São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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SAÚDE
Programa inicia a distribuição de medicamento para combater deficiência de ferro em 512 cidades do Nordeste
Metade das crianças do país sofre de anemia

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

Embora as mortes de crianças até 1 ano de idade por desnutrição tenham caído 38,5% entre 95 e 98, as condições nutricionais dos brasileiros estão longe de serem satisfatórias. Segundo estimativa do próprio Ministério da Saúde, metade da população entre 0 e 2 anos no país é anêmica, o que significa cerca de 4,8 milhões de crianças.
No Chile, apenas 5% das crianças dessa idade sofrem o problema. Mesmo na Venezuela -país mais pobre que o Brasil-, o problema é menor: das crianças entre 0 e 2 anos, 15% são anêmicas.
"A anemia por deficiência de ferro em crianças é uma preocupação crescente no Brasil. É o principal problema nutricional em menores de 5 anos em todo o país", afirma Ana Goretti Maranhão, coordenadora de Saúde da Criança do Ministério da Saúde.
Em São Paulo e Pernambuco -os dois Estados que possuem os mais baixos índices de incidência de anemia infantil no país- 46% das crianças menores de 5 anos são atingidas pelo problema.
Nos municípios mais pobres, a estimativa do Ministério da Saúde é que a anemia atinja quase toda a população infantil.

Desenvolvimento
O alto índice de crianças anêmicas preocupa porque a falta de ferro compromete o crescimento, atrasa o desenvolvimento cognitivo e psicomotor e diminui a resistência da criança a infecções.
A alimentação pobre em ferro e o rápido crescimento da criança entre 6 meses e 2 anos são os principais motivos da alta incidência de anemia no Brasil.
A dieta das crianças dessa idade -sobretudo das carentes- muitas vezes consiste apenas de leite, que não contém ferro, embora seja rico em outras vitaminas.

Combate
Para combater o problema, o governo começa a distribuir sulfato ferroso a partir de 15 de março em 512 municípios do Nordeste onde a situação é crítica. A expectativa é atender 300 mil crianças entre 0 e 2 anos na primeira fase, que acaba em outubro.
O tratamento é simples: as mães recebem o xarope de sulfato ferroso e devem dá-lo aos filhos uma vez por semana, durante seis meses. O tratamento será acompanhado de perto pelos agentes comunitários de saúde, porque não pode haver interrupção.
A primeira fase do programa custará R$ 300 mil (R$ 1 por criança). A verba está garantida, apesar dos cortes no Orçamento.
Se houver queda significativa no número de crianças anêmicas até outubro, o programa será expandido aos demais municípios do Programa de Redução da Mortalidade Infantil -723 ao todo.
Além de atacar a anemia com a distribuição de sulfato ferroso, o Ministério da Saúde manterá as ações de combate à desnutrição que já estavam em andamento e que ajudaram a reduzir o número de óbitos (38,5%) e de internações (29,5%). A principal delas é a distribuição de óleos comestíveis e leite para 366 mil crianças até 2 anos de 3.036 municípios.

Enriquecimento
Além do suplemento o governo negocia com indústrias condições para enriquecer com ferro alimentos como farinha de trigo e farinha de milho.
A exemplo do Chile, a maioria dos países latino-americanos adotou o enriquecimento de alimentos como principal mecanismo de combate à anemia.
A Venezuela começou a fortificar obrigatoriamente toda a farinha produzida no país em 93. Na época, 40% das crianças em idade pré-escolar eram anêmicas. Hoje, a incidência caiu para 15%.


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