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FUTURO
Adversários eleitorais acham cômodo enfrentar prefeito enfraquecido
Impeachment de Pitta já não interessa a políticos
MARIO CESAR CARVALHO
RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local
A aliança do
senador Antonio Carlos Magalhães (PFL)
com Paulo Maluf (PPB), com
vistas à eleição
presidencial de
2002, está ajudando o prefeito Celso Pitta a se manter no cargo.
ACM, candidatíssimo à Presidência, desembarcou em São Paulo há um mês certo de que o impeachment de Pitta (sem partido)
seria uma boa bandeira no maior
colégio eleitoral do país.
Mas ACM logo notou que, sem
Maluf, não tem máquina para fazer
a campanha no Estado e mudou de
idéia. A avaliação é que o impeachment de Pitta só fortaleceria o PT e
respingaria em Maluf. ACM adora
aliados enfraquecidos, mas assim
Maluf traria desgaste demais.
A guinada de ACM é só mais um
exemplo de como o impeachment
de Pitta já não interessa a quase nenhum político -a exceção é o
vice-prefeito Régis
de Oliveira, que assumiria sua vaga. De
ACM ao senador Eduardo Suplicy
(PT-SP), todos preferem um prefeito moribundo a um sucessor
que poderia fazer um mandato-espetáculo e ameaçar seus planos
políticos.
No ambiente mais paroquial da
Câmara, o jogo para tudo acabar
em pizza se repete, mas por outros
motivos. Até segmentos do PT,
propositor da CPI da máfia e
maior beneficiado com a apuração, já agem para manter Pitta.
Prevalece no partido a tese do
quanto pior (para Pitta), melhor
(para a candidatura de Marta Suplicy à prefeitura no ano 2000). O
impeachment exterminaria esse
combustível eleitoral.
O senador Suplicy foi um dos líderes petistas que procurou vereadores para vender o peixe de que
cassar Pitta é praticar antipolítica.
Aos vereadores governistas também interessaria a idéia de quanto
pior, melhor, mas os objetivos são
outros -é mais fácil obter vantagens de um prefeito enfraquecido.
Por isso prospera na Câmara a
idéia de cassar só vereadores contra os quais há provas de irregularidades ou cuja imagem já esteja
comprometida. São três ou quatro:
Vicente Viscome (ex-PPB), Maeli
Vergniano (sem partido), José Izar
(PFL) e Dito Salim (PPB).
"Há um consenso na Câmara de
que bastam três cassações. É uma
limpeza seletiva e simbólica. Não
atinge o centro da corrupção", diz
a vereadora Aldaíza Sposati (PT).
O jogo da Câmara de punir três
ou quatro vereadores e deixar intacto o centro da corrupção é perigoso, diz o vice-prefeito. Ele pode
desmoralizar CPI e vereadores.
"A CPI está esvaziando porque
só pega lambaris e deixa os peixes
grandes escapar", diz Régis.
Para o vereador José Eduardo
Cardozo (PT), que dirige a CPI, o
rumo da apuração não decorre de
nenhum acordo secreto. "A CPI
não se afastou do prefeito. Ela visava as regionais. Não posso pré-julgar, mas acho difícil que Pitta não
tivesse ciência do que ocorria."
O maior teste para a CPI ocorre
nesta semana. Cardozo vai pedir a
prorrogação dos trabalhos -cujo
fim está previsto para 12 de junho.
O vereador Miguel Colassuono
(PPB), uma das principais lideranças malufistas, já deixou claro que
não quer prorrogação. Muitos devem seguir essa posição.
O temor dos vereadores, segundo a Folha apurou, é que a CPI investigue o PAS (Plano de Assistência à Saúde). O medo é que a investigação atinja o alto clero malufista, principal beneficiado com o loteamento do PAS. Dois números
mostram o grau de interesse pelas
cooperativas de saúde: as administrações regionais consomem R$
300 milhões ao ano, contra R$ 1,2
bilhão dos negócios do PAS.
Assim, os únicos votos garantidos pela prorrogação são os 20 da
oposição: PT, PSDB, PSB e PC do B
e do recém-convertido Salim Curiati Júnior (PPB). São precisos 28.
"Vai ser difícil prorrogar", diz
Cardozo. "Se a imprensa tiver o
comportamento que teve no início
da CPI, não acaba em pizza. Se esmorecer, a massa já está no forno."
Paulo Frange, líder do PPB, concorda com Cardozo. Ele é contra a
prorrogação da CPI. Julga que a
apuração nada acrescentou aos inquéritos policiais. Mas crê no poder da "imprensofobia", o medo
da da mídia. "Se eu votar contra,
vão dizer que estou querendo esconder algo. Acho difícil interromper os trabalhos com 90 dias."
Para o promotor José Carlos Blat,
que investiga a máfia da propina,
"só 20% da apuração foi feita".
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