São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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São Francisco faz 180 anos com mudança no currículo

Faculdade de Direito da USP decide priorizar formação profissional de alunos

Castro Alves, Fagundes Varella e Álvares de Azevedo passaram pela faculdade, mas nem sequer terminaram o curso

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem só de Castro Alves e Rui Barbosa viverão as Arcadas que restaram na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. O epíteto, sim, é o mesmo. Mas após 180 anos da primeira aula, comemorados no último 1º de março, ela tem mudado de perfil -quer formar advogados.
"A maioria dos nossos alunos, hoje, se profissionaliza", diz João Grandino Rodas, diretor da faculdade. Só a São Francisco oferecia um curso de formação humanística, com seu título de bacharel em ciências jurídicas e sociais.
"O mercado está mais sofisticado, o peso da tradição não é mais suficiente", diz Rodas. Quando ele era aluno, nos anos 1960, havia só um "bloco único de saberes".
O objetivo é "formar profissionais de direito úteis para a sociedade" e não só humanistas. Daí as mudanças no currículo, que começaram a vigorar neste ano, garantindo que 40% das disciplinas -as novas, como bioética- sejam escolhidas pelos alunos.
"Não vai ser um curso só para o mercado", diz o professor de filosofia do direito Celso Lafer.
"A São Francisco está um pouco perdida ainda, mas já caminha para se adaptar ao mercado", diz Paulo Pereira, 23, presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto. "A gestão de agora acha mais importante a formação de alunos que a participação na sociedade."
Na sala de arquivo, estão registrados do primeiro ao último nome de alunos que passaram pelas Arcadas. O que permitiu que o procurador aposentado Armando Marcondes Machado Jr. compilasse em sete volumes os nomes dos egressos, desde 1828.
Das Arcadas saíram nada menos que 11 presidentes da República, de Prudente de Morais a Jânio Quadros. Sem mencionar ministros, juízes, diplomatas e literatos.
"Meu pai estava pobre, e eu achei que, estudando direito lá, conseguiria um bom emprego", confessa a escritora Lygia Fagundes Telles. "Mas eu logo me apaixonei pelas Arcadas. Aquilo era um caminho que se bifurcava em muitas vocações que não se realizam no direito", diz.
Quando o 11 de Agosto surgiu, em 1903, os alunos já tinham um histórico de lutas. E já tinham tido Julius Frank, professor alemão radicado no Brasil -hoje enterrado no pátio da faculdade- que fundou a tal da "Bucha", espécie de sociedade secreta.
"No fundo, não são dos juristas de que a faculdade se orgulha mais, mas dos poetas", diz Pereira. Talvez, por isso, os três nomes grafados nas Arcadas, hoje, sejam os de Castro Alves, Fagundes Varella e Álvares de Azevedo -que passaram pela faculdade, mas nem sequer terminaram o curso.


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