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MERCADO DE TRABALHO
Pesquisa aponta que mulheres já representam 42,3% da força de trabalho em SP
Mãe que passa a vida cuidando de filhos é espécie em extinção
GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial
Criado para homenagear aquela
mulher dedicada exclusivamente
aos filhos e maridos, limitada aos
domínios da casa, o Dia das Mães
encontra cada vez menos seu personagem.
Na corrida pelos empregos gerados na região metropolitana de
São Paulo a mulher está levando
expressiva vantagem.
De acordo com a Fundação Seade, 70% dos novos postos são ocupados pelas mulheres, o que as coloca no limiar de dividir pela metade o mercado de trabalho.
Essa vantagem aprofunda as
mais diversas mudanças de comportamento na sociedade - da
maternidade retardada, menos filhos, passando pelo investimento
em educação, até o padrão de consumo da família.
Das mulheres entre 30 e 44 anos,
60% estão no mercado de trabalho;
na faixa dos 20 aos 29 anos, 70%.
A participação no mercado de
trabalho muda o conceito da mãe
ou de avó: vai sendo condenada à
extinção aquela figura com tempo
para cuidar dos netos.
Com o trabalho, até os cuidados
estéticos ditos femininos ganham
funcionalidade profissional.
É alterado o próprio conceito de
chefe de família. Como as mulheres entram no mercado pela porta
da frente do item serviços, com remuneração superior a categorias
industriais e agrícolas, ela passa a
ter um peso maior no orçamento
familiar.
Em 1990, 2,743 milhões de mulheres estavam ocupadas na Grande São Paulo. Em sete anos, operou-se um salto de 531 mil postos,
chegando a 3,951 milhões.
Nesse mesmo período, os homens saltaram dos 3,951 milhões
de empregados para 4,231 milhões.
Ou seja, 262 mil novos postos.
Como nos sete anos, portanto,
foram criados 793 mil novos empregos, de cada 100 novas vagas, 70
ficaram com as mulheres.
Os reflexos desse movimento se
verificaram na pesquisa, também
do Seade, sobre qualidade de vida
no interior de São Paulo divulgado
semana passada - está prevista
para ser lançada neste semestre
uma avaliação apenas da região
metropolitana, na qual, segundo
apurou a Folha, a tendência também ocorre.
Avaliando um período de 1994 a
1998, a pesquisa mostra que a renda do chefe da família subiu 8%.
Nesse mesmo período, a renda do
cônjuge pulou 21%. Não apenas
subiu o valor do rendimento da
mulher, mas sua taxa de participação no mercado de trabalho.
Em fevereiro deste ano, a população economicamente ativa da região metropolitana de São Paulo
(pessoas trabalhando ou procurando emprego) era de 8,639 milhões, dos quais 57,7% eram homens e 42,3%, mulheres.
Em 1985, a percentagem de mulheres era de 36,4%; a dos homens,
63,3%.
Naquele ano, a participação da
categoria cônjuge era de 13,8%.
Em 1999, 18,7%. Com o aumento
das exigências de escolaridade, os
filhos passam mais tempo na escola e decai sua participação no mercado de trabalho -o que, do ponto de vista econômico, fortalece o
papel da mãe na arrecadação de recursos para a família.
"É uma tremenda revolução. E
não tem a ver apenas com o fato de
o marido eventualmente estar desempregado ou ganhando pouco.
A mulher busca se afirmar, independentemente da renda de seu
marido", afirma Felícia Madeira,
do Seade, que produz estudos sobre o papel da mulher e da criança
no mercado de trabalho.
Felícia cruzou os dados, constatando que a mulher do homem
empregado e com alto salário busca em maior medida uma vaga do
que aquela casada com desempregado ou com baixo salário.
"Os salários no Brasil sempre foram baixos, mas as mulheres se
sentem estimuladas a trabalhar
porque seu trabalho é mais aceito
pela sociedade e porque existem
mais empregos para os quais tenham habilidade", afirma Felícia
Madeira.
Esse mesmo impulso vai levar ao
aumento geral do nível de desemprego. E não apenas porque as mulheres podem tirar o empregos dos
homens.
Como se sentem estimuladas a
obter uma vaga, saindo os afazeres
domésticos, elas passam a engrossar a lista dos que estão à procura
de ocupação - logo, avolumam a
estatística, embora nunca tenham,
até então, se sentido desempregadas.
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