São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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MATERNIDADE

Mulheres que tomaram decisões drásticas comemoram sucesso no parto, mesmo com imprevistos na gestação

Após partos críticos, mães celebram seu dia

Marlene Bergamo/Folha Imagem
A dentista Ana Paula Galantini vai comemorar em Santos seu primeiro Dia das Mães com seus filhos, Cauê e Allan (apoiado em seu braço)


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Hoje, no seu primeiro Dia das Mães, a dentista Ana Paula Galantini, 37, se presenteará com um sapato de couro de R$ 200, uma pequena extravagância, na avaliação dela. "Eu mereço", brinca.
Sim, ela merece. Afinal, tanto ela como outras mães que aparecem nesta reportagem tomaram decisões dramáticas, que implicavam um risco máximo para preservar a vida de seus filhos.
No ano passado, Ana protagonizou uma história comovente ao dar à luz gêmeos xifópagos, no hospital Samaritano, em São Paulo. Cauê e Allan, que no próximo dia 6 completam um ano, nasceram grudados, um de frente para o outro. Tinham dois corações compartilhando uma única cavidade, mas o fígado era comum.
Casos como esse são raros -acontecem um para cada 100 mil nascimentos. Em 40% a 60% dos casos, os bebês nascem mortos. O restante tem entre 5% e 25% de chances de sobreviver, de acordo com o cirurgião cardíaco-fetal Renato Assad, que comandou a equipe que fez a separação dos gêmeos da dentista.
O pesadelo de Ana começou perto do final de 2002, quando, na 17ª semana de gestação, descobriu que esperava gêmeos e, logo em seguida, que eles eram xifópagos. Ela, que mora no Japão, estava visitando a mãe em Santos (SP). "Até então era a grávida mais feliz no mundo. Vivia comprando roupinhas para o bebê. Depois de saber do problema, paralisei. Não conseguia comprar mais nada. Só chorava."
Ainda sob o choque da notícia, pegou o avião até o Japão para encontrar o marido, Sergio Chirahata, que havia ficado naquele país trabalhando em uma fábrica de peças para computador em Fujinomya, a duas horas de Tóquio.
No sexto mês de gestação, voltou ao Brasil cheia de informações sobre gêmeos siameses. Queria se preparar para o parto, marcado para três meses depois.
Nem a pesquisa nem a presença do marido (que veio para o Brasil um mês antes do nascimento e voltou ao Japão quando os filhos tinham completado cinco meses) foram suficientes para acalmá-la quando viu pela primeira vez os bebês, no dia seguinte ao parto. "Desabei", resume Ana, com os olhos marejados.
Sete dias depois do nascimento dos filhos, teve de tomar a decisão mais difícil da sua vida: autorizar a separação dos bebês, que, até então, estava planejada para acontecer quando estivessem com o sistema imunológico mais fortalecido. Era preciso antecipá-la porque a função renal de um dos bebês estava comprometida e havia risco de morte.
No lugar da parede abdominal, até então inexistente, foi colocada uma tela, por onde começou um processo de regeneração da pele. Hoje, sobrou uma cicatriz. Desde então, os bebês, que chegaram a pesar 1,6 kg após a cirurgia, têm um desenvolvimento normal.
Ana pretende voltar ao Japão em agosto. Em junho, quer comemorar o primeiro aniversário dos filhos com os familiares em Santos. "Com eles, aprendi a ter esperança, perseverança e fé, muita fé", diz Ana, que é espírita.

Meningomielocele
A dona-de-casa Danieli Rejane Ferreira de Campos, 27, também diz ter vivido os piores momentos da sua vida no ano passado, quando, aos cinco meses de gestação, descobriu que a filha tinha meningomielocele, uma má-formação da coluna vertebral que, em razão do acúmulo de água no cérebro (hidrocefalia), causa diversos distúrbios no sistema nervoso, como paralisia dos membros inferiores e retardo mental.
A única chance de salvar a filha era uma cirurgia ainda recente no país, que consiste em abrir a barriga da gestante, retirar o líquido amniótico, operar o bebê, devolver o líquido e fechar novamente a barriga para a continuidade da gestação. Há riscos, porém, de o bebê não suportar a intervenção e nascer prematuro.
"Tinha a certeza de que não era a vontade de Deus ter um bebê doente. Por isso, decidimos fazer a cirurgia", relata Danieli, uma evangélica fervorosa. A operação foi realizada no dia 5 de outubro, no hospital São Paulo.
Nicole nasceu exatos dois meses depois, com 2,5 kg e 45,5 cm, sem nenhuma seqüela. "O primeiro gesto dela foi colocar a mãozinha no meu rosto", conta a mãe.


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