São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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MERCADO DE TRABALHO
Pesquisa aponta que mulheres já representam 42,3% da força de trabalho em SP
Mãe que passa a vida cuidando de filhos é espécie em extinção

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

Criado para homenagear aquela mulher dedicada exclusivamente aos filhos e maridos, limitada aos domínios da casa, o Dia das Mães encontra cada vez menos seu personagem.
Na corrida pelos empregos gerados na região metropolitana de São Paulo a mulher está levando expressiva vantagem.
De acordo com a Fundação Seade, 70% dos novos postos são ocupados pelas mulheres, o que as coloca no limiar de dividir pela metade o mercado de trabalho.
Essa vantagem aprofunda as mais diversas mudanças de comportamento na sociedade - da maternidade retardada, menos filhos, passando pelo investimento em educação, até o padrão de consumo da família.
Das mulheres entre 30 e 44 anos, 60% estão no mercado de trabalho; na faixa dos 20 aos 29 anos, 70%.
A participação no mercado de trabalho muda o conceito da mãe ou de avó: vai sendo condenada à extinção aquela figura com tempo para cuidar dos netos.
Com o trabalho, até os cuidados estéticos ditos femininos ganham funcionalidade profissional.
É alterado o próprio conceito de chefe de família. Como as mulheres entram no mercado pela porta da frente do item serviços, com remuneração superior a categorias industriais e agrícolas, ela passa a ter um peso maior no orçamento familiar.
Em 1990, 2,743 milhões de mulheres estavam ocupadas na Grande São Paulo. Em sete anos, operou-se um salto de 531 mil postos, chegando a 3,951 milhões.
Nesse mesmo período, os homens saltaram dos 3,951 milhões de empregados para 4,231 milhões. Ou seja, 262 mil novos postos.
Como nos sete anos, portanto, foram criados 793 mil novos empregos, de cada 100 novas vagas, 70 ficaram com as mulheres.
Os reflexos desse movimento se verificaram na pesquisa, também do Seade, sobre qualidade de vida no interior de São Paulo divulgado semana passada - está prevista para ser lançada neste semestre uma avaliação apenas da região metropolitana, na qual, segundo apurou a Folha, a tendência também ocorre.
Avaliando um período de 1994 a 1998, a pesquisa mostra que a renda do chefe da família subiu 8%. Nesse mesmo período, a renda do cônjuge pulou 21%. Não apenas subiu o valor do rendimento da mulher, mas sua taxa de participação no mercado de trabalho.
Em fevereiro deste ano, a população economicamente ativa da região metropolitana de São Paulo (pessoas trabalhando ou procurando emprego) era de 8,639 milhões, dos quais 57,7% eram homens e 42,3%, mulheres.
Em 1985, a percentagem de mulheres era de 36,4%; a dos homens, 63,3%.
Naquele ano, a participação da categoria cônjuge era de 13,8%. Em 1999, 18,7%. Com o aumento das exigências de escolaridade, os filhos passam mais tempo na escola e decai sua participação no mercado de trabalho -o que, do ponto de vista econômico, fortalece o papel da mãe na arrecadação de recursos para a família.
"É uma tremenda revolução. E não tem a ver apenas com o fato de o marido eventualmente estar desempregado ou ganhando pouco. A mulher busca se afirmar, independentemente da renda de seu marido", afirma Felícia Madeira, do Seade, que produz estudos sobre o papel da mulher e da criança no mercado de trabalho.
Felícia cruzou os dados, constatando que a mulher do homem empregado e com alto salário busca em maior medida uma vaga do que aquela casada com desempregado ou com baixo salário.
"Os salários no Brasil sempre foram baixos, mas as mulheres se sentem estimuladas a trabalhar porque seu trabalho é mais aceito pela sociedade e porque existem mais empregos para os quais tenham habilidade", afirma Felícia Madeira.
Esse mesmo impulso vai levar ao aumento geral do nível de desemprego. E não apenas porque as mulheres podem tirar o empregos dos homens.
Como se sentem estimuladas a obter uma vaga, saindo os afazeres domésticos, elas passam a engrossar a lista dos que estão à procura de ocupação - logo, avolumam a estatística, embora nunca tenham, até então, se sentido desempregadas.


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