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URBANIDADE
À moda paulistana
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
O chefe de cozinha
Wolmar Zocche está
preparando um cardápio recheado com o maior "plágio" culinário de que se tem notícia em
São Paulo. Num único restaurante, serão oferecidos pratos, alguns dos quais já desaparecidos,
que viraram celebridades na cidade: o filé do Moraes, o polpettone do Jardim di Napoli, o cozido do Ca'd'Oro, a sopa do Ceasa
e o bauru do Ponto Chic, entre
outros. "É um cardápio democrático", brinca Zocche.
Nascido em Santa Catarina e
criado em Milão, onde cursou a
Academia de Cozinha Italiana,
Zocche pretende fazer desse cardápio algo mais do que uma experiência culinária. Ele dirige o
restaurante-escola instalado na
Câmara Municipal, nascido de
uma parceria entre as prefeituras de São Paulo, de Lyon (França) e de Genebra (Suíça). Ali estudam jovens, todos da periferia,
treinados para trabalhar nos
restaurantes mais sofisticados
da cidade. "Aprender as receitas
dos pratos que fizeram e fazem
sucesso é um jeito de mostrar a
habilidade dos alunos."
Um detalhe da biografia de
Zocche fez com que apostassem
nele como educador. Na Itália,
ele aprendeu a ganhar a vida sozinho e teve de enfrentar a família para seguir sua paixão pela
culinária. Sabia bem o que era
viver à margem, sem reconhecimento. "Queriam que eu fosse
veterinário." Não desistiu de sua
vocação e cursou, escondido, a
Academia de Cozinha Italiana.
Em 1993, veio para São Paulo,
onde trabalhou em restaurantes
sofisticados e deu aulas de culinária a amadores refinados. No
ano passado, o cônsul francês em
São Paulo, Jean Marc Laforret,
suspeitou que, com essa riqueza
biográfica, Zocche pudesse dar
certo como educador e recomendou sua contratação para o projeto do restaurante-escola.
Zocche desenvolve métodos
pouco usuais para fazer seus alunos se tornarem íntimos dos alimentos. Numa das aulas, percebeu que duas adolescentes tinham nojo de preparar as lulas.
Pediu-lhes que se pintassem, ali
mesmo, com aquela tinta preta
extraída do molusco. "Aqui todos aprendem a cozinhar, mesmo que tenham interesse apenas
em trabalhar como garçons."
A prova de sua receita pedagógica está marcada para o próximo mês, quando a primeira turma estará formada e se saberá
quantos conseguirão emprego.
"Aí é que vamos saber se nossa
receita não passou do ponto."
E-mail - gdimen@uol.com.br
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