São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Mãe completa Maria Neuza, mãe de ex-alunas de escola pública de São Paulo, ajudou a melhorar as condições do colégio
EX-TELEFONISTA, Maria Neuza
da Costa Guidoni, agora aposentada, carrega uma frustração: por falta de dinheiro, não conseguiu entrar numa faculdade. Seu
projeto era se tornar advogada. Até
chegou a fazer um cursinho pré-vestibular, mas percebeu que não poderia parar de trabalhar. "O que mais
me incomoda é que não desenvolvi o
dom da expressão. Eu me sinto incompleta." Talvez por causa de sua
baixa auto-estima escolar, Maria
Neuza não se sinta uma das responsáveis por um caso raro de êxito educacional na cidade de São Paulo. Ela é um dos personagens anônimos que estão por trás do fato de o colégio Rui Bloem ter conseguido manter pelo segundo ano consecutivo a posição de melhor escola pública estadual da capital paulista, segundo o ranking do Enem, divulgado na semana passada. Sua nota a coloca à frente de muitas escolas particulares. "É um motivo de orgulho", comenta Maria Neuza, que não é professora nem funcionária da escola. Nem ao menos é mãe de aluno. É apenas mãe de ex-alunas. O fato de suas filhas terem terminado os estudos no colégio não a fez sair da associação de pais e mestres, da qual é diretora-executiva. Por causa da capacidade dos pais de levantar recursos, a Rui Bloem tem um aspecto de escola privada, com as paredes limpas e pintadas, os jardins bem cuidados. O ambiente de trabalho organizado é um dos ingredientes para estimular alunos e professores. "Quem não sente prazer em ver um jardim bonito?", pergunta. A direção e os professores são os primeiros a reconhecer o impacto positivo da paisagem. O importante, porém, é que, por trás da ordem física, existem pais atentos à educação dos filhos, cobrando melhor qualidade de ensino. Sem isso, seria muito mais difícil para a direção combater, por exemplo, os professores faltosos. Também seria mais difícil conseguir parcerias com a comunidade, como um centro de línguas (os alunos podem estudar até japonês) ou programas de eletrônica e eletricidade de uma faculdade de engenharia. De acordo com estatísticas educacionais em várias partes do mundo, essa participação faz uma expressiva diferença nas notas. Maria Neuza se sentiu agradecida pelo tratamento que suas duas filhas tiveram naquela escola. Por isso, decidiu continuar como voluntária -mesmo na condição de mãe de ex-alunas. A satisfação tem um motivo concreto: uma das suas filhas conseguiu entrar na faculdade. "É como se, de algum jeito, eu também tivesse entrado na faculdade." Isso fez com que ela passasse a nutrir a esperança de voltar a estudar e, depois de tanto tempo, entrar numa faculdade. Isso que, para ela, seria uma realização e tanto na vida, por maior que seja, ficaria bem longe de, como uma espécie de educadora informal, ter ajudado a criar a escola bicampeã na lista das escolas estaduais da cidade. gdimen@uol.com.br Texto Anterior: Porteiro diz que, na hora do crime, "ninguém entrou" Próximo Texto: A cidade é sua: Aposentada diz lutar há dois anos para receber pensão atrasada Índice |
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