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Aos 50, história da pílula é marcada por promessas quebradas
Medicação não acabou com gestações indesejadas nem reduziu divórcios ou controlou aumento da população
Onde é mais fácil adquirir a pílula do que na maioria dos países em desenvolvimento, até 50% de todas as gestações não são planejadas
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Da revolução sexual à emancipação feminina, a pílula anticoncepcional, cuja aprovação
nos EUA completa 50 anos hoje, já recebeu crédito por algumas das maiores revoluções sociais do século 20. Mas, a julgar
pelas expectativas iniciais, sua
história é marcada por promessas quebradas.
Ao ter a comercialização como contraceptivo liberada pelo
FDA (órgão americano que regula remédios) em 9 de maio de
1960, a pílula foi recebida por
médicos de todo o mundo como arma para acabar com gestações indesejadas, reduzir o
número de divórcios e controlar o crescimento populacional
e a pobreza.
Até hoje, nada disso aconteceu. Há mais de 100 milhões de
mulheres que tomam a pílula
no mundo hoje; por outro lado,
das 200 milhões de gestações
anuais, um terço, ou 75 milhões, são não planejadas.
As causas não estão relacionadas só ao acesso: nos EUA, onde é mais fácil adquirir a pílula
do que na maior parte dos países em desenvolvimento, até
50% de todas as gestações não
são planejadas.
Segundo a Organização
Mundial da Saúde, o uso da pílula ainda é impedido por crenças religiosas e pessoais, falta
de informação e mesmo falta de
controle da mulher sobre seus
direitos reprodutivos.
Nos anos 60, também era
uma preocupação nos países
desenvolvidos controlar a superpopulação global, que, temia-se, poderia desestabilizar
sistemas políticos e sociais.
Mas a pílula nunca foi realmente abraçada em países em desenvolvimento como forma de
controle populacional.
"As esperanças eram totalmente irreais", diz a historiadora Elaine Tyler May, autora do
recém-lançado "América e a Pílula: Uma História de Promessa, Perigo e Liberação" ("America and the Pill: A History of
Promise, Peril, and Liberation", Basic Books). "Achavam
que a pílula acabaria até com a
Guerra Fria, pois retiraria a
pressão populacional relacionada à época com guerras e comunismo."
Outro mito é o de que a pílula
foi responsável pela revolução
sexual. "Não é verdade, até porque a revolução sexual já se delineava nos anos 1950 e remonta à Segunda Guerra."
Além disso, disse May à Folha, pouquíssimas mulheres
solteiras obtinham a pílula nos
anos 1960 (era proibido), e nos
anos 1970, a maioria das solteiras sexualmente ativas não usava nenhum método contraceptivo. "Quem esperava o fim dos
nascimentos fora do casamento errou."
E pouco pode ser dito sobre
fazer casamentos felizes, um
efeito esperado do fim da preocupação com uma gravidez
inesperada. No Brasil, por
exemplo, o número de divórcios praticamente quintuplicou nas últimas duas décadas
(de acordo com dados do IBGE), quando o acesso à pílula
aumentou.
O que então a pílula realmente conseguiu? Segundo May,
sua relação com o feminismo e
a ascensão da mulher no mercado de trabalho são conquistas inegáveis. "Até 1960, não
havia método seguro e dissociado do ato sexual que dava à
mulher o poder de controlar
sua fecundidade sem a colaboração ou mesmo conhecimento
do parceiro."
Para Cecile Richards, presidente da ONG americana Planned Parenthood (planejamento familiar), a pílula "empoderou mulheres para decidir se
queriam se educar mais ou buscar empregos antes de começar
uma família". "Ela literalmente
mudou a forma como vivemos", disse Richards.
Mas se a pílula participou das
transformações vividas pelas
mulheres no último meio século, pouco mudou acerca da responsabilidade sobre a reprodução. "A indústria farmacêutica
já deu aos homens o Viagra.
Mas onde está a pílula masculina?" questiona May.
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