São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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COMEMORAÇÃO
Data surgiu em 1932, com Getúlio Vargas, mas só "pegou" duas décadas depois, graças ao comércio de São Paulo
Busca de lucros impulsionou Dia das Mães

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

Em maio de 1932, Getúlio Vargas assinou o decreto 21.366 em que oficializava o Dia das Mães. Seguia uma tradição lançada em 1914 pelo Congresso norte-americano.
Mas no Brasil a data era tão pouco comemorada, nos anos 30 e 40, quanto possam ser hoje o Dia do Encanador (27 de setembro) ou o Dia do Bombeiro (2 de julho).
O segundo domingo de maio entrou na cabeça das pessoas como Dia das Mães só a partir do ano de 1952.
Foi quando a homenagem, então restrita a algumas congregações religiosas, virou pretexto para que o comércio varejista procurasse aumentar suas vendas.
Um dos autores do plano foi o empresário Caio de Alcântara Machado, 73, na época superintendente das Lojas Assunção -35 pontos paulistanos de venda- e um dos dirigentes do Clube dos Lojistas, espécie de sindicato que reunia cadeias de porte como a Isnard, a Casa São Nicolau, o Mappin e as lojas Sloper.
"Eu dei a idéia e o pessoal topou", diz ele. Uma idéia cujo sucesso, a bem da verdade, ele comprovara no final dos anos 40, quando morou em Washington como funcionário do FMI (Fundo Monetário Internacional).
"As vendas deram um salto de 60%", afirma hoje.

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Não é difícil rememorar o quanto o Dia das Mães passava despercebido em São Paulo nos primeiros anos do pós-Guerra.
No ano de 1950, e é apenas um exemplo, a Folha publicou um único anúncio evocativo, em que o Sesc (Serviço Social do Comércio) homenageava, por meio das mães, "os sentimentos cristãos da família paulista".
Naquele mesmo ano, a rede de lojas Mappin promovia uma quinzena de tapetes, as lojas Isnard batiam na tecla do "maio, mês das noivas", e outras lojas da cidade, como a Cristais Prado ou A Triumphal, não encontravam pretexto de vendas nenhum.
As primeiras mudanças ocorrem em 1951. A Cassio Muniz anuncia refrigeradores a Cr$ 12.500 e diz que presentear a mãe "é um sinal de reconhecimento e amor".
Os Biscoitos Aymoré publicam mãe e filho enquadrados por uma moldura de bolachas em forma de coração. Mas o grosso das lojas ainda ignora a data, como a Sears, que anuncia calças compridas por Cr$ 199, "ótimas para piqueniques".

Boom
O boom ocorre efetivamente em 1952. Na linha de frente, a Sears, o Mappin ("para o Dia das Mães, uma lembrança com carinho") e a Mesbla ("não esqueça de oferecer um presente à mais querida dama do lar").
A moda pegou rapidamente, diz Caio de Alcântara Machado, porque o pequeno comércio da cidade de São Paulo tomou carona no sucesso de faturamento demonstrado pelas lojas maiores.
Em 1952, a pianista Yara Bernette estava com 32 anos e já tinha dois filhos. Diz se recordar só bem mais tarde das primeiras comemorações do Dia das Mães.
De certo modo, e só por força da propaganda comercial, o decreto de Getúlio de 1932 entrava em vigor com duas décadas de atraso.
A essas alturas, ninguém mais se lembrava que foi em Porto Alegre, e em 1918, que o Dia das Mães foi pela primeira vez comemorado no Brasil, sem buquês de flores ou almoço com a mãe numa cantina italiana. Foi com uma conferência na ACM (Associação Cristã de Moços), promovida por um missionário norte-americano chamado Frank Long, aliás casado com uma brasileira de Taubaté (SP). Mas isso já é outra história.


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