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Traficante preso já preparava nova fuga
A Polícia Federal encontrou móveis de Juan Carlos Ramírez Abadía embalados em transportadoras da Grande SP
Argentina ou Uruguai eram os prováveis destinos do colombiano preso em SP; polícia estuda transferi-lo para presídio federal
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O traficante colombiano
Juan Carlos Ramírez Abadía,
44, planejava fugir para o Uruguai ou para a Argentina, segundo a investigação da Polícia
Federal que resultou na sua
prisão anteontem durante a
Operação Farrapos.
A prova de que a fuga aconteceria em dias ou semanas são os
bens de Abadía que foram
apreendidos em empresas de
transporte na Grande São Paulo. Muitos dos móveis do traficante já estavam embalados para serem transportados quando
a PF realizou a operação de
busca e apreensão no condomínio de alto padrão em que ele
vivia, em Barueri (Grande SP).
A descoberta de que um dos
maiores traficantes do mundo
planejava fugir, feita a partir de
interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça Federal,
não foi o único fator que obrigou a PF a apressar a prisão.
No último mês, o Supremo
Tribunal Federal recebeu do
governo dos EUA um pedido de
prisão preventiva de Abadía,
para fins de extradição.
O temor da PF era que a divulgação do pedido estragasse
quase dois anos de investigação
e monitoramento do traficante
colombiano no Brasil.
A investigação sobre os negócios de Abadía no Brasil começou em outubro de 2005, quando um avião caiu na região de
Curitiba. Curiosamente, ninguém reivindicou a posse da aeronave. A PF em Curitiba descobriu em seguida que o traficante poderia ser o dono.
Havia, no entanto, uma dúvida judicial: como provar que
Abadía era mesmo Abadía? O
traficante usava quatro nomes
falsos no Brasil (Marcelo Javier
Unzue, Walter Orlando Palomino, Omar Antonio Peluso e
Antonio Javier) e havia passado por três operações plásticas
pelo menos no período em que
permaneceu no país.
Colaboração do DEA
A confirmação definitiva de
que o investigado era Abadía só
chegou a São Paulo no dia 31 de
julho. Um comunicado do escritório de São Paulo do DEA
(Drug Enforcement Administration, a agência de combate às
drogas dos EUA) confirmava
que um teste de reconhecimento de voz dera positivo.
O DEA, que tinha oferecido
uma recompensa de US$ 5 milhões (R$ 9,5 milhões) por informações sobre o paradeiro do
colombiano, tinha em seu banco de vozes uma gravação de
Abadía e pôde conferir com
uma amostra enviada pela Polícia Federal, colhida em interceptação telefônica.
Foi a partir dessa identificação que a Justiça Federal passou a analisar o pedido de prisão do traficante e de outras 16
pessoas.
Ninguém na PF em São Paulo tem uma explicação clara das
razões pelas quais o governo
americano fez o pedido de prisão ao Supremo no mesmo período em que o DEA colaborava
numa investigação sigilosa.
O pedido poderia ter comprometido a investigação, o que
não interessa ao governo americano -um dos objetos de
marketing de George W. Bush é
a exibição de traficantes famosos, para provar que sua política antidrogas dá resultados e
justificar os bilhões gastos.
Durante o período em que a
PF investigou Abadía (de outubro de 2005 a agosto de 2007),
ele não aparece envolvido em
tráfico de cocaína ou heroína,
as drogas que ele comercializava quando vivia na Colômbia.
Aparentemente, Abadía usava o Brasil exclusivamente como plataforma para lavagem de
dinheiro. É por essa razão que o
processo contra ele é sobre lavagem de dinheiro, não tráfico.
Caso se confirme que Abadía
não traficou no Brasil, será o segundo caso de um grande traficante internacional que recorre ao país para lavar dinheiro
do narcotráfico.
Em março último, o mexicano Lucio Rueda Bustos foi condenado a dez anos de prisão pela Justiça Federal do Paraná
por lavagem de dinheiro. Ele
teria lavado cerca de R$ 18 milhões no Brasil.
A PF reforçou a segurança na
cela de Abadía, na sede da Superintendência da PF em São
Paulo, na Lapa (zona oeste).
Os delegados encarregados
do caso estudavam ontem a
possibilidade de transferir o colombiano para um dos presídios federais de segurança máxima - em Catanduvas, PR, ou
em Campo Grande, MS- até a
decisão do STF sobre uma possível extradição.
Ontem, mandados de busca e
apreensão autorizados durante
a investigação contra Abadía
foram cumpridos pela PF na
clínica de cirurgia plástica, na
zona sul de São Paulo, onde ele
realizou três operações para
mudar o rosto.
Seu prontuário médico, analisado pela PF como possível
prova de que ele queria mesmo
mudar suas feições, foi apreendido no local.
Colaboraram ANDRÉ CARAMANTE E KLEBER
TOMAZ, da Reportagem Local
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