diz Paulo Pereira, 23,
presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto. "A gestão de
agora acha mais importante a
formação de alunos que a participação na sociedade."
Na sala de arquivo, estão registrados do primeiro ao último
nome de alunos que passaram
pelas Arcadas. O que permitiu
que o procurador aposentado
Armando Marcondes Machado
Jr. compilasse em sete volumes
os nomes dos egressos, desde
1828.
Das Arcadas saíram nada
menos que 11 presidentes da
República, de Prudente de Morais a Jânio Quadros. Sem mencionar ministros, juízes, diplomatas e literatos.
"Meu pai estava pobre, e eu
achei que, estudando direito lá,
conseguiria um bom emprego",
confessa a escritora Lygia Fagundes Telles. "Mas eu logo me
apaixonei pelas Arcadas. Aquilo era um caminho que se bifurcava em muitas vocações que
não se realizam no direito", diz.
Quando o 11 de Agosto surgiu, em 1903, os alunos já tinham um histórico de lutas. E
já tinham tido Julius Frank,
professor alemão radicado no
Brasil -hoje enterrado no pátio da faculdade- que fundou a
tal da "Bucha", espécie de sociedade secreta.
"No fundo, não são dos juristas de que a faculdade se orgulha mais, mas dos poetas", diz
Pereira. Talvez, por isso, os três
nomes grafados nas Arcadas,
hoje, sejam os de Castro Alves,
Fagundes Varella e Álvares de
Azevedo -que passaram pela
faculdade, mas nem sequer terminaram o curso.
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