São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Em crise, França barra mais brasileiros

O consulado brasileiro na França e uma ONG que atua em Guarulhos perceberam o aumento dos inadmitidos este ano

"A sensação que se tem é de que há cotas [de brasileiros para barrar]. E não há perfil específico. Todos estão sujeitos", diz consulesa


DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio a ondas de demissão em massa, a França está deportando e barrando mais brasileiros em seus aeroportos.
A tendência é percebida nas duas pontas da viagem Paris-São Paulo. Lá, a consulesa-geral do Brasil, Maria Celina Rodrigues, viu a média de brasileiros devolvidos crescer de "dois ou três" por voo, no final do ano passado, para "oito a dez, chegando a 16 ou 17" em 2009.
Aqui, uma ONG que há anos recebe barrados no aeroporto e deportados em um posto do Aeroporto Internacional de Guarulhos diz que brasileiros enviados de volta da França "não eram muitos" em 2008 e, desde janeiro, são "grande parte" do contingente que atende.
Nos dois casos, não há dados absolutos que revelem a proporção do aumento. Procurado, o Ministério de Imigração e da Identidade Nacional da França não deu informações.
Contudo, por ser visível, o aumento de barrados preocupa o consulado -que não contesta recusas de brasileiros em respeito à soberania do país, que é livre para aceitar quem quiser, sem precisar de justificativas.
"Não é xenofobia. O Brasil é um país prestigiado na França, mas a tendência [de recusas] é aumentar com a crise, e isso é geral na Europa", diz ela. "A sensação que se tem é de que há cotas [de brasileiros para barrar]. E não há perfil específico. Todos estão sujeitos".
Na quinta, um grupo de brasileiros voltou ao Brasil após ser barrado. Os passageiros não quiseram dar entrevistas.
No Posto de Atendimento Humanizado a Deportados e Inadmitidos no Aeroporto, mantido pela ONG Asbrad (Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude), em Guarulhos, fiscais prestam assistência e orientam quem se diz vítima de maus tratos e tráfico de pessoas.
A ONG recepciona apenas parte dos voos. Entre os que testemunhou, o maior número de brasileiros devolvidos pela França veio em 28 de janeiro -foram 13, três deportados e dez inadmitidos. Na quinta-feira, havia cinco brasileiros.
"A França não era um dos países que mais aparecia, mas passou a chamar a atenção no início do ano", diz a presidente Dalila Figueiredo.
Segundo a ONG, grande parte dos brasileiros devolvidos são deportados que já haviam conseguido entrar no país de forma irregular ou estavam além do tempo permitido (turistas não precisam de visto para a França em viagens de menos de três meses).
A hipótese de que medidas anti-imigratórias tenham origem na crise econômica é reforçada por dados recentes da economia francesa. O PIB (Produto Interno Bruto) do país caiu 1,2% no quarto trimestre de 2008, maior retração desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O desemprego teve o maior avanço histórico em janeiro, com 90,2 mil demitidos, chegando a 2,2 milhões pessoas sem trabalho


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