São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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"A escola está na linha de tiro"

DA SUCURSAL DO RIO

Uma nova proibição imposta pela lei do tráfico chegou às escolas do Rio: transferências de alunos que, moradores de uma favela dominada por uma facção criminosa, precisam atravessar territórios rivais a caminho das aulas.
Se o aluno mora em uma favela dominada por uma facção e frequenta uma unidade que fica em zona dominada pela facção rival, está sujeito a riscos e ameaças.
Um relatório oficial da Secretaria Municipal da Educação lista, entre os problemas de violência enfrentados pelas escolas, casos de alunos que moram em locais dominados por uma facção e são agredidos quando, no caminho para a escola, cruzam territórios de facções inimigas.
Uma professora da rede municipal conta que, quando isso acontece e os pais pedem a transferência do filho, a orientação é para aceitar o pedido. "Se o pai ou mãe alega questão de segurança, a gente tem a sensibilidade de ajudar", afirma ela.
O relatório da secretaria afirma que, em 2000, 53% dos estabelecimentos da rede relataram problemas com a violência externa, como tiroteios, uso e tráfico de drogas na porta e dentro da escola e efeitos da guerra do tráfico.
"Chegam ao ponto de [os diretores das escolas" terem de separar em turmas diferentes alunos que moram em comunidades dominadas por comandos inimigos", diz o relatório.
Quando começa o tiroteio, professores e alunos das escolas municipais já têm uma orientação: levar as crianças para os corredores, para longe das paredes externas dos prédios.
Quem estiver no segundo andar deve descer imediatamente. Deitados ou sentados no chão, os professores tentam então controlar o pânico dos alunos, contando histórias e cantando.
"A gente sabe de casos em que as crianças, quando começam a ouvir tiros, ficam mexendo o dedinho também como se estivessem atirando. Que qualidade de trabalho pedagógico a gente faz nesse momento?", indaga Márcia Simões Mattos, 39, coordenadora da 4ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação) da Secretaria Municipal da Saúde.
Márcia tem sob sua responsabilidade 100 mil alunos em 134 escolas. Sua área de atuação inclui favelas violentas em bairros como Ilha do Governador, Maré, Vigário Geral, Penha e Bonsucesso.
Para a educadora, a situação de violência chegou a um nível nunca antes visto. "A escola está na linha de tiro", afirma.
Normalmente, as aulas dessas escolas são interrompidas em dia de tiroteio. (FE)


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