São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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FUTURO
Adversários eleitorais acham cômodo enfrentar prefeito enfraquecido
Impeachment de Pitta já não interessa a políticos

MARIO CESAR CARVALHO
RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local

A aliança do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) com Paulo Maluf (PPB), com vistas à eleição presidencial de 2002, está ajudando o prefeito Celso Pitta a se manter no cargo.
ACM, candidatíssimo à Presidência, desembarcou em São Paulo há um mês certo de que o impeachment de Pitta (sem partido) seria uma boa bandeira no maior colégio eleitoral do país.
Mas ACM logo notou que, sem Maluf, não tem máquina para fazer a campanha no Estado e mudou de idéia. A avaliação é que o impeachment de Pitta só fortaleceria o PT e respingaria em Maluf. ACM adora aliados enfraquecidos, mas assim Maluf traria desgaste demais.
A guinada de ACM é só mais um exemplo de como o impeachment de Pitta já não interessa a quase nenhum político -a exceção é o vice-prefeito Régis de Oliveira, que assumiria sua vaga. De ACM ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP), todos preferem um prefeito moribundo a um sucessor que poderia fazer um mandato-espetáculo e ameaçar seus planos políticos.
No ambiente mais paroquial da Câmara, o jogo para tudo acabar em pizza se repete, mas por outros motivos. Até segmentos do PT, propositor da CPI da máfia e maior beneficiado com a apuração, já agem para manter Pitta.
Prevalece no partido a tese do quanto pior (para Pitta), melhor (para a candidatura de Marta Suplicy à prefeitura no ano 2000). O impeachment exterminaria esse combustível eleitoral.
O senador Suplicy foi um dos líderes petistas que procurou vereadores para vender o peixe de que cassar Pitta é praticar antipolítica.
Aos vereadores governistas também interessaria a idéia de quanto pior, melhor, mas os objetivos são outros -é mais fácil obter vantagens de um prefeito enfraquecido.
Por isso prospera na Câmara a idéia de cassar só vereadores contra os quais há provas de irregularidades ou cuja imagem já esteja comprometida. São três ou quatro: Vicente Viscome (ex-PPB), Maeli Vergniano (sem partido), José Izar (PFL) e Dito Salim (PPB).
"Há um consenso na Câmara de que bastam três cassações. É uma limpeza seletiva e simbólica. Não atinge o centro da corrupção", diz a vereadora Aldaíza Sposati (PT).
O jogo da Câmara de punir três ou quatro vereadores e deixar intacto o centro da corrupção é perigoso, diz o vice-prefeito. Ele pode desmoralizar CPI e vereadores.
"A CPI está esvaziando porque só pega lambaris e deixa os peixes grandes escapar", diz Régis.
Para o vereador José Eduardo Cardozo (PT), que dirige a CPI, o rumo da apuração não decorre de nenhum acordo secreto. "A CPI não se afastou do prefeito. Ela visava as regionais. Não posso pré-julgar, mas acho difícil que Pitta não tivesse ciência do que ocorria."
O maior teste para a CPI ocorre nesta semana. Cardozo vai pedir a prorrogação dos trabalhos -cujo fim está previsto para 12 de junho.
O vereador Miguel Colassuono (PPB), uma das principais lideranças malufistas, já deixou claro que não quer prorrogação. Muitos devem seguir essa posição.
O temor dos vereadores, segundo a Folha apurou, é que a CPI investigue o PAS (Plano de Assistência à Saúde). O medo é que a investigação atinja o alto clero malufista, principal beneficiado com o loteamento do PAS. Dois números mostram o grau de interesse pelas cooperativas de saúde: as administrações regionais consomem R$ 300 milhões ao ano, contra R$ 1,2 bilhão dos negócios do PAS.
Assim, os únicos votos garantidos pela prorrogação são os 20 da oposição: PT, PSDB, PSB e PC do B e do recém-convertido Salim Curiati Júnior (PPB). São precisos 28.
"Vai ser difícil prorrogar", diz Cardozo. "Se a imprensa tiver o comportamento que teve no início da CPI, não acaba em pizza. Se esmorecer, a massa já está no forno."
Paulo Frange, líder do PPB, concorda com Cardozo. Ele é contra a prorrogação da CPI. Julga que a apuração nada acrescentou aos inquéritos policiais. Mas crê no poder da "imprensofobia", o medo da da mídia. "Se eu votar contra, vão dizer que estou querendo esconder algo. Acho difícil interromper os trabalhos com 90 dias."
Para o promotor José Carlos Blat, que investiga a máfia da propina, "só 20% da apuração foi feita".


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