São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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Oferta de serviço público é afetada

DA SUCURSAL DO RIO

Nas favelas dominadas pelo tráfico, a violência afeta a oferta de serviços públicos, como a coleta de lixo e o correio. Em dia de tiroteio, morador de favela não recebe carta, não tem lixo retirado e ainda pode ficar sem energia, pois reparos na rede elétrica só são feitos depois que a tranquilidade volta -o que às vezes leva dias.
Um técnico da Light contou à Folha que, muitas vezes, já ficou cercado por traficantes armados. A orientação é estar sempre acompanhado ou orientado por alguém da associação de moradores. Mário Sérgio Coutinho, gerente de operações da região litorânea da Light, não gosta de usar a palavra autorização. "É um auxílio", afirma. "O trabalho com a rede elétrica é arriscado, e não faz sentido deixar funcionários no meio do tiroteio."
O diretor dos Correios no Rio, Celso Silva de Carvalho, diz que os carteiros normalmente são bem aceitos, mas reconhece o perigo. "Existem áreas no morro onde a pessoa só sobe se o traficante deixar. O carteiro, estando uniformizado, geralmente sobe, mas tem áreas em que, por um determinado momento, o traficante não permite ao carteiro subir."
Carvalho diz que, de acordo com uma portaria do governo federal, os Correios têm obrigação de entregar a correspondência quando há ruas com nomes e números -o que, muitas vezes, não acontece nos morros.
Para facilitar a entrega da correspondência, os Correios criaram caixas postais comunitárias. Nas favelas cariocas são entregues, diariamente, segundo Carvalho, 159 mil correspondências.
No morro Santa Marta, em Botafogo, o carteiro deixa a correspondência na associação. Dois carteiros comunitários, pagos pela associação, fazem a entrega. "Por que o morador do morro não pode receber sua carta em casa? A gente também paga imposto", reclama o presidente da associação, André Fernandes, sugerindo que, já que não sobem o morro, os Correios paguem o salário dos carteiros comunitários.
Foi essa a solução encontrada pela Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), que gasta R$ 1 milhão por mês com 2.000 garis comunitários, moradores contratados pelas associações de cada favela para recolher o lixo. "Às vezes éramos surpreendidos e não podíamos executar o trabalho, ou as equipes corriam perigo. Com o gari comunitário, o trabalho é melhor e mais seguro. Mesmo assim, quando há tiroteio, o trator que faz a coleta final não entra", afirma Edson Rufino, diretor de serviços da Comlurb. (FE)



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