São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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DANUZA LEÃO

Te cuida, Rita

Depois que os políticos descobriram que as mulheres existem e até dão ibope, todos os pré-candidatos à Presidência estão à procura de uma vice -alguém que use saia e não seja padre, claro.
As pesquisas descobriram que o eleitor acha que as mulheres são mais honestas, mais verdadeiras e não costumam fazer promessas que sabem que não vão poder cumprir -ao contrário da maioria dos homens. Daí os partidos estarem procurando, sem o menor pudor, uma vice mulher. Estamos em alta. Que coisa.
O PSDB já encontrou a sua, Rita Camata; mas ela que se cuide. Estão todos de olho -seus adversários políticos, seus correligionários e a imprensa-, esperando que ela pise na bola para poder acabar, no melhor e mais total sentido, com sua imagem e sua reputação.
Até onde se saiba, Rita foi uma parlamentar séria e dedicada, com muitos projetos aprovados e um passado irretocável, o que faz com que ela tenha agora de pisar em ovos. De todos os lados haverá sempre alguém querendo descobrir alguma coisa desabonadora sobre sua vida, seja em que campo for. Até sua ex-cozinheira deverá ser procurada para dizer como era sua antiga patroa. De preferência, falando mal, claro.
Se ela sorrir muito, vão compará-la a Marco Maciel e achar que uma candidata a vice tem de ser séria não só em seu comportamento mas sobretudo na foto. Se se vestir com elegância, vão dizer que só pensa em roupa; se, no entusiasmo do palanque, arriscar um passinho de samba, que é uma doidivanas; se não puder ir a uma reunião porque seu filho pequeno está com febre, fica constatado que mulher não pode assumir certos cargos e, se usar uma saia mais curta ou um decote, já viu. O que já dizem: que, como teve coragem para votar várias vezes contra projetos de seu próprio partido, não é confiável (mas, se tivesse votado em todos, é porque sempre foi um pau-mandado). Como teve sempre um comportamento discreto -e teve-, foi por falta de personalidade para exercer uma liderança (mas, se tivesse aparecido mais, seria uma exibida).
É difícil a situação da pré-candidata a vice; um lindo tapete de cascas de banana será estendido por onde ela passar, e centenas de pessoas estarão torcendo, em tempo integral, para que ela escorregue e caia, de preferência numa pose ridícula. A partir de agora, Rita não poderá ser vista com um copo de bebida na mão -se é que ela às vezes teve a liberdade de tomar uma caipirinha-, e cigarro, nem pensar. Vai ter de ir para o banheiro, como nos tempos de colégio, para fumar escondido.
E mais: terá de tomar o maior cuidado nas fotos tiradas ao lado de José Serra; um sorriso a mais e o boato de que está havendo um caso entre os dois vai incendiar o Brasil. Todo mundo sabe que os dois são casados -e bem casados; melhor ainda para os profissionais das baixarias. Rita Camata é inteligente, independente e íntegra, mas o preconceito existe: ela é jovem, linda, tem olhos azuis e seus cabelos causam inveja a todas as mulheres, do Oiapoque ao Chuí. E os homens, sobretudo os deputados que conviveram com ela na promiscuidade de Brasília, devem, no fundo e no raso, desejá-la e temê-la; uma mulher tão bonita, que deve conseguir gelar, com um olhar, qualquer um que queira se fazer de engraçadinho com ela, é um problema. Deve causar muita raiva nos homens -e da raiva para o despeito, do despeito para a raiva e da raiva para o ódio são apenas dois passos.
Te cuida, Rita. Quem mandou ser tão bonita?

E-mail - danuza.leao@uol.com.br



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