São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Negócios do colombiano no Brasil incluem imóveis, computadores, jet-ski e bebidas

DA REPORTAGEM LOCAL

O traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía era um empresário de visão: investia em negócios diversificados, num arco que vai de imóveis a computadores, de alimentos a jet-ski, de carros a bebidas, de piscicultura a perfumes, de acordo com a investigação da Polícia Federal.
A PF ainda não sabe se os empresários que teriam se associado a Abadía são laranjas ou sócios na lavagem de dinheiro. Qualquer que seja a opção, a 6ª Vara Federal de São Paulo decretou a prisão de 16 supostos empresários, dez dos quais são brasileiros -a suspeita é que os outros seis sejam colombianos. Todos são acusados de ajudar a lavar dinheiro para o traficante.
A maior das empresas acusadas pela PF de lavar dinheiro para o traficante é a Jet Pilot do Brasil, uma revendedora de jet-skis e quadriciclos localizada na avenida Bandeirantes, na zona sul de São Paulo. Seu capital declarado é de R$ 500 mil.
A segunda empresa no ranking das que têm capital mais elevado (R$ 300 mil), a Empreendimentos Espanobrasileiros, fica em Curitiba. Dedica-se a um ramo suspeito de ser usado para lavagem: presta assessoria internacional para investimentos e intermedeia importação e exportação.
Só um dos empresários presos junto com Abadía tinha um passado ligado ao narcotráfico. Julio Cesar de Oliveira é alvo de um inquérito em Goiás, aberto em 2005, no qual é acusado de ter transportado 450 kg de cocaína. Julio aparece como sócio na empresa Piscicultura São Francisco de Assis, que aparece como integrante do esquema de lavagem do traficante.
Outro sócio da Piscicultura São Francisco, o piloto de aviões gaúcho André Luiz Teles Barcellos, é o parceiro mais freqüente de Abadía. Ele aparece como sócio em quatro das 16 empresas acusadas de lavagem -todas tiveram os valores de suas contas bancárias bloqueados por decisão da Justiça Federal de São Paulo. Além da piscicultura, André é sócio da Barcelos e Mostardeiro Comércio e Importação, Compujet Informática e Mostardeiro & Barcellos Indústria e Comércio de Café, Cereais e Bebidas.
A PF prendeu André, sua mulher (Elaine Mostardeiro Barcellos) e seu filho (André Mostardeiro Barcellos).
Não é a primeira vez que o piloto gaúcho aparece numa investigação sobre narcotráfico. Em novembro de 2005, a PF prendeu Milsivan Chavier dos Santos, conhecido como Parceirinho, numa pista clandestina em Santana do Araguaia (PA) com 57 quilos de cocaína.
Segundo a PF, foi André quem forneceu as coordenadas da pista. Na época, ele não foi denunciado formalmente.
Segundo o empresário Valter de Paula, 50, proprietário da Planavel Peças e Manutenção de Aeronaves, André procurou-o no primeiro semestre de 2006 para comprar um hangar no Campo de Marte para montar uma empresa de táxi aéreo. O piloto tem um bimotor.

Outro lado
O gerente da Jet Pilot, Gilberto Trindade, diz que a empresa trocou de mãos em março e nesta nova fase nunca fez negócios com Abadía.
Ana Maria Rica, mulher de Antônio Marcos Ayres da Fonseca, acusado de lavar dinheiro por meio de duas lojas de veículos e uma empresa de blindagem, diz que ele só vendeu quatro carros nacionais para Abadía. "Meu marido não conhece esse traficante. Somos pobres, temos uma loja pequena."
A Folha não conseguiu localizar advogados ou familiares dos outros empresários presos.
O telefone de Guaíba (RS) registrado em nome de André Luiz Telles Barcelos não pode ser divulgado, segundo a Brasil Telecom. (MARIO CESAR CARVALHO, RUBENS VALENTE E KLEBER TOMAZ)

Texto Anterior: Traficante preso já preparava nova fuga
Próximo Texto: Em passeios pelo condomínio de luxo, Abadía usava gorro até em pleno verão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.